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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

VERGONHA, UM SENTIMENTO FORA DE MODA

Até algumas décadas atrás, as pessoas quando faziam qualquer coisa, elas pensavam nas consequências dos seus atos, para que outros não fizessem um julgamento adverso que fosse considerado vergonhoso. Se fosse então algo que instilasse a reprimenda e o clamor público, era logo afastado por vergonha. Mesmo que terceiros, pessoas próximas, amigos ou parentes  fizessem alguma coisa que ferisse os brios público, a pessoa responsável por tais subordinados e que tinha vergonha, assumia a responsabilidade pelo erro e procurava sana-lo da melhor forma possível. Foi assim o que aconteceu com um dos mais populares Presidentes da República. Getúlio Vargas, ao ver e constatar os atos vergonhosos praticado por um de seus assessores particular, tirou a sua própria vida. Os tempos mudaram. Políticos não têm um pingo de vergonha ao lidar com o dinheiro público e mesmo quando pegos em flagrante delito, tentam apenas se justificar. Não têm o mínimo pudor de colocarem dinheiro roubado em meias, cueca e ainda são visto orando a Deus, pedindo que os proteja nas suas falcatruas. O que antes era um caso vergonhoso e procuravam até encobrir, hoje enche de orgulho os seus praticantes e seus parentes. O que era feito as escondidas hoje é feito as claras, sem nenhum pudor. Outro dia, estava como de costume caminhando pela manhã, quando um conhecido se aproximou e passamos a caminhar juntos. Na verdade ele aproveitou aquele momento para desabafar o que consumia sua alma. Disse que estava muito decepcionado com as pessoas, pois sua companheira o havia traído com o seu melhor amigo, dentro de sua própria casa, enquanto ele dormia por conta da ingestão de  excesso de bebida alcoólica. A sua bronca maior não era contra o seu mui "amigo" e sim contra a sua companheira que segundo ele, antes mesmo daquele fato, já  havia sido flagrada com flash e tudo, beijando um outro cidadão no centro da cidade, de imediato sacou do bolso e me mostrou a foto que comprovava o episódio. E passou a deslanchar contra ela uma série de acusações de comportamento escabrosos e levianos, que jogavam na lama a sua reputação de mulher honesta. Passado uns três meses, volto a encontrar este conhecido que me anuncia ter se casado. Surpreso, eu pergunto quem era agora a felizarda noiva. Ele me disse: - Aquela minha companheira. Diante da minha perplexidade, ele vai logo dizendo. - Descobri que aquilo que falavam dela era tudo mentira, ela me deu todas as explicações e eu entendi direito as coisas. Como prova de que eu acreditei na sua versão e não nas fofocas, resolvi me casar. Um pouco acabrunhado, lhe dei parabéns. Era a única coisa que podia fazer naquele momento. Depois de nos separarmos, fiquei intrigado pensando...Ele me havia fornecido detalhes do mau comportamento de sua companheira. Haviam tirados fotos dela beijando outro cara, o que eu mesmo vi e agora ele dizia que era tudo mentira. E ainda a promovera de companheira a esposa. Bom, cada um sabe de suas necessidades e carência e não sou eu que  vai dizer como ele deva ou não agir. Só achei estranho o fato de que depois de queimar completamente o filme da sua atual esposa, como ele poderia encarar as pessoas sabedoras do fato? Achei, esta é minha opinião, uma "baita" falta de vergonha. Tem pessoas que por amor, mais precisamente por paixão, ficam cegas. Mas cada um sabe onde o calo aperta. Embora com nuances diferentes e menos dramaticidade vemos casos parecidos de pessoas que ao se separarem imputam a seu cônjuge, namorado ou outra forma de relacionamento um comportamento totalmente desairoso, ruim, e passado algum tempo, quando vemos lá está o casal no maior "love", como se nada tivesse ocorrido. As vezes somos até instados a dar a nossa opinião para ajudar aquela pessoa naquela fase de transição, quando na verdade o que ela quer mesmo é apenas uma palavra para a ajudar a reconciliação. Nunca houve de verdade um rompimento, apenas uma pausa estratégica. O rompimento só se consuma no coração, não em palavras, enquanto naquele orgão houver alguma ligação, não há rompimento. Tolamente as vezes nós endossamos algum comentário desfavorável a outra pessoa, o que fica completamente prejudicado pela situação posterior dos envolvidos. Enquanto a pessoa não tiver maturidade suficiente, pudor e principalmente amor próprio, vai se comportar de maneira incoerente, tendo o estigma de ser sem vergonha, o que as vezes não deixa de ser verdade. Mas no amor ou na falta deste, como dizia o síndico Tim Maia :- "VALE TUDO"!!!

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

FELIZ FOI O ANO QUE PASSOU !

Toda vez que alguém fala em feliz ano velho, me vem a lembrança a história do Marcelo Rubens Paiva, que de uma hora para outra teve a sua vida completamente revirada entre o fim e o início de um ano. Mas isto acontece com uma enorme frequência e não vira livro e nem filme. Por exemplo, numa  recente virada de ano, havia uma linda pousada na Ilha Grande-RJ, um lugar paradisíaco, onde várias pessoas foram curtir as festas de fim de ano. A maioria dos hóspedes tinham acabado de se recolher em seus quartos, depois de uma noite de brindes e confraternizações pela chegada de um ano novo, quando de repente enormes pedras começaram a descer montanha abaixo, carregando com elas árvores e muita terra, atingindo em cheio a pousada, que por conta disto, boa parte foi parar no mar, matando várias pessoas  e entre estas estava, a linda e jovem filha do proprietário da pousada e alguns de seus amigos. Todos os que morreram tinham acabado de dar boas vindas ao novo ano que se iniciava e que para eles durou apenas poucas horas. Sim, também o foi para milhares de pessoas no Haiti que pereceram logo nos primeiros dias de janeiro de 2011, após um grande terremoto que atingiu aquela ilha. Um ano que começa é uma incógnita. Não temos qualquer garantia de sucesso ou de permanecermos vivo, junto com os nossos familiares e amigos. Tudo pode acontecer. Há apenas uma expectativa de que algumas coisas que deram errado no ano anterior, possamos ter melhor sucesso no ano que se inicia, com talvez uma nova maneira de agirmos, ou atuarmos, um novo enfoque. Mas nada garante que vá acontecer como planejamos. Tudo pode mudar para bem pior do que aconteceu no ano que se finda. Pode aparecer uma doença grave, a perda do emprego, de uma boa amizade, a perda de um ente querido, o fim de um relacionamento, tudo é possível inclusive a nossa morte. Embora muitas pessoas possam conseguir ter uma melhora bastante significativa em suas vidas no ano novo, e este seja realmente um ano excepcional, não significa que todos vão de uma forma ou outra ter tal sucesso. As coisas que se apresentam no horizonte logo á frente,  não são nada agradáveis, são bem sombrias, como um espectro que perturba nosso sonho. Aqui, na região serrana do Rio onde resido, mais de mil pessoas que tinham acabado de entrar no ano novo, vieram a falecer com as chuvas torrenciais que fizeram desmoronar até prédios. Mas não é por causa disto, que vamos nos deixar abater e ser pessimistas, devemos apesar de tudo, achar que no nosso caso podemos ter alguma melhora, o que não devemos é criar expectativas irrealistas, de que tudo vai dar certo no ano novo,  pois pode haver muita decepção e a não concretização das coisas desejadas. O ponto que queremos destacar é: se conseguimos chegar ao final deste ano, vivos, com saúde, na companhia de pessoas amadas e bom amigos, tendo um trabalho para nos sustentar, sem grandes perdas, ele pode ser considerado um ano muito feliz. O próximo, a sabedoria prática nos manda ter cautela, reservas, para não festejarmos o desconhecido, o imponderado e imprevisível que pode nos sobrevir, sem nenhum controle de nossa parte.....Faltam alguns momentos... Ufa! conseguimos chegar ao fim deste ano... vivos..., com saúde..., sem grandes perdas e alguns poucos mais sinceros amigos, então pode-se dizer com toda propriedade que o ano que se finda, apesar de tudo foi um ano feliz! Faltaram algumas coisas que havíamos planejado para ele mas tudo bem, não se pode ter todas  as coisas mesmo, ainda mais numa época de vacas magras.

Apenas um pequeno lembrete: O ano que está prestes a se iniciar não é o festejado 2016 e sim corretamente o ainda 2015, isto porque os romanos, desconheciam o número zero como início de contagem e já começaram com o ano I, o que matematicamente é incorreto, isto porque tudo começa com zero, o ano I só se concretizaria 12 meses depois, com isto em conta, há um crasso erro na nossa contagem em um ano a mais. Portanto se você acha que ainda deve festejar, que o faça, não ao 2016 que ainda está no futuro e sim ao 2015 que é o que vai se iniciar. 

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

PROCURANDO ENTENDER O UNIVERSO FEMININO

Há uns dias atrás, uma conhecida me contou que estava lendo um livro cujo título era: "Os homens são de Marte, as mulheres são de Vênus", segundo ela, o autor procura demonstrar que homens e mulheres diferem em todas as áreas de sua vida. De fato, homens e mulheres se diferem em vários campos. Mas é justamente nas diferenças que reside a beleza do ser humano, não importando isto que haja um total conflito de interesses. Elas, as mulheres nos completam como um encaixe perfeito. Naquilo que temos carência, elas se sobrepõe e nos ajudam a ficarmos fortes, completos. Nós homens, precisamos deixar de sermos hipócritas e despertar para a realidade de como devemos enxergar o sexo feminino. Poucos de nós reconhecemos ou damos o devido valor de que sem elas não conseguimos viver. Somos completamente dependentes do seu afeto. Precisamos delas para perpetuar o nosso sobre-nome. O mundo fica mais doce quando elas estão por perto. Muitos de nós  homens ainda trazemos o ranço de que lugar de mulher é na cozinha ou cuidando da casa  e da família. Quando no trânsito vemos algum "barbeiro" logo dizemos que é alguma mulher que está atrás do volante. Quando constatamos que é um homem o tal mau motorista, dizemos que ele dirige igual a uma mulher. Por estes e outros preconceituosos comentários eu mesmo reconheço a "mea culpa". Sempre imputamos ao sexo chamado de "frágil" as mazelas da vida, quando na verdade e na maioria dos casos nós varões é que somos os vilões. Infelizmente por tantos anos de repressão e tratamento injusto, muitas mulheres foram á luta para desmistificar tais conceitos. Muitas foram ao extremo de quererem ser iguais aos homens, nivelando-se por baixo, naquilo que era a nossa fraqueza ou lado ruim, qual seja de sermos a maioria infiéis, falta de respeito para com as virtudes do casamento, elas não só procuraram copiar mas excederam na sua ânsia de imitarem os homens. Com isto, as mulheres que antes ficavam na defensiva e tinham uma atitude totalmente passiva na relação com os homens, partiram para o ataque, como se fossem caçadoras e não como deviam sempre ser, objetos valiosos a serem conquistados. Ao inverterem-se os papéis, hoje muitos de nós homens as vezes nos sentimos acuados, tendo até de provar que tal atitude não tem nada de "gay", o fato de não aceitarmos tal assédio ou proposta explícita. Com isto sumiu o romantismos que antes existia como parte do jogo da conquista feminina. Também desapareceu ou ficou fora de moda o cavalheirismo. Já vai longe o tempo, em que nós homens nos esmerávamos  em atos tais como: abrir  a porta do carro, puxar a cadeira em restaurantes, ceder lugar em condução e outros. Hoje, as mulheres que saem com seus acompanhantes masculinos, racham ou pagam toda a despesa coisa impossível de se imaginar a poucas décadas atrás. As mulheres naquele tempo, só levavam as suas bolsas com coisas femininas e nada mais. As mulheres estão se esquecendo da grande arma que possuem que é serem elas os alvos da conquista e da sedução. Gostaria eu, que as mulheres que a cada dia ficam mais bonitas e sedutoras, voltassem a ser como eram antigamente: femininas, delicadas, vasos valiosíssimos de porcelana chinesa, verdadeiras musas inspiradoras de poetas e não como muitas são hoje, com excesso de testosterona em seus corpos másculos e aquela voz áspera. Lembrem-se de que muitas guerras foram travadas por causa de vocês mulheres, muitos reinos foram conquistados por conta vocês, muitas cabeças rolaram por sua causa, por favor continuem a ser este tipo de pessoa tão admiradas e necessária. Não acho que John Gray tenha captado de forma correta a origem tanto de homens como de mulheres. Não me situo como vindo de Marte. Tenho a  sensibilidade  de estar mais perto de Vênus, embora todos nós, homens e mulheres, somos feitos do mesmo barro aqui da Terra. Procuro compreender o universo feminino, com um olhar benévolo, sabendo das suas enormes dificuldades por conta dos preconceitos e dos seus ciclos mensais em que muitas nesta ocasião, descem ao fundo do poço. Fico quieto, calmo, esperando que elas próprias, com sua garra, tal como uma Fênix, renasçam lindamente e encham nosso mundo de cores exuberantes e da mais pura alegria. Meus parabéns pra vocês, mulheres do meu mundo.          

