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quarta-feira, 20 de novembro de 2013

SEU CHIQUINHO, MEU PAI

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Chego no hospital Estadual Getúlio Vargas num subúrbio do Rio e me deparo com o meu pai nu, com apenas um lençol branco cobrindo seu corpo frio. Há poucos dias atrás, quando eu o visitara, ele me havia pedido quase suplicando para leva-lo para Friburgo onde moro, a fim de operar o fêmur de sua perna direita que havia quebrado num acidente. Eu estava tomando as providências para a sua transferência para um hospital na minha localidade quando recebo a triste notícia de sua morte, causada em especial por uma infecção hospitalar que havia contraído em tal nosocômio. As lembranças se embaralham e remeto-me para os dias alegres de sua companhia, quando éramos uma família mais que feliz, vivendo numa incrível época na Cidade Maravilhosa. Meu pai que havia sido mecânico de aviões, ajudante de cozinha no Hotel Glória e no Copacabana Palace e depois marceneiro, se tornara baterista e tínhamos um conjunto musical, no qual eu tocava sax alto, Nilo Martins no vocal, viola e baixo, Tiãozinho na guitarra solo, Eduardo no trompete, Paulo da Deise no trombone, Simeão no sax tenor e Vilobaldo no outro sax alto, os oito fazendo muitos bailes por toda a Cidade do Rio e municípios adjacentes. Assim, entre nós não havia só o amor de pai para com filho e vice versa, mas uma genuína amizade entre pessoas que comungam os mesmos gostos e objetivos. Além dos bailes que fazíamos nos clubes e outros locais, a nossa casa por ser grande, era o lugar de ensaio da nossa banda. Desta forma, quando não tínhamos sido contratados para tocar em algum local, o baile era lá em casa, com boa parte da vizinhança comparecendo para balançar o esqueleto ao som de música ao vivo e de graça. O meu pai que era um verdadeiro pé de valsa, nestas ocasiões, quando as músicas já estavam bem ensaiadas e o baile incrementado, deixava algum aprendiz de bateria pegar o seu instrumento e de pronto agarrava de surpresa minha mãe e saia rodopiando com ela pela ampla sala, o que era motivo de muitos aplausos dos vizinhos e alguns até gritavam: - Dá-lhe Chiquinho. Aí é que ele enfeitava o pavão. Meu pai era assim, de uma alegria contagiante, sempre com um sorriso largo em seu rosto, que desanuviava qualquer ambiente sombrio ou negativo. Em toda minha vida, eu não me lembro de vê-lo triste, por pior que estivesse a situação. Era um otimista inveterado, sempre acreditando em dias melhores ou olhando o lado bom das coisas. Há uns quarenta anos atrás se tornou um cristão verdadeiro e passou a levar a sério a ordem do amo Jesus, de que seus seguidores deveriam ir e pregar de graça as boas novas do reino às pessoas, fazendo disto um ministério por tempo quase integral. Isto, longe de roubar a sua alegria, ao contrário lhe infundiu mais felicidade, pois lhe deu um objetivo na vida, tendo uma forte fé na promessa de uma vida eterna aqui mesmo na Terra, para os que se qualificassem como mansos. A vívida esperança da ressurreição dos mortos, o fez suportar com valentia a perda de minha mãe e depois da outra esposa mais nova com quem se casara e que também falecera não muito tempo depois. Volta e meia quando eu relembro o tempo em que tinha meu pai ao meu lado, minhas filhas não se esquecem de falar dos pastéiszinhos de nata que ele sempre fazia como lanche para os intervalos das assembleias e dos congressos a que compareciam. O meu pai sempre foi uma eterna fonte de inspiração para minha vida. Tenho tentado imitá-lo na sua alegria de viver, na sua honradez, no seu apego à família e no seu zelo pelas coisas divinas e espirituais mas sem sucesso, eu reconheço que fico longe do alvo, devido as minhas limitações e deficiências em vários aspectos destas coisas. Fazer o que, Chiquinho Mattos não é sempre que acontece a existência de um ser assim, o máximo que eu posso fazer e me encher de orgulho por ter tido ele por pai. Aguardo ansiosamente o dia em que possa depois de um longo e saudoso abraço, lhe dizer quase chorando: - Que falta você fez meu velho Chico.       