AH! O AMOR...ÊSSE SENTIMENTO INCRÍVEL

Quando eu era hippie, o lema básico era "make love, not war". A frase criada por Gershon Legman ativista contrário a guerra do Vietnam, serviu de slogan para o movimento da contracultura americana dos anos sessenta, bem como a revolução sexual. Sim, a ordem era fazer amor para se opor a guerra. Esta ordem de fazer amor tem uma conotação diferente da de "se ter amor ou amar". Esta mais ligado ao amor "eros" ou romântico,  que tem a ver com sexo. Ainda hoje, as pessoas confundem amor, com sexo. São coisas que podem estar diametralmente opostas, ou seja alguém pode fazer sexo sem ter amor ou pode amar, sem fazer sexo. Sendo assim, o que é este tipo de "amor" diferente que pode existir, entre um homem e uma mulher, sem que necessariamente haja sexo? O amor verdadeiro entre um homem e uma mulher é algo muito sublime, envolve os sentimentos mais nobres da pessoa em relação ao objeto do seu amor. A pessoa que está amando tem os seus sentidos voltados para o ser amado. Tudo nela é feito com a intenção de agrada-lo. Os pensamentos, as ações e os sentimentos íntimos são todos carreados para a pessoa a que se ama. Aquele que está amando vive em estado de graça, vendo o mundo de uma forma totalmente diferente, colorida, onde tudo é belo, a vida se transforma num mar de rosas. Se aquele que ama for correspondido no seu amor, atinge-se ao ápice. É a fase do encantamento, do só vou se você for. É muito gratificante quando se ama e é amado. Nada supera em grau de felicidade, quando isto ocorre. Infelizmente em muitos casos quando se chega ao ponto mais elevado da forma do amor romântico, existem nuvens negras que podem até destruir o amor alcançado. São sentimentos negativos que roubam a felicidade. Um desses sentimentos é a perda do equilíbrio do amor por um ou ambos. O amor se torna tão forte que vira uma paixão. Embora muitos casais desejem ficar apaixonados um pelo outro, tal situação pode levar rapidamente ao fim do amor. A paixão é como um fogo que precisa ser consumida e quando isto acontece, o amor acaba. Todas paixões avassaladoras não perduram por muito tempo, logo vem a saturação, porque ninguém aguenta ficar em êxtase o tempo integral, há de haver uma pausa ou descanso. O ser apaixonado fica cego não vendo o óbvio que todos os que estão de fora veem. O amor verdadeiro é equilibrado e enxerga os defeitos que todo o ser humano possui. Não vive fora da realidade, esperando a perfeição de comportamento do ser amado, reconhece que ninguém é perfeito assim como ele próprio não o é. Um outro sentimento negativo que destrói o amor é o ciúme doentio. Ter um ciúme saudável, demonstra preocupação e interesse pelo ser amado e é uma das provas do amor. Agora, o ciúme doentio é destruidor do amor. Este tipo de ciúme demonstra total falta de confiança no ser amado. Não acredita nas suas justificativas por mais que sejam verdadeiras. A pessoa tem que sempre estar tentando provar que não fez isto ou aquilo. Depois desta verdadeira inquisição e comprovada a inocência, vem aquela frase famosa da pessoa arrependida pela desconfiança infundada que é: "mas eu te amo", o que não significa a verdade senão não agiria assim. Promessas feitas de mudanças mas nada muda, a desconfiança só cresce com o passar do tempo. A pessoa ciumenta do tipo obsessivo não respeita os limites naturais de privacidade da outra pessoa tentando controlar todo o seu ser e a sua individualidade. Se pudesse controlaria até os pensamentos da outra pessoa. A pessoa assim, não encontrando falhas no outro, engendra coisas torpes só para justificar o seu comportamento e dizer que estava com razão. É uma pessoa totalmente infeliz e doente, que faz adoecer o ser amado; que não confia em ninguém, vendo coisas ou tirando conclusões que certamente acabam com o amor que um dia existiu, por maior que este tenha sido. Chega a ser um pesadelo aquele que vive tal "amor ciumento". Possuir tal tipo de ciúme é próprio de uma pessoa passional, que pode em nome do "amor" cometer uma loucura que é matar o ser objeto de sua paixão desvairada. Somente o amor verdadeiro, equilibrado, livre destas coisas negativas pode permanecer, fazendo com que os enamorados vivam um romance eterno, tranquilo, o que acontece só num bom casamento, que é a forma correta do envolvimento de duas pessoas que se amam, onde não há dores de consciência por um comportamento errado, que usurpa o direito do outro. Que um dia, eu, você e todos nós possamos viver tal tipo de amor incrível, pois merecemos isso.    

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

PONDO O DEDO NA FERIDA

De vez quando nos machucamos, seja por algum descuido, seja por essas coisas que acontecem independente de nossa vontade e quando vemos temos um grande ferimento no corpo.Quase sempre quando temos uma parte lesionada é aí que nossos amigos ou outras pessoas cismam de tocar a mão ou um dedo, agravando a nossa dor. Desculpas pedidas e aceitas, por desconhecerem eles o nosso machucado, mesmo assim por algum tempo padecemos os males daquele toque. De maneira simbólica tanto o nosso eu íntimo como a sociedade em geral sofre de algum ferimento e fica vulnerável a toques, como aquele "calcanhar de aquiles". Só que, longe de ter apenas um grande problema a sociedade sofre de inúmeros males. O nosso planeta tem problemas gravíssimos que colocam a sua  sobrevivência em risco. Para ajuda-lo existem várias pessoas e comunidades que se propõe a lutar para minimizar os males, tais como, o Greenpeace, os médicos sem fronteiras, os defensores da Amazônia, das baleias, das tartarugas marinhas, os vigilantes do clima, os ambientalistas e até os defensores dos cachorros abandonados. É muito louvável o trabalho destas pessoas, seja de forma individual, seja através de Ong`s., mas ainda assim os problemas pioram e se agravam a cada ano. O ser humano, pior do que muitos animais é que corre o maior  risco de extinção.  Isto porque, o que a sociedade humana sofre é de um tipo de doença qual um câncer já com várias metástases espalhadas pelo corpo inteiro. Estas ajudas que muitos fazem, minorizam os sofrimentos de algum setor mas são remédios apenas paliativos, tais como os chazinhos, são de pouco valor já que  não extirpam o mal. A cura total está fora de nosso alcance e é necessária uma grande cirurgia para extirpa-la . Isto porque, a sede de todos os males está no nosso íntimo. É lá que está a causa. Precisamos erradicar o mal dos nossos corações e isto não conseguimos sozinhos. Embora anelamos o bem, fazemos coisas que demonstram o contrário. Pregamos moralidade mas no fundo somos imorais. Perdemos a coisa básica que é o senso de  VALORES. Já não sabemos o que é certo ou errado, vivemos como que jogados pra lá e pra cá ao sabor de várias filosofias conflitantes. Nós pais, que temos a obrigação de educar os nossos filhos para que eles sejam pessoas de bem e bons cidadãos, não podemos  mais disciplina-los mesmo que de maneira equilibrada e correta, pois se assim o fizermos, poderemos sofrer algum processo por abuso de autoridade, acarretando até a perda da sua tutela. Com isto os nosso filhos não tem mais  limites e o que estamos vendo é uma geração totalmente alienada com respeito a leis, fazendo coisas absurdas em nome de uma liberdade irrestrita. De vez em quando a sociedade se mobiliza para extirpar algum mal localizado, como foi o caso, da expulsão dos bandidos do Complexo do Alemão e outras comunidades. Foi um espetáculo, com manchetes no mundo todo. Enquanto os holofotes da mídia estavam focados lá, vimos vários capitães ou agora coronéis "nascimentos" transformados em heróis da noite pro dia. Mas vimos também alguns excessos. Alguns bandidos, mesmo tendo se entregado espontaneamente eram humilhados e expostos como que troféus numa atitude de total desrespeito pelo ser humano. Nada justifica tal proceder. A perda de valores faz com que nos igualemos a pessoas do mal, fazendo coisas erradas, do ponto de vista moral. Temos de querer e ansiar pela justiça mas não podemos fazer atos injustos, sob pena de cometermos um crime maior, que é fazer justiça pelas nossas próprias mãos. Temos de recobrar os valores perdidos, sob pena de perecermos como pessoas que não merecem mais viver. 

sábado, 25 de dezembro de 2010

PORQUE ALGUNS ESCOLHEM FICAR COM A MENTIRA?


Fica difícil entender porque alguns escolheriam a mentira ao invés da verdade como modo de vida. Vamos aos fatos, porque talvez isto acontece. É celebre a frase de Jesus: "E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará". Muitos a usam de forma a justificar a sua verdade particular, qual seja, a de que ao aparecer a verdade, ela desmascarará a mentira dita por outros, libertando com isto a  pessoa de alegações mentirosas e hipócritas, que detraem a sua imagem. Num sentido mais amplo e que tem a ver com o real significado das palavras de Cristo é: a verdade libertaria as pessoas de ensinos falsos que prendem as pessoas, quais grilhões ou correntes. Para entendermos melhor isto, temos de fazer alguns questionamentos. Primeiro: O que é a verdade? Segundo: Como ela nos liberta? Quando Jesus foi levado preso perante Pôncio Pilatos, ele lhe disse que veio ao mundo para declarar a verdade e este lhe perguntou: - O que é verdade? Sabendo que Pilatos lhe fizera aquela pergunta apenas por perguntar e não como alguém que quer saber a verdade para depois praticá-la, Jesus não lhe respondeu, permaneceu em silêncio. Mas não fez assim com os seus apóstolos e discípulos, ele lhes deu informações detalhadas das verdades acerca de seu Pai celestial, de como conhecê-lo, o que é o Reino de Deus, qual é o propósito da vida e como podemos obtê-la para sempre. Este conjunto de conhecimentos contidos na Bíblia é então tido como VERDADE. Vivemos cercado de mentiras, tida por alguns como "verdades". Alguns ao tomarem conhecimento das verdades puras contidas na palavra de Deus, se libertam dos ensinamentos mentirosos e passam a praticá-lo imediatamente. Outros não. Mesmo já tendo um conhecimento bastante razoável das verdades bíblicas, preferem ficar em cima do muro ou pior ainda pulam para o lado errado, o da mentira. Os que ficam em cima do muro, tem sempre dúvidas, querem encontrar chifre em cabeça de cavalo para justificar a sua indecisão. O unicórnio não existe, é lenda. Não dão um passo para eliminar suas dúvidas. A dúvida alimenta o seu modo de ser, desta forma têm sempre uma desculpa para não tomar uma posição a favor da verdade. Porque se dá isto? Existem alguns fatores. Primeiro: Em contraste com a mentira, a verdade é simples e direta. Não necessita de rodeios, não precisa  dourar a pílula. Muitos não gostam disto, preferem o mistério a elitização do assunto, as respostas simples e diretas da Bíblia, não os satisfazem. Segundo: O tempo de duração. A mentira foi lançada  lá no início da raça humana, por isto da dificuldade de erradicá-la, uma mentira há muito tempo estabelecida passa a ter caráter de "verdade" e é uma luta para destruí-la.  Terceiro: Pessoas influentes e tidas como sábias do ponto de vista humano, quase sempre endossam conceitos mentirosos, por conta disto, muitos  são os que o apoiam, por verem neles como intelectuais, a frente em pensamentos de pessoas normais, verdadeiros formadores de opinião, então o que eles dizem é o "supra sumo da sabedoria". Quarto fator: Tradição. Este conhecimento que passa de geração a outra geração cria "verdades" fazendo com que muitos não questionem o que lhes foi passado pela geração anterior. Dizem: -Nasci assim e vou morrer assim. Isto é uma verdade, se não mudarem as suas opiniões irão morrer mesmo. Existe um provérbio que diz: "só os tolos não mudam". Se me provarem que aquilo que eu acredito é falso, se eu continuar mantendo a mesma opinião e não mudar, sou tolo. Quinto fator: Amizade. Todos nós temos amigos e gostamos de suas amizades, na verdade necessitamos da amizade de amigos verdadeiros e não estamos dispostos a mudar se nossos amigos não aceitarem tais mudanças, preferimos ficar do seu lado e até morrermos do seu lado, a fazermos mudanças que afastem nossos amigos. Pense: se você não mudar,  talvez os seus amigos não vão ter a oportunidade de conhecer a verdade e também de mudarem e com isto  talvez  venham a perder a sua vida. Não seria melhor ganhar a vida junto com seus amigos? Mas se nenhum deles ficarem do meu lado? Com certeza muitos outros amigos sinceros aparecerão, suprindo os que você perdeu, no fundo se isto se der, eles não eram bons amigos. Sexto: Vergonha. Enquanto a mentira é adocicada e tem milhares de seguidores,  a verdade às vezes é acida e poucos estão dispostos a digeri-la. Por conta disto, muitos têm vergonha de dizer que a apoiam,  já que é tão criticada e nem querem ser identificados como a apoiando, mesmo reconhecendo que ali está  a verdade. Estes são alguns fatores que levam muitos a escolher a mentira como modo de vida ao invés da verdade. Não têm coragem de enfrentar os obstáculos, de remar contra a maré, de ser diferente da maioria das pessoas, de estar no caminho estreito que leva a vida. Preferem o modo fácil de viver, sem ter que enfrentar opiniões contrárias, mesmo que encarcerados em ensinos falsos e não na liberdade daqueles que não se acovardam diante da oposição e até mesmo da morte. Jesus disse que os verdadeiros adoradores de seu Pai seriam pessoas odiadas, assim como ele foi até pelos que dizem adorar a Deus. Que você não seja a pessoa que prefere a forma mentirosa de viver, impregnada de ensinos e preceitos pagãos mas que seja a pessoa que ame a verdade que liberta e que um dia possamos viver livre pra sempre de mentiras, já que o Pai da mentira não mais existirá.

domingo, 19 de dezembro de 2010

VIDAS VAZIAS


Num final de semana, quando vinha à noite com minha família de uma festinha, ao parar no sinal da Praça. Demerval Barbosa Moreira em Nova Friburgo, tive a minha atenção despertada pela multidão que se concentrava na Rua Monte Líbano. A maioria dos que lá estavam eram jovens, bem jovens. Ao ouvir as suas risadas e alguns gritos, dava para sentir que estavam bem animados. Muitos portavam garrafas de bebidas alcoólicas. Vendo este quadro, me lembrei dos meus tempos de juventude, quando a vida era uma grande festa e não havia nada que pudesse obscurecer o horizonte. Possuía vigor físico, algum dinheiro e muita disposição para qualquer festa ou programa de embalo. A única coisa que eu estava fora era o uso imoderado de bebidas e de qualquer tipo de droga. Isto porque, eu nunca precisei ficar chapadão para me divertir. Acho um absurdo você não saber o que fez ou o que fizeram com você. Apesar de toda a curtição que podia ter, eu não era feliz. Não encontrava nestes locais amigos verdadeiros ou pessoas que gostaria de privar a amizade para sempre, eram apenas pessoas "da hora". Quando eu vinha para casa, via que quando a euforia e a emoção acabavam, eu me sentia vazio por dentro. Por melhor que fosse a festa e o programa, não sentia nenhuma satisfação,  na verdade era uma grande frustração. Por mais que eu tivesse satisfeito em termos físicos, faltava-me algo que eu, na época, não sabia explicar. Não possuía nenhum objetivo além da diversão e do prazer. A minha vida era vazia, sem conteúdo. Felizmente a tempo, consegui enxergar uma luz no final do túnel e fiz as mudanças necessárias. Ainda gosto de festas e de alguns prazeres que a vida proporciona, não sou nenhum asceta para viver isolado, como num monastério. Mas passei a ser seletivo em tais coisas. Não vivo como se fosse o último dia e queira aproveitar tudo, ou seja, igual aquele pintinho que descobre o lixo e faz a festa. Não quero com isto julgar as outras pessoas que pensam ao contrário e que acham que a vida é curta e deve ser vivida intensamente, sem nenhuma restrição de quem quer que seja. Se isto as fazem completamente felizes, ótimo, que continuem assim. Saibam que este pensamento não é novo, alguns filósofos epicureus já diziam: "comamos e bebamos, pois amanhã morreremos". Estranhamente, muitos dos que vivem assim dizem que são religiosos, que creem em Deus e que Deus está do seu lado. Acham mesmo que, por mais que façam coisas erradas, Deus vai perdoá-las, pois este é o papel de Deus. Com tal pensamento, imaginam que Deus possa ser sempre tolerante e facilmente enganado pela promessa de mudanças. Um raciocínio enganoso e mortífero. Muitos talvez digam: "mas você quando era jovem viveu assim e agora quer nos impedir de aproveitar a juventude" ou "você já foi um incendiário e agora virou  um bombeiro". Sim, eu concordo, mas os tempos eram outros e felizmente houve tempo para a minha mudança. O mundo que agora vivemos não tem muito tempo. Nós estamos vendo isto todos os dias nas manchetes de jornais e em outros meios noticiosos. Não é querer ser fatalista, a tempestade já bate à nossa porta, o ecoar de trovões já perturba nosso sono. O nosso belo planeta não suporta mais tanta destruição e poluição. Por isto, o Criador vai tomar as providências necessárias antes que o homem o destrua.  Nadar numa bela piscina num dia bem quente é muito bom, mas se esta piscina está num navio que está prestes a ir ao fundo do mar não é a hora apropriada para tanto, o melhor é procurar um colete salva vidas e um bote, a piscina não é algo assim vital,  pode ficar para depois, numa outra ocasião. Devemos ficar alertas aos acontecimentos para vermos em que época estamos na corrente do tempo, para  não sermos pegos de surpresa, agindo e vivendo tolamente.   Esquecendo as questões filosóficas do tempo do fim e voltando ao nosso dia a dia. O final do ano esta bem próximo. Pra muitos, agora é o período de grandes festas e encontros em baladas regadas a muitas bebidas alcoólicas, drogas e permissividade. Tais festas não têm nada a ver com o verdadeiro cristianismo e sim com o arqui-inimigo de Deus, que quer fazê-lo crer que você tem direito a isto, você merece aquilo e que você também é filho de Deus e deve aproveitar. Ele só lhe mostra a isca deliciosa e não o enorme anzol que está logo atrás, bem camuflado. Cabe a você escolher o que quer da sua vida:  Se é verdadeira felicidade, alguém para se casar, estas festas não o levará a isto, pois são o lugar errado para a encontrar, agora, se é apenas diversão e satisfação sem limites, sexo sem responsabilidade, falsos amigos, uma vida vazia sem se preocupar com o amanhã, elas são o local ideal. Feita a escolha por esta última, então caia na gandaia e se esbalde de verdade, mas consciente pelo que você optou, sabendo que em tudo se paga um preço, muitas vezes alto demais, já que você está queimando o seu filme. Mesmo assim, desejo um bom engov para você.       

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

A PROPAGANDA ENGANOSA


Nasci com cinquenta e dois centímetros. Dizem que, por algum tempo, fui até maior que outros bebês. Mas até onde vai minha memória, eu sempre fui um pouco menor do que as outras crianças. O meu código genético, não sei se no meu caso chega a ser código, devia ter alguma falha nas instruções para as células que tem a ver com a altura e crescimento e, por isso, ficou reduzido a meros rabiscos. A partir de então, foi uma onda de apelidos que eu fingia não dar a mínima para não pegar. Nem vou relatá-los agora nesta altura do campeonato, porque sei lá se algum cola. Aprendi logo cedo a ter aquelas respostas prontas contra os grandões que queriam infernizar a minha vida, como por exemplo: - Você é grande, mas não é dois; quanto maior a árvore maior o tombo; os grandes perfumes estão em pequenos frascos; tamanho não é documento e outras baboseiras que foram feitas para compensar as nossas desvantagens. Havia algumas compensações. Os galalaus, quando vinham brigar comigo, não usavam pedaços de pau, canivete ou outros acessórios brabos, achando que era até covardia. Vinham sempre na mão. Eu como todo pequeno era abusado e partia de porrete ou outra coisa que podia ser usada para cima deles, que quando viam a minha disposição se mandavam. Agora no que eu ganhava mesmo era no grito. Acho que nesta parte meu DNA se excedeu na informação. Como eu berrava alto e grosso. A minha caixa toraxica até hoje tem sido minha melhor arma de defesa. Uns tempos atrás, eu tinha um escritório com uma sócia no Rio, composto de duas salas. Ela ficava na primeira sala e eu na outra, sem visão do público. Certo dia, então, entrou no escritório um bebum corpulento e começou a gritar e xingar, causando o maior tumulto. Ouvindo aquela balbúrdia, eu dei um berro desses de quebrar vidraças:   - O QUE É QUE ESTÁ ACONTECENDO AÍ? Quando o ébrio ouviu aquela espécie de trovão, imediatamente se calou e se mandou. A minha sócia foi até a minha sala e disse: - Ainda bem que você não apareceu. O cara além de bêbado era enorme, mas deve ter achado que você era igual ou maior que o Hulk. Se ele visse o seu tamanho te enchia de bolacha... Numa outra vez, eu e um descendente de alemão, com um corpo parecendo um armário de seis portas e com  dois metros e dez centímetros, estávamos na tribuna de um salão considerando uma importante revista, a de maior circulação mundial. O quase alemão com aquela vozinha e eu tendo que falar longe do microfone para não dar  microfonia. Terminada a nossa  parte, descemos e um visitante chegou e me disse categoricamente: - Vocês estão com a instalação trocada. Você está com a voz dele e ele com a sua. Vão tratando de trocar... Como é bem sabido, a comunicação é a alma do negócio. Por isto, os marqueteiros se especializam em vender um produto, por potencializar certas coisas e omitir outras. Nem todos se utilizam da propaganda enganosa ou que induza alguém ao erro, mas outros o fazem. Nós mesmos, às vezes, fazemos  isto,  por exemplo, quando temos de fornecer a nossa data de nascimento e queremos omitir a nossa idade,  relatamos apenas o dia e o mês, o ano que é a peça fundamental, silenciamos.  Eu me lembro que, alguns anos atrás, certo jornal vendia horrores só por causa da manchete.  Por exemplo, uma das manchetes marcantes escrita em letras garrafais era: "Cachorro faz mal a moça". Muita gente comprou aquela edição só para ver a notícia do cachorro tarado que havia atacado a jovem. Lá dentro do jornal, em letras bem reduzidas, havia a informação completa de que uma moça passara mal ao comer um cachorro quente. Sim, a propaganda enganosa vende e muito. No meu caso, uma das inúmeras propagandas enganosas que vendo é a minha voz que, por telefone, dá uma falsa informação de quem eu sou de verdade.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

OS DESAFIOS DE UM RÁBULA


O famoso escritor Norman Mailer disse certa vez, que se tornara jornalista e escritor porque não era tão esperto para ser advogado. De fato, para ser um bom advogado é necessário ter uma grande sagacidade para, em momentos desfavoráveis em que não há nada para apoiar sua tese, encontrar meios para tanto. Sim, é preciso às vezes tirar um coelho da cartola para virar o jogo. O bom advogado é aquele que em causas perdidas, ganha. Então, como eu que nunca fui esperto nem mágico poderia sobreviver numa profissão de águias, onde qualquer descuido poderia trazer a derrota para o meu patrocinado? Pensando nestas dificuldades, ao me formar continuei trabalhando num cartório e no banco por algum tempo. Ainda mais que eu não havia praticado como solicitador (hoje estagiário), portanto era um rábula. De vez em quando, alguém me cobrava os esforços que eu fizera para me formar e nada, pois eu continuava exercendo uma função burocrática. Assim, com os brios feridos, resolvi de uma hora para outra me demitir dos dois empregos e encarar os desafios da profissão. Depois de pegar a minha carteira na OAB-RJ passei a advogar, ou mais precisamente a ficar na expectativa de advogar, pois não possuía escritório, clientes e nem prática do ofício. Se com estas coisas já é difícil sobreviver, imagine sem elas e com uma família já constituída para sustentar. Pra não morrer de fome teria de matar um leão todo dia, mesmo quando não houvesse leão pra ser morto. Não ter a segurança dos emprego formais me fez ficar ousado para encarar quaisquer desafios. Não havia caso que me apresentassem que eu não estivesse disposto a resolver, desde que não fossem anti-éticos ou que ferissem a boa moral. Hoje, com a Internet, é fácil fazer consultas e ver como agir neste ou naquele caso, mas há décadas atrás não havia tal ajuda, nem alguém disposto a dar luz a cego. Desta forma, parti para a batalha lutando como se fosse só no braço, sem qualquer habilidade ou instrumento adequado para sair vencedor. Por mais incrível que possa parecer, ou talvez pela extrema necessidade de conseguir dinheiro para comer, nos primeiros embates processuais que funcionei, graças a confiança de pessoas que desconheciam as minhas limitações, saí vencedor e isto se espalhou. Assim, ganhando aqui, perdendo ali, venho tentando construir um nome, não de fama ou sucesso, mas persigo como objetivo básico na minha profissão, ser uma pessoa confiável, já que a maioria das pessoas por desconhecerem as verdades dos fatos, tem na figura do "advogado" como sendo um ser mentiroso e venal, o que para muitos é uma injustiça. Apesar de todas as coisas negativas que existe em qualquer ofício, não me arrependo da profissão que abracei. Sou advogado e gosto de advogar, não por causa de vantagem financeira que nunca tive, se fosse isto não teria saído do Cartório onde poderia chegar a titular do mesmo e estar vivendo nababescamente, mas antes pela oportunidade de ajudar pessoas e fazer amigos, o que tenho granjeado e muito, ao longo destes anos. Quando encontro algum jovem advogado já desanimado com os vários obstáculos e as dificuldades de um judiciário emperrado, lhe digo que espero trabalhar até morrer ou este velho sistema ser substituído por um outro onde não serei mais necessário. A maioria dos que se formam hoje, pensam logo em um cargo público, como promotor ou  Juiz. Tudo bem se esta é a vocação da pessoa, mas a maioria vai por conta da estabilidade. Um certo colega tinha uma frase assim: - JUIZ É O ADVOGADO QUE NÃO DEU CERTO. Nesta profissão há sempre coisas diferentes para você se renovar, se reciclar e aprender. É um eterno aprendizado, pois cada caso é uma experiência única e ímpar. Sei que não sou tão burro, possuo até um pouquinho de inteligência, mas tenho de admitir que existem muitos profissionais mais inteligentes e espertos que eu, por isto não posso me descuidar. Qualquer descuido e toda experiência vai ralo abaixo, numa fragorosa derrota jurídica. Ao me intitular como rábula, não estava pensando em algum nobre como o brilhante Evaristo de Moraes, que antes de ser um advogado legalizado já era um notável prático. Com o termo rábula eu me reportava a alguém inexpressivo e tolo, o que não deixa de ser verdade no meu caso. Mas que isto fique entre nós, pois um dia espero ser do tipo de advogado imaginado por Mailer, um cara bem sagaz.




segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A INOCÊNCIA ROUBADA


A bastante tempo atrás estava passando pela Rua do Rosário, no centro do Rio, quando resolvi parar para fazer um lanche no Bob`s que estava completamente vazio naquele horário. Depois de pedir as minhas coisas preferidas, sentei em uma mesa para desfrutar o meu sanduíche de atum. Mal tinha mordido um pedaço, quando fui abordado por um garoto bem novo com uma caixa, que me perguntou se eu gostaria de dar uma graxa em meus sapatos. A princípio, eu relutei alegando uma desculpa qualquer, mas ele foi insistente dizendo que precisava arrumar dinheiro para ajudar a sua mãe. Após a menção de tal fato e como eu tinha um tempo disponível, aquiesci, mas antes perguntei: - Quanto é? Ele me disse: - Três reais, que naquela época era algum dinheiro. Com este valor fixado, eu concordei e ele começou a efetuar o seu trabalho. Terminado o engraxe, muito embora constatasse que não fora muito bom o serviço, abri a minha carteira e tirei três reais entregando ao  menino, que se recusou a recebê-lo alegando que era treze reais. Eu estava discutindo sobre o valor acordado e o agora cobrado quando, uns cinco garotos maiores chegaram ao local e começaram a dizer, com ar de deboche: - Paga o trabalho do menor doutor. O garoto trabalhou e tem de receber. Notei que dois deles portavam estiletes e os mostrava de forma audaciosa. A lanchonete continuava vazia e sem segurança. Vi então que não possuía outra saída, senão pagar o que me cobravam, mesmo sabendo que era um golpe. Pouco tempo se passou quando estava eu fazendo outro lanche, agora no subsolo do Edifício Garagem Menezes Cortes e um outro menor me consultou sobre a possibilidade de engraxar meus sapatos. Na mesma hora eu disse: - Nem chega perto dos meus pés. Depois que o menino partiu, o garçom da lanchonete ouvindo isto disse: - Está um caso sério. Há uns dias, um senhor que estava lanchando foi abordado por um desses meninos e concordou em deixá-lo engraxar. Na hora de pagar o menor disse que era vinte e cinco reais, o senhor refutou alegando que era um absurdo, uma graxa daquele jeito não poderia ser mais do que cinco reais. Com esta pendência de valores sendo discutida, outros menores, amigos do menino engraxate, se aproximaram e começaram a ameaçar o senhor. Com isto ele viu que seria mais prudente pagar a extorsão feita. Puxou da carteira os vinte e cinco reais e passou para o menor. Este, ao ver a fragilidade do senhor, disse: - Vinte e cinco reais é para cada pé, os dois são cinquenta reais. O senhor teve de pagar para evitar um mal maior, que poderia até chegar a perda de sua vida, ante a impunidade desses pivetes. O garçom em adição disse: - Eles só não se deram bem com um outro senhor que, quando foi extorquido no valor cobrado, puxou de uma arma e encostando-a na cabeça do menor perguntou: - Quanto é mesmo que você está me cobrando pelo serviço? O menor disse: - Assim não vale doutor e foi embora sem receber nada. São coisas de um país de muitas leis, mas poucos cumpridores, infelizmente a infância anda sendo roubada de diversas maneiras, trabalho escravo as vezes sob a orientação dos próprios pais ou padrastos, que enviam seus filhos para os sinais de transito, vendendo itens para sustentar a família. Outros são adotados pelo tráfico e servem como aviões. Alguns pais, principalmente nas regiões mais pobres vendem suas filhas bem novas, a caminhoneiro e outros homens inescrupulosos. Alguns outros jovens tem a sua infância roubada por pedófilos. Sim, os jovens dos dias de hoje sofrem diversos ataques, que roubam a sua infância e nós temos a obrigação e o dever de defende-los antes que o mal se instale, a fim de evitar que aconteçam casos assim, onde crianças que deveriam estar apenas estudando e brincando, comecem praticando pequenos delitos e antes de entrarem na juventude já praticaram crimes graves, como furtos, assaltos e até mortes, aí já se instalou o mal de forma irreversível, sendo por conta disto, muitos deles mortos quando mal começaram a viver.     

sábado, 11 de dezembro de 2010

UMA VIAGEM PRA SANTOS


Certa ocasião da minha juventude, sem nenhum programa melhor num final de semana, eu e uns amigos que trabalhávamos num cartório resolvemos dar um passeio em Santos, para ver como eram as coisas por lá. Assim, de manhã bem cedo, pegamos a Dutra, pois a BR-101 que vai pelo litoral ainda não estava pronta. Chegamos à capital paulista por volta das 10:00 horas. Na Pauliceia depois de alguns bordejos, resolvemos ir a famosa Rua Augusta, para dar uma olhada e conferir a fama dos carros e motos que por lá transitavam. Um verdadeiro desfile de carrões incrementados, fazendo jus a música do Ronni Cord, "entrei na rua Augusta a 120 por hora".  Depois disso, partimos para o litoral do Estado pela estrada velha. Assim por volta das 13:00, estávamos na estrada perto de Diadema e resolvemos parar e almoçar numa churrascaria. Por ser um dia chuvoso, a churrascaria estava vazia, só havia nós de clientes. Tal churrascaria possuía música ao vivo à noite, pois havia vários instrumentos musicais. Então depois do almoço e de tomarmos algumas caipirinhas, resolvemos ir até o palco onde havia um piano, bateria e outros instrumentos de percussão. Sentei na bateria, De Bonis no piano, meu primo Luiz Carlos e Arilton Campos nos instrumentos de percussão, pandeiro e maracas. Começamos a tirar um som maneiro, com alguns de nós improvisando no vocal, como foi o caso do Antonio De Bonis, já demonstrando toda a sua versatilidade musical, o que se comprovaria mais tarde, ao tornar-se um consagrado diretor de musicais. O dono da churrascaria, ouvindo-nos tocar, foi logo se aproximando e perguntou-nos se não queríamos voltar à noite para tocar alguma coisa e que além de comermos e bebermos de graça, ainda receberíamos uns bons trocados, dependendo apenas da quantidade de pessoas que fossem até lá. Vimos que não era uma má ideia, pois não tínhamos nada a fazer, a não ser conhecer as praias de Santos que por causa do mau tempo não deveriam estar boas. Quando já estávamos resolvidos a voltar à noite para comermos e bebermos de graça e faturarmos algum din din, vi um grande furo num lado do bumbo central da bateria. Curioso, perguntei ao garçom que nos atendia o que causara aquilo. A princípio ele tentou dar algumas desculpas esfarrapadas, mas depois ele me disse que foi durante uma grande briga, inclusive com troca de tiros que houve lá à noite e um dos tiros acertou na bateria. Pra nós foi a gota d`água na nossa dúvida de voltarmos ou não àquele local. Achamos que era melhor irmos para Santos conforme projeto inicial e depois a São Vicente, o que foi feito mesmo debaixo de chuva copiosa, do que voltar àquele local em que nem músico era respeitado e poderia morrer com uma bala perdida, acertando-lhe as partes baixas!!!

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

MEMÓRIAS DE UM CONVERSÍVEL AMARELO







O cinema estava lotado, não porque o filme era um clássico ou um primor de qualidade. A razão do sucesso é que no papel principal atuava o Rei do Rock.  Logo nas primeiras cenas de "A Mulher Que Eu Amo", ele aparece para delírio geral, dirigindo um mini-conversível azul escuro de capota arriada. Aquelas cenas iniciais ficaram indelevelmente marcadas em minha mente, a ponto de ali mesmo, ao sair do cinema, ter decidido que um dia teria um carro daqueles. Alguns anos se passaram desde então, o Rei do Rock fora há tempos substituído pelos quatro garotos de Liverpool, quando um vizinho que estava servindo ao exército me informou que tinha ganho em um sorteio no seu quartel, nada mais nada menos que um MG e como ele necessitava era de dinheiro ofereceu-me para comprar. Fiquei extasiado com a proposta que poderia concretizar aquele meu sonho antigo, pois tal modelo era uma raridade e não se encontrava alguém disposto a vender os poucos existentes no país. No dia seguinte, estávamos no quartel onde ele servia para ver o carro. Foi amor a primeira vista. Aquilo que eu vira no cinema era inferior ao que agora eu constatava ao vivo. Era um belo MG TD 52 amarelo canário, capota e estofamentos pretos e muitas partes bem cromadas, inclusive o radiador e rodas raiadas que cintilavam ao sol. Para maior charme, a sua direção era do lado direito, como eram e ainda são todos os carros  ingleses. Procurei não demonstrar todo o entusiasmo que o veículo me causara, para que o seu preço não ficasse além das minhas possibilidades. O meu vizinho soldado havia ganho o veículo por uma ninharia, pois comprara apenas um dos mil bilhetes vendidos pelo antigo dono do mesmo, um capitão, que naquela ocasião estava ali presente e me falou das alegrias que o carro lhe proporcionara, informando-me ainda que adquirira tal veículo da filha do Embaixador da Inglaterra. Vi que, além da beleza, o conversível tinha pedigree. Para minha alegria, o preço pedido pelo soldado fora bem abaixo do que eu estava disposto a pagar para ter aquele carro dos meus sonhos. O negócio foi fechado ali mesmo no quartel. O problema agora era como dirigir um carro com direção do lado contrário e passar as marchas com a mão esquerda.  Até me acostumar foi bem difícil, mas depois vi até vantagens, pois eu podia encostar ao máximo no meio-fio sem bater nele. Já ultrapassar outro carro sempre foi um problema, pois tinha de colocar todo o veículo na contramão, para se ter visão do tráfego que vinha em sentido contrário; depois eu peguei o macete, que era ter uma boa distância do veículo que ia à frente. Em qualquer lugar que eu ia, o carro causava uma sensação em especial por ser sua direção do lado contrario e várias modelos famosas tiraram fotos apoiadas e até dentro dele, que foram publicadas em revistas da época, como por exemplo numa vez que eu o havia estacionado na Praia do Arpoador. Foram muitas as histórias vividas com aquele amarelinho, contadas por mim em um livro em fase de edição e hoje posso dizer que ele foi um divisor de águas, em termos de amizades e popularidade. O antes e o depois do MG. Infelizmente todo aquele glamour de suas linhas foram banalizadas pela cópia feita pelo MP Lafer. Hoje eu posso dizer que não foi o soldado o premiado naquele sorteio no quartel; com toda certeza eu fui o grande ganhador. 

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

AS INUSITADAS VIAGENS DE TREM SUBURBANO







Antes de existir o metrô, algumas vezes por necessidade ou por ser a melhor opção, eu fiz viagens de trem, quando tive de ir no subúrbio do Rio servido pela Central do Brasil ou pela Leopoldina. Na maioria das vezes aconteceram fatos pitorescos que me vêm a lembrança. Numa ocasião, por causa da greve dos ônibus, eu estava de manhã numa plataforma lotada esperando um trem para ir trabalhar. Depois de um longo período de espera, que só fez aumentar o número de passageiros, chegou aquele bicho comprido de ferro e aço e parou. Só que as suas portas continuavam fechadas, com exceção do vagão que estava a minha frente, que já veio com as portas abertas. Eu era o ponta de lança e fui o primeiro a pisar dentro do trem. A multidão veio logo atrás de mim me empurrando, sem nem me deixar pisar no chão, com isto, não pude me desviar para o interior do trem e acabei entrando de um lado e saindo do outro, vendo o mesmo partir e eu ali na plataforma contrária, com cara de bobo, tão desolado que até desisti de ir trabalhar naquele dia. Em outra ocasião, fui visitar num domingo um amigo que morava em Madureira, então ele me falou que estava pensando em ir ao Estádio Mario Filho assistir  Botafogo e Flamengo, me chamando para ir com ele. Ele falou que a melhor condução era irmos de trem. Fomos  para a plataforma e pegamos o parador que, nos dias de jogos, para na estação Maracanã, bem em frente ao estádio. Quando entramos no trem, embora não houvesse lugar para sentar, ele estava vazio, mas a cada estação entrava uma leva de gente, principalmente de torcedores, que nos fazia parecer sardinhas em lata. Depois de algumas estações, fui empurrado para uma parte em que não tinha onde me segurar, pois a chupeta ou alça de ferro que serve para tanto estava com sua mola virada para cima. Por consequência, eu ficava caindo em cima de uma ou de outra pessoa, que reclamavam. De repente, o trem deu uma freada brusca que fez as pessoas se acomodarem, saindo um pouco de onde estavam. Aproveitei aquela oportunidade do espaço que se abriu, dei um  salto e agarrei a tal chupeta, trazendo-a para baixo. Deu certo na subida, só que aconteceu outro problema: o espaço aberto se fechou. Eu não conseguia fazer meus pés chegarem ao chão por mais que eu tentasse. Assim, durante o trajeto de duas estações, eu viajei a bem dizer no alto, em cima das pernas de um brutamontes que chiou bastante, até que eu consegui colocar os pés no chão. Sim, andar de trem lá no subúrbio sempre foi problemático para mim, nunca foi meu forte, por isso resolvi que só iria andar num deles de novo quando houver o prometido trem bala que levará duas horas do Rio até São Paulo. Fora disto andar de trem  no Rio, nunca mais.     

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A VIDA É FEITA DE ESCOLHAS


Bem cedo pela manhã, ao acordarmos já temos de fazer escolhas: continuo ainda na cama descansando mais um pouco ou me levanto logo? Depois de tomarmos banho continuamos a série de escolhas: o que vestir, calçar, o que fazer para o almoço? E por aí vai. Devo começar um regime nesta semana ou deixo para a semana que vem? Sim, a vida é feita de muitas escolhas. A toda hora somos obrigados a decidir sobre coisas triviais do dia a dia, como também sobre coisas complexas e importantes que poderão mudar completamente o rumo de nossas vidas. Esta imensidade de escolhas que temos de fazer todos os dias pode nos estressar. Por isto, em algumas ocasiões, pedimos a ajuda de amigos ou pessoas mais experientes para nos auxiliar a decidir o que fazer. Para complementar, existem psiquiatras, psicólogos e vários livros de auto-ajuda que nos dão alguns conselhos de como devemos nos comportar ao ter que decidir sobre algo. Devemos nos lembrar que, UMA VEZ TOMADA A DECISÃO, A PARTIR DAÍ A RESPONSABILIDADE PELO ERRO OU ACERTO CABE A NÓS E NÃO A ALGUÉM. Sim, não podemos culpar ninguém caso a decisão resulte em erro e foi tomada com base em conselho de outrem. A culpa é e sempre será nossa. Para que haja o máximo de acertos na hora da decisão, levamos em conta a nossa experiência ou a de outras pessoas que passaram pelo mesmo dilema. Quando a decisão é feita com tempo há a oportunidade de se repensar, consultar, discutir e, com isto, a probabilidade de acerto é bem maior, do que quando nos vemos confrontados com o ter de decidir na hora, no ato, sem nenhuma preparação, louvando-se apenas na intuição. Nestas ocasiões, as vezes, fazemos escolhas completamente equivocadas, o que não faríamos se tivéssemos tempo para analisar os fatos. Muitas vezes, mesmo com um tempo razoável para raciocinar, ainda assim podemos decidir errado, isto porque somos humanos, falhos, sujeitos a erros inerentes a raça humana. Também podemos decidir algo como o melhor, mas surge um outro fator alheio à nossa vontade, que é o "acaso". Por exemplo: decidimos ir por uma rua que é o melhor caminho para o nosso destino, mas infelizmente pode acontecer no percurso um acidente ou uma bala perdida e podemos com isto, perder a vida ou ficarmos deficientes para o resto de nossos dias. Outras vezes, esta mesma decisão de ir por algum lugar pode nos levar a encontrar um ótimo emprego ou a encontrar a pessoa certa para vivermos para sempre, mudando completamente a direção de nossas vidas. Isto é puro "acaso" e não o destino, como muitos acham. Sim, a melhor coisa que podemos fazer é cercar-nos de todas as informações possíveis para que as nossas escolhas resultem em benefício nosso e dos que nos cercam, mas se assim mesmo não der certo, não adianta nos culpar por isto, simplesmente devemos compreender que não vemos os fatos de uma forma clara, limpa e perfeita, mas por uma minúscula janela que é a da experiência, uma espécie de espelho retrovisor do passado, que muitas vezes não serve para fatos novos. O mais importante é: NUNCA SE ESQUIVE DE DECIDIR ALGO OU DEIXE QUE OUTROS DECIDAM POR VOCÊ, eles apenas podem fornecer mecanismos e não a própria decisão que deve ser sua, pois QUEM FICA EM CIMA DO MURO, INDECISO, NÃO CONSEGUE NADA, NEM VAI A LUGAR ALGUM.    

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

FOGO NO CABELO NÃO

Muitas vezes nos metemos em confusão por nada, sem nenhum motivo, apenas por causa das circunstâncias. Me lembro de uma situação assim. Após sagrarmos tri-campeões no México e sermos muito bem tratados lá, o Brasil resolveu retribuir tal hospitalidade com um jogo da amizade contra os mexicanos. O jogo foi marcado para a noite no meio da semana no Maracanã. Sem termos programado nada antes, eu e um colega de banco que trabalhava comigo à noite, depois do expediente, resolvemos assistir tal partida, para ver de perto o melhor time de futebol que já tivemos. Estacionamos o carro e fomos comprar ingressos para a arquibancada. Chegamos aos guichês e não havia mais nenhum ingresso, a não ser para a geral que naquela época ainda existia.  Não vimos qualquer cambista vendendo bilhetes. Desistimos então de assistir o jogo e fomos ao local onde havíamos estacionado pegar o carro para irmos para casa assistir pela TV. Chegando lá, vimos que o carro estava cercado de veículos por todo o lado, o que tornava impossível sairmos de lá antes do jogo acabar. Decidimos então que o melhor a fazer era assistirmos o jogo mesmo na geral. Compramos os ingressos e procuramos ficar numa posição que se pudesse ver aquele dream team de Pelé, Tostão e Cia. Na minha frente, a princípio, estava tudo bem, sem nenhum obstáculo, mas depois ficou um sujeito com aquele cabelo black power imitando talvez outro craque da seleção, o Jairzinho, o que me obrigava a ficar de vez em quando pulando para ver direito o jogo. O pessoal da arquibancada não parava de jogar coisas em quem estava na geral. Reclamar era pior. Pois aí sim é que vinha uma chuva de bagaços de laranja, sacos d'água e outros líquidos menos nobres. De vez em quando eu reclamava do black, de que ele estava me atrapalhando ver o jogo, não só pela sua altura como por seu enorme cabelo e ele aí se mexia um pouco e abria espaço para eu continuar assistindo a partida. A chuva de troços continuava a cair solto e nos acertar. Sem que eu soubesse quem  foi o autor, alguém da parte de cima jogou um cigarro aceso no meio do cabelo seco do black; dali a pouco começou a sair uma fumaça e senti um cheiro forte de cabelo queimado. Depois de tirar a guimba acesa de seu cabelo, ele virou-se para trás, olhando fixamente em mim com muita raiva e disse: - Tudo eu aguento, mas FOGO NO CABELO NÃO. Não adiantou dizer que eu não fumava, que deveria ter sido o pessoal da arquibancada, mas ele já partiu pra cima de mim e antes que ele me acertasse um tapa, o jeito foi corrermos para outro local aos trancos e barrancos, no meio daquela enorme massa de gente, perdendo com isto boa parte daquele grande espetáculo, em que mais uma vez saímos vencedores.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

NOS BAILES DA VIDA


Durante alguns anos vivi só de música, tocando saxofone em um conjunto musical onde o baterista era meu pai. Fiz vários bailes em alguns lugares nobres e outros nem tanto e também toquei em algumas rádios, na época só havia Rádios-AM. Dentre os bailes que eu fiz houve alguns inusitados que permanecem até hoje na minha lembrança, vamos então a estes. Certa vez, fomos contratados para tocarmos na Associação dos Surdos e Mudos que ficava no bairro das Laranjeiras no Rio, perto de onde havia a antiga TV Continental. Imaginei: vai ser um dinheiro mole de ganhar; as pessoas são surdas, não vai haver necessidade de grandes esforços para fazer o baile. O mesmo será quase na base dos gestos. Ledo engano. Alguns dos associados, surdos, ouviam alguma coisa e estes é quem davam início as danças. Mas, para eles dançarem era preciso haver uma vibração forte, um som bem alto. Só sei que ao final do baile estávamos estourados e eu com o beiço inchado, necessitando de fazer bochechos na salmoura para melhorar. Numa outra ocasião, fomos tocar na Associação dos Moradores do Jacarezinho que ficava dentro da favela. Os táxis por nós alugados para levar-nos junto com os instrumentos, nos deixava num local um pouco distante, fora da favela, que naquela época não possuía ruas, só vielas. Assim, íamos a pé de onde o táxi nos deixou, carregando os instrumentos até chegarmos ao local do baile, uma  grande  casa  de dois andares. Estávamos lá tocando, quando vimos no fundo do salão uma grande briga, onde se jogava cadeiras, garrafas e outros objetos. Como a música que na ocasião tocávamos era lenta, não sei se um blue ou um samba canção, o presidente do clube foi até a gente e disse para tocarmos um outro tipo de música mais animada, para  que mais pessoas  passassem a dançar e menos  pessoas ficassem envolvidas com a briga que continuava. Na mesma hora demos um corte musical e atacamos de um samba bem agitado, daqueles que não deixam ninguém ficar parado. Estávamos assim tocando animados quando se aproximou do palco um cidadão de porte atlético e perguntou: - Vocês não estão vendo a briga que está acontecendo nos fundos do salão? - Vocês têm que parar de tocar. O presidente do clube ouvindo aquela ordem  para que nós parássemos de tocar nos disse: - Se vocês pararem de tocar, não vão receber ao final  do baile. Algum tempo depois, o troglodita foi mais uma vez até a gente e ameaçou:  - Se continuarem tocando vão levar um tiro cada um. Ficamos perplexos, sem saber o que fazer dali pra frente: Ou ficávamos sem receber nada ou enfrentávamos aquela ameaça de levarmos um tiro. Passado algum tempo, aquele cara que nos havia ameaçado e outros que estavam envolvidos na briga, foram jogados escada abaixo pelos seguranças do clube. O baile continuou normalmente até o final e recebemos o combinado do tesoureiro da Associação. O problema agora era como sair de madrugada daquela favela, andando por aquelas vielas tortas e escuras a pé até chegarmos aos carros, que já deveriam estar nos esperando do lado de fora. O medo de encontrar aqueles que nos havia ameaçado, fazia com que andássemos todos juntos, de olhos e ouvidos atentos a quaisquer movimentos e com passos acelerados, quase correndo. Eu me lembro que ia com a caixa do meu instrumento na frente como se fosse um escudo para me proteger das possíveis balas de um três oitão, única arma disponível naquela época, tão diferente do pesado armamento de hoje. Graças a Deus não houve mais nada e chegamos sãos e salvos nos carros que partiram a toda velocidade. É, músico às vezes passa por situações bem difíceis tocando nos BAILES da VIDA, mesmo assim era muito gratificante, pena que este tempo acabou, durou apenas uns três anos mas foi o suficiente para marcar indelevelmente a minha vida. Meu pai ainda continuou sendo baterista de um conjunto de bossa nova por mais alguns anos, depois também parou de fazer bailes, só tocando na nossa casa, que era como um clube, onde havia bailes quase todo final de semana. GOOD TIME!!!

terça-feira, 30 de novembro de 2010

UMA DÚVIDA ATROZ


Quando garoto não tive uma infância privilegiada, no sentido de ganhar muitos presentes. Poucas foram as vezes em que ganhei brinquedos bons, daqueles de encher e brilhar os olhos de qualquer criança. Na maioria das vezes eram mais coisas necessárias, tais como roupas, sapatos, no máximo uma bola ou algum caminhão de madeira, feito pelas mãos habilidosas de meu pai. Eu compreendia as suas dificuldades e jamais reclamei de não ter aquilo que sonhava. Certo dia, minha mãe recebeu um comunicado de que sua irmã e seu cunhado, donos de um grande armarinho numa cidade fronteiriça com Minas Gerais iriam vir ao Rio para  fazer compras nas ruas da atual Saara e que precisavam de um garoto para ajudá-los no vai e vem dos embrulhos até o seu carro. Fui designado, então, para esta tarefa. Assim, de manhã, eles  passaram por nossa casa e fomos direto para aquelas já movimentadas ruas, estacionando ele o carro, uma brilhante Plymouth preta, na Rua Gonçalves Ledo. Começou-se, então, um eterno vai e vem entre as lojas e o local onde estava o veículo. Eram sacolas enormes, entulhadas de tecidos, roupas e muitas quinquilharias, que quase me faziam sumir debaixo delas. Na hora do almoço, paramos para comer não em restaurantes, mas em pé nos famosos pés sujos, algumas esfihas e quibes porque o meu tio emprestado era natural do Líbano e como tal apreciava essas coisas, ainda mais que eram baratas e também tinham como brinde os refrescos grátis. Já era bem tarde, o carro estava abarrotado de compras e eu bem cansado por tantas idas e vindas, quando ele anunciou o fim das compras e parando numa loja  infantil me fez a proposta de um presente. Fiquei na expectativa de realizar, pelo menos uma vez na vida, o sonho de ter algum bom brinquedo. Então ele disse de supetão: - O que você quer? - UMA MEIA OU UM LENÇO? Fiquei numa dúvida atroz e pensei, ... - qual é o pior? Não cheguei a conclusão, o jeito foi dizer-lhe que não precisava se preocupar, podia deixar para lá. Parece que por causa da minha incerteza quanto ao que ganhar de presente, ele próprio fez a escolha e me deu. Não me lembro hoje com que eu fui premiado, por aquele dia de tantas sacolas pesadas, que eu levava quase que arrastando pela Rua da Alfândega, dado por aquele tio mui amigo e mão aberta.     .

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

TAMANHO É DOCUMENTO


Ao ver e ouvir os tristes relatos  que  aconteceram  no  Rio, com a onda de arrastões, queima de veículos e a invasão policial/militar na Vila Cruzeiro e no Complexo do Alemão, me vem a lembrança de fatos que se passaram na minha juventude, perto desses locais. Certa madrugada, quando eu vinha de uma festa, em um lotação, atual micro-ônibus, abarrotado de adultos e crianças, fomos parados numa blitz pelo pessoal da invernada de Olaria. Havia um grande cerco policial naquela área, porque há alguns dias atrás, o inexpressivo bandido "Cara de Cavalo"  havia matado o famoso detetive Le Cocque, um dos homens de ouro da polícia, assim como o Detetive Perpétuo, Mariel Mariscot e outros. Naquela época, bandido tinha o maior medo e respeito por policial, ainda mais por tais homens e não havia enfrentamento como há hoje. Depois de várias discussões entre policiais e o motorista do lotação, um policial que estava dentro do veículo gritou para todos ouvirem:  - Olha aí, vai todo mundo para a Delegacia. - Quem não tiver documentos vai passar a noite na cadeia. Naquela ocasião, eu estava na companhia de um colega, estudante do colégio militar, mas eu mesmo não estudava, nem trabalhava, vivia apenas de música, tocando saxofone num conjunto de bossa nova, sem possuir documentos de tal atividade, que era a Carteira da Ordem dos Músicos. Fiquei assim, preocupado com a possibilidade de ficar preso. Então, ouvi certas mulheres reclamando de que havia crianças no veículo e que não era justo elas irem de madrugada parar em tal lugar. Diante dos inúmeros pedidos, o tal policial que havia dado a ordem, resolveu ceder e disse finalizando: - Tudo bem, podem descer mas somente as mulheres e as crianças. Vi então uma brecha, pois além do tamanho, não aparentava  ter mais que treze anos. Então,  me abaixei   mais  um  pouco e segurando de leve na barra da saia de uma mulher que ia na minha frente, fui andando no seu encalço, quase colado ao seu corpo, como se fôssemos uma pessoa, só que ela nada percebeu, pois o veículo mais parecia umas sardinhas em lata, de tantas pessoas que levava em pé, naquela madrugada. Assim passei pelo policial, que estava fiscalizando a saída das pessoas, num dos degraus do micro-ônibus, sem nenhum obstáculo. Já na rua, fiquei dando tchauzinho para o meu colega e futuro cadete que continuou no lotação e depois me contou que mesmo com documentos, passou um aperto na Delegacia. É ...TAMANHO É DOCUMENTO

sábado, 27 de novembro de 2010

O HOMEM QUE NÃO SABIA FAZER CONTAS


Nos primeiros anos da entrada em vigor da Lei do Divórcio, fui procurado por um cliente que desejava fazê-lo com base no lapso de tempo de separação. Eu estava patrocinando, assim, o cônjuge varão, que ficou de arranjar as testemunhas para serem arroladas e ouvidas, o que foi providenciado. Na audiência designada, as partes e seus advogados estavam presentes, mas nada das testemunhas chegarem. Como a hora da audiência já havia passado e as testemunhas arroladas não apareciam, o advogado da outra parte viu passando no corredor do Fórum, um conhecido acompanhado de um amigo. Chamou-os para ver se poderiam ficar como testemunhas para comprovar que o casal  já estava separado  há  mais  de dois anos, o que era um fato verdadeiro. Apresentações feitas e pontos controvertidos explicados, as testemunhas e o cônjuge varão encontraram um ponto em comum, que é de gostarem e de jogarem futebol, entabulando-se que  foi  nesta condição que se conheceram num clube e ficaram sabendo da separação. O pregão foi feito alguns minutos após a conversa das testemunhas com o cônjuge virago. Depois da tentativa do Juiz de uma reconciliação e como esta não foi conseguida, passou-se a ouvir as testemunhas substitutas. Assim, a primeira testemunha a ser ouvida foi o amigo do conhecido do advogado e esta  como não  disse que conhecia o casal  há muito tempo, apenas o necessário, não foi muito pressionado  pelo Juiz, nem pelo promotor. A segunda, inquirida, disse que conhecia o varão há mais de dez anos. Fiquei preocupado quando ele alegou tal período tão longo. Aí, o Juiz começou a indagar da testemunha para que ela  fornecesse  elementos de que realmente conhecia o cônjuge varão há tanto tempo. Ela insistia de que tal amizade havia surgido em conversas após os jogos, entre uma cerveja e outra. Isto não satisfazia ao Juiz, que a re-inqueria para que a testemunha fixasse uma data em que começou a amizade de ambos. E a testemunha continuava com suas evasivas alegações, de conversas entre um chopinho e outro, que em  nada respondiam as perguntas feitas. As perguntas passaram a ser mais escrutinadoras e a  testemunha, cada vez mais embaraçada, ficando numa verdadeira saia justa. Não sabendo mais o que  perguntar, o Juiz me passou a palavra para inquirir a testemunha, já que era o advogado do ex-marido que se encarregara de arrolá-la. Como eu havia notado que o ponto comum entre eles era o futebol, então indaguei da testemunha se ele conhecera o cônjuge varão por ocasião das comemorações da conquista do tri-campeonato mundial em 1970. Ora, nós estávamos em 1980, conta fácil, era só pegar a deixa. A testemunha responde enfaticamente: - Não. A minha amizade com o marido aconteceu muitos anos depois da copa de 1970. Com isto, o Juiz viu que a testemunha, além de imprestável, não sabia fazer contas.  Mesmo assim, baseado no depoimento da primeira testemunha e outras provas, o Juiz decretou o divórcio do casal.  Hoje já não precisa fazer qualquer prova do lapso de tempo de separação para se pedir o divórcio. Ora direis, ouvir testemunha falsa é crime, não tenho dúvidas, mas é perdoável quando não há nenhum dano envolvido e foi apenas uma formalidade, que nem é mais necessária, mas não saber fazer as operações básicas de somar ou diminuir deveria  dar cadeia para um homem tão asno.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A MULHER QUE PARAVA O TRÂNSITO


Não muito tempo atrás, recebi um telefonema de um amigo de infância me convidando  para um almoço de confraternização dos que fizeram parte da juventude dos anos sessenta em uma simpática rua sem saída, num subúrbio do Rio. Na data marcada, desci a serra acompanhado de um filho e nora para reencontrar velhos companheiros que eu já não via há quase quarenta anos. Aquela reunião, aquela rua onde eu havia passado parte da minha adolescência, me remeteram para aqueles anos felizes, cheios de sonhos de uma juventude que acreditava poder mudar o mundo, com uma nova filosofia de vida. Depois de conversar com todos, pondo os nossos assuntos em dia, o anfitrião que havia me ligado, o Carlinhos "Leiteiro", numa certa hora, se aproximou da minha mesa quando não havia nenhuma mulher nela e disse: - Vou te contar um segredo de quase quarenta anos atrás. Fiquei curioso e apreensivo, pensando: O que terá este  amigo guardado há tanto tempo? E ele acrescentou: - Se lembra da vez que você deixou o MG comigo, para eu levar pro meu quartel a fim de efetuar um reparo no carburador?  Eu disse que não me lembrava do fato. Prosseguindo ele disse: - Pois é, eu levei o MG pro meu quartel porque havia lá um mecânico muito bom e que realmente deu um jeito no motor do veículo. Em continuação ele disse: - Aí, à noite, quando vinha trazendo o carro para lhe entregar eu percebi no meio do caminho que havia uma fila de carros, que quase paravam e depois prosseguiam. Fiquei curioso, pois não era nenhum engarrafamento. Ao chegar mais perto do ponto onde havia a diminuição de velocidade, vi que a causa disto era uma linda mulher, parada no ponto de ônibus e que causava um alvoroço nos motoristas, que lhe ofereciam carona insistentemente e ela nada. Ao ficar do lado dela e para não ser diferente, lhe ofereci carona também. Ela, ao ver aquele carro conversível amarelo de rodas raiadas, com capota arriada e volante do lado contrário, não titubeou  nem se fez de rogada, foi logo abrindo a porta e se sentando ao meu lado, me fazendo sentir o rei da cocada. Depois das apresentações e alguns papos furados, ela me disse: - Eu gostaria de dirigir este carro. Aí eu fiquei super-preocupado, pois sabia do seu ciúme por ele, mas como a mulher era muito linda, daquelas mesmo de fechar o trânsito, não tive muita força para negar o seu pedido. Antes, porém, procurei uma rua deserta e sem saída em que as chances dela de fazer qualquer bobagem eram mínimas. Localizada a rua, passei as informações das marchas do veículo e de como ela deveria se portar com a direção do lado contrário, como são todos os carros ingleses. Instruções dadas e repetidas, com muitas recomendações, lhe passei a direção e ela saiu em disparada com aquele bólide. Tudo ia bem até chegar ao final da rua, quando ela teve de efetuar a marcha-ré e com toda força ela enfiou a traseira do carro num muro, quase o derrubando. Fiquei estarrecido, não acreditando no que meus olhos viam. O MG estava com a traseira toda amassada. Ela tentou dar algumas explicações, mas eu não a ouvia.  A minha decisão de imediato foi mandá-la embora, pois da forma como aconteceu o acidente, pensei que ela nem deveria ter carteira de habilitação e aí a coisa ficaria mais complicada. Passados os primeiros momentos de terror, vi que o motor ainda estava funcionando e que as rodas, apesar do impacto, não estavam travadas. Assim, saí como um louco daquele local e fui atrás  do Tião "Nove", lanterneiro muito bom, que você deve se lembrar. Aquiesci que sim, com a cabeça. E continuou: - Então localizado o Tião "Nove", supliquei-lhe que trabalhasse a noite toda para consertar o carro. Daí, fui para casa de condução e te procurei dizendo que o carro ainda apresentava problemas de motor, razão porque ficara no quartel, você disse tudo bem sem desconfiar de nada. No outro dia, fui a  oficina  e o  carro  já  estava todo desamassado, sem nenhuma protuberância em sua lataria. O Tião "Nove" era mesmo um martelinho de ouro. Então, fui a São Cristóvão e na Rua Escobar encontrei e comprei as lanternas e a tinta para pintá-lo. À noite, lhe entreguei o veículo sem nenhuma aparência do dano causado por aquela linda, mas desastrada mulher, que se eu pudesse, na ocasião  dos  fatos, teria enforcado de tanta raiva que eu fiquei. Só te conto este episódio agora, por que já se passaram tantos anos e você nem mais possui o MG. Te peço desculpas atrasadas pelo acontecido. Desculpas aceitas, pensei: aquele carrinho ainda me surpreende com fatos que eu nem sabia. É, ele teve histórias .        

sábado, 20 de novembro de 2010

O DIA QUE O CATADOR SACIOU A SUA FOME


Era ainda o verão que começara em mil novecentos e sessenta e nove. Minha mãe havia acordado cedo e estava nos preparativos para o almoço quando, de repente, alguém grita no muro da casa ao lado, num subúrbio do Rio: - Dona Liana, dona Liana. Minha mãe deixa os afazeres na cozinha e sobe até a parte do muro de onde vinha a voz e encontra-se com a Didi, filha da dona Carmelita, que lhe informa que os vizinhos estavam se cotizando para fazerem comida para dar pro seu Olímpio, um catador de lixo que morava próximo, estava desnutrido e precisava de um alimento forte para se restabelecer. Minha mãe concordou em dar algumas coisas, vindo buscar algo em nossa cozinha, ocasião em que me informou dos fatos. Depois disto, me aprontei e parti para a faculdade e depois para o trabalho, tendo retornado quase as 23:00 horas e soube da notícia. Seu Olímpio havia falecido. Após comer mocotó no almoço passou mal e foi levado as pressas para o Hospital Getúlio Vargas, onde ocorreu o óbito. Uma tristeza. Soube então de todo o ocorrido. No dia anterior, ele foi a um posto do SAMDU para ser examinado, devido a uma fraqueza que até o impedia de caminhar. O médico que o atendeu disse para o acompanhante que o mal dele era apenas desnutrição e que ele precisava ser bem alimentado. Daí, alguns vizinhos inexperientes resolveram fazer um mocotó para fortalecê-lo, o que foi demais para quem passara tanta privação alimentar. A vaquinha agora era para fazer o seu funeral. Da história acima, tirei duas conclusões. Primeiro: que muitas vezes fazemos coisas pensando que estamos fazendo um bem, quando na verdade estamos fazendo um grande mal. Segundo: quando temos privação de algo por muito tempo, não se pode de uma hora para outra compensar toda a carência, pois pode ser fatal. A vida é assim mesmo, às vezes passamos várias privações e quando obtemos algo para supri-la, temos de ter equilíbrio e não exagerar na dose. No caso do catador foi isto que ocorreu e a única coisa boa que lhe aconteceu foi que morreu de barriga cheia, satisfeito, coisa que não acontecia há muito tempo. Dizem que morrer de fome é uma morte muito cruel, dolorida e cheia de alucinações, onde o moribundo se vê salivando, comendo muitos pratos apetitosos de encher os olhos. Fico eu remoendo as minhas recordações de um tempo em que a vida apesar de algumas histórias tristes, como a do catador seu Olímpio, era muito boa para mim. É, mas O SONHO ACABOU.... fui na padaria e até la não tinha mais sonho.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A PULSEIRA CRIADORA DE CASO








É muito conhecida a estória do marido que ao chegar em casa encontra sua esposa o traindo no sofá da sala e por conta disto, decide vender tal sofá por ver nele o pomo da discórdia familiar. De vez quando, nós somos partícipes e testemunhas de fatos com uma certa similaridade. Vamos então a minha estória. Na condição de advogado, fui procurado por um cliente que havia apresentado uma queixa-crime contra uma pessoa que havia lhe feito ameaças. Na audiência de conciliação no Juizado Especial Criminal (JECRIM), estavam lá presentes meu cliente (a vítima), o acusado (o marido) e sua esposa (o pivô dos fatos). Indagado, o marido alegou que havia feito tais ameaças a fim de que meu cliente parasse de assediar sua esposa, seja por cartas ou por telefonemas. As partes foram instadas pelo conciliador a agirem de modo civilizado, aconselhando para que meu cliente se abstivesse de dar em cima da mulher do acusado e este parasse de ameaçar meu cliente. Conciliação aceita nestes termos, o marido virou-se para a mulher e disse: - Agora você devolve a pulseira de ouro que ele te deu. Ela, prontamente sacou da bolsa uma pulseirinha e entregou ao seu marido que tentou repassar para o meu cliente, o "Ricardão". Este não quis receber o objeto e disse: - O que eu dei está dado, não quero de volta. Aí ficou um impasse impedindo o acordo e um grande mal-estar pairou no ar. Não vendo outra solução, eu disse: - Me dá esta pulseira e em ato contínuo peguei e coloquei-a  no  bolso, para alegria do conciliador e alívio das partes e o acordo foi firmado. Enquanto assinávamos o acordo do  bom viver, eu remexia o bolso, apalpando a pulseira pra lá e pra cá e falava com os meus botões: - que pulseirinha briguenta e arranjadora de caso, quase que você põe tudo a perder. Depois disto, fui pro escritório e dei a tal pulseira para a  minha secretária, mas a alertei do perigo de ter um objeto "tão perigoso".  É, muitas vezes atribuímos a alguma coisa inanimada a causa da pertubação e da paz quando, na verdade, são os nossos atos ou o que outras pessoas fazem que causam tais problemas e não este ou aquele objeto. Portanto, devemos repensar nossas atitudes antes de agirmos como néscios, culpando algo que não tem nada a ver.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A ERA DO RÁDIO NO INTERIOR







Quando garoto o que me fazia parar de brincar era ao cair da tarde, as novelas transmitidas pelo rádio, do Anjo e depois a do Jerônimo, o Herói do Sertão. Era bala para todo o lado. Cuidado Jerôoonimo! Gritava o Moleque Saci. Também gostava muito de ouvir os programas de auditório, Manoel Barcelos, Paulo Gracindo e, aos sábados, o patrocinado pelas pastilhas Valda. Depois do Rádio ligado, não saía do César de Alencar. Domingo sempre foi um dia ruim em termos musicais, nada havia para se ouvir a não ser o programa de calouros a Hora do Pato, em que Amilton Valim, mesmo sem enxergar, acompanhava ao piano e dava o sinal para a gravação do Moleque Saci (Cauê Filho) brecar os candidatos ruins com o seu quá...quá...quá... O que faltava em música sobrava em vibração à tarde na narração dos jogos de futebol. Os jogos eram uma eterna empolgação na voz do Cozzi e do Curi. Todos queriam ver a roseira do Longras balançar. Era pimba pra todo o lado. A televisão fez a gente ver que a bola não corria tanto como no rádio, uma monotonia às vezes. Bons tempos em que a noite ficávamos ouvindo grandes novelas, como Direito de Nascer, a Hora Sertaneja e programas como Espetáculos Orniex, Tancredo e Trancado e a inesquecível PRK 30. Havia as deliciosas brigas musicais entre Ataulfo Alves e Mirabeau de Oliveira, cada um querendo justificar porque a morena foi embora. Pois é, em vez de duplas tínhamos trios musicais, Iraquitam, Nagô e outros. Todos queriam saber onde o vento escondeu o seu amor. Do Caribe vinha o som contagiante dos mambos e das rumbas, fazendo a gente querer aprender a tocar bongô ou maracas para fazer o acompanhamento. Lembro-me bem de um circo que ficou por um bom período de tempo na cidade e um garoto da trupe, irmão de uma rumbeira, passou a estudar na minha turma no Francisco Varella. Fiz amizade com ele só para poder assistir os ensaios de sua irmã. A vida ia sem pressa, como aquela Maria Fumaça que cortava a estação lá em Bacelar, bem distante da cidade. Tudo isto foi atropelado em 1957 por uma notícia vinda de Baikonur, na voz do locutor do Repórter Esso, de que a Rússia tinha lançado no espaço o seu Sputinik que dava uma volta em torno da terra a cada 80 minutos. Foi o início do fim de um período do rádio ingênuo. Dali para frente a nossa imaginação seria posta de lado pelas coisas vistas. O tempo passou a voar nas asas da boa programação das Rádios, ainda AM, como a JB e as paradas das cores e dos bairros da Rádio Tamoio. Isto porque, pra quem é jovem e tem pressa Hoje é Dia de Rock. Nada mais seria como antes, através das ondas curtas, médias e longas de uma rádio cheia de interferências que fizeram as nossas cabeças e encheram os nossos corações de felicidade.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A RELAÇÃO CUSTO/BENEFÍCIO


Todos os dias somos bombardeados pela mídia no sentido de adquirirmos algum item recém-lançado ou somos induzidos a crer que para sermos felizes precisamos de tal produto. No apelo consumista, os engenhosos publicitários colocam pessoas lindas em ambientes super agradáveis, fazendo a merchandising do produto de tal forma que é difícil resistir a tentação, pois enchem nossos olhos de desejo de obtê-lo. Como as tendências são cada vez mais curtas, em pouco tempo o aparelho que  é de última geração se torna rapidamente obsoleto, assim foi com a TV colorida, depois de PLASMA, LCD, LED, 3D, de 29", 32", 42" 46" e 50" polegadas, o que nos leva a uma roda frenética na ânsia de acompanhar a moda. Já vai longe o tempo em que as bolachas de vinil, os LPs, ficaram décadas no cenário fonográfico.Quase tudo é vendido sem entrada, mas muitas vezes ao adquirirmos algo assim ficamos sem saída. Temos de fazer uma avaliação criteriosa da necessidade real de alguma coisa e quais os seus custos e benefícios. Devemos nos lembrar que A FELICIDADE NÃO PODE SER COMPRADA, MAS A INFELICIDADE SIM. Em tudo na vida existe a relação do binômio custo/ benefício. Não se pode ter algo sem arcar com o seu custo. Infelizmente, na maioria das vezes, nós só olhamos os benefícios sem atentarmos para o verdadeiro custo. Esta visão desfocada da realidade onde só se vê os benefícios sem levar em conta o preço que se paga, também está presente no relacionamento humano, onde uma linda mulher ou um belo rapaz são alvos de cobiça e desejos, que quando consumados, põem o seu investidor, aquele que paga pra ver, em situação bastante deplorável. E aí quase sempre já é tarde, pois ao terminar a fase de encantamento, verifica-se que o embrulho era lindo, mas o conteúdo imprestável, não valia nada. Conta-se que certo homem estava com um lixo repugnante em sua casa e por diversas vezes o colocara na rua para que os lixeiros o levassem e nada, o lixo sempre permanecia na frente da casa e a cada dia se tornava mais insuportável. Então o homem teve uma ideia. Depois de jogar algum desinfetante, embrulhou-o num papel muito bonito e qual não foi a sua surpresa que, antes dos lixeiros passarem, alguém já o havia levado. Sim, às vezes, compramos algo por conta do embrulho e não do conteúdo. Na relação humana muitas vezes o que era  um adocicado meu bem, meu bem, se transforma num áspero meus bens, meus bens. Sempre por detrás de uma apetitosa isca, há um mortífero anzol. Todo o relacionamento baseado apenas na beleza externa tem vida curta, pois a beleza logo se desvanece e o PITELZINHO DE HOJE É A BARANGA OU O BAGULHO BARRIGUDO DE AMANHÃ. Aquela voz melosa e adocicada, cheia de charme de hoje, pode se transformar numa voz rascante, ácida, que você não suportará mais ouvir. Lembre-se: um produto pode ser descartado rápido, enquanto que um relacionamento é mais complicado e sempre traz muitas dores. Certa vez mostrei a um pequeno garoto uma reluzente bola de gude e uma pedra de diamante e perguntei: - Qual delas você quer? Ele não titubeou, rapidamente escolheu e ganhou a bola de gude. Quando somos infantis fazemos escolhas a base da visão e esta, quase sempre, nos engana pois, como bem o disse o escritor do Pequeno Príncipe, O ESSENCIAL É INVISÍVEL AOS OLHOS. Portanto, antes de comprar ou investir em alguém faça uma avaliação correta, veja o que há por trás de sua beleza física, que passa rapidamente para não ser alvo de uma isca, que depois de mordida não perdoa, mata os inexperientes e incautos.