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

QUANDO EU FAZIA FACULDADE: DIAS LUMINOSOS, NOITES TENEBROSAS




Ultimamente tenho lido a postagem de muitos amigos e amigas do face dizendo que passaram no vestibular para alguma faculdade. Todos eles muito contentes com esta perspectiva de que em breve coroarão seus alvos de alcançarem a formação num curso superior e com isto a possibilidade de uma vida melhor. Não posso deixar de compartilhar estes momentos felizes e da alegria que isto traz para estes meus amigos vencedores depois de muitos esforços e dedicação. Comigo aconteceu a mesma coisa. Vindo de uma família pobre, onde meus pais não tiveram a oportunidade de estudarem além do primário, ter conseguido passar num vestibular numa época em que havia poucas faculdades no país, os encheu de orgulho. Foram dias muito felizes para mim, abriu-se uma porta larga através da convivência com colegas de certa cultura e status, a maioria vindo de colégios de renome da Cidade do Rio de Janeiro, como o Andrews, o São Bento, o Santo Inácio e Pedro II entre outros, alem de terem feito cursos pré-vestibular. Eu, ao contrário vinha de um colégio público do interior do Estado e naquele tempo não havia a cota para estudantes de colégios públicos, como há hoje, bem como não havia feito qualquer cursinho. A minha falta de preparo numa boa instituição de ensino, levava alguns ao espanto, pois não entendiam como eu conseguira passar num disputado vestibular e entrar na faculdade. Me lembro como se fosse ontem dos primeiros dias de calouro. Um de meus colegas era da família real dos Orleans e Bragança, assim, no primeiro dia de aula, como trote promovido pelos veteranos, ele foi obrigado a subir na estatua do Marechal Deodoro que ficava na Praça XV bem em frente a Faculdade Cândido Mendes e dar um grito altissonante de "Viva à República". Voltando a primeira aula, ela foi ministrada não pelos professores mas por alunos de uma turma superior, que basicamente nos aterrorizaram. Entre tais pretensos "professores" estava o ex-ministro das Comunicações de Lula, o atual deputado federal, Miro Teixeira, já um polêmico ativista no diretório acadêmico Ruy Barbosa. Na minha turma pelo menos no primeiro ano havia de tudo, desde pessoas vazias como socialites, misses e alguns bons "vivants" da geração dourada de Ipanema a intelectuais, poetas amadores, músicos, líderes estudantis, revolucionários, comunistas declarados e até cantor como era o caso do Zé Rodrix, que nós conhecíamos como Jose Rodrigues do "Momento Quatro" e que naquele ano acompanhou Edu Lobo, na vitoriosa música "Ponteio", do Festival da Record em São Paulo. Na mesma ocasião e faculdade, estudava Economia outro cantor, começando sua brilhante carreira, o Gonzaguinha. Passada a época luminosa do primeiro ano, em que tudo era novo e as boas amizades que logo se construíram, não só nas salas de aulas, mas indo a shows, assistindo peças de teatro ou ouvindo palestras sobre pensamentos e obras de nomes importantes da filosofia da contracultura, como Herbert Marcuse, Marshall Mcluhan, Bertrand Russel e outros, de repente tudo mudou. Um soldado da PM dispara e mata com um tiro no peito, o estudante Edson Luiz no restaurante Calabouço no centro do Rio. Isto foi  como acender o estopim do rastilho que incendiou a cidade e depois o país, em manifestações de protestos e grandes passeatas as quais para serem contidas, desembocaram na instituição do AI-5, que trouxe dias tenebrosos para todos nós. Houve uma repressão brutal, conhecido como "anos de chumbo" e a classe estudantil se tornou uma efervescência em agitação para enfrentar aquela situação. Para os órgãos de repressão, tais como o Dops e o Cenimar, ser estudante de faculdade naquela época era sinônimo de ser comunista. Assim, por diversas vezes o diretório acadêmico da faculdade foi invadido por policiais, que não queriam saber se você era inocente ou não, se estava lá, era comunista e partiam para agressão, distribuindo cacetada a torto e direito. Para defender-se muitos iam para a faculdade, portando além de livros e apostilas, bolas de gude e rolhas de cortiça. Quando a cavalaria da PM invadia a faculdade, eles despejavam as bolas de gudes e cortiças pelo chão e não ficava um cavalo em pé. Foi a época das grandes passeatas, das inúmeras prisões e torturas, dos sequestros de embaixadores, das fugas para o exílio, da troca de sequestrados por presos políticos, das muitas mortes e sumiço dos corpos que até hoje estão sendo procurado pelas famílias enlutadas. Sim, fazer uma faculdade na minha época foi à principio, dias muito felizes pelo companheirismo e aprendizado que me trouxe mas que se transformaram em noites tenebrosas, com alguns de meus colegas de faculdade sumindo para sempre, sem que se saiba ao certo o que de fato lhes aconteceu. Com o passar dos anos, os meus pensamentos e as minhas atitudes mudaram, não acredito mas em reformas feitas por homens imperfeitos, pois muitos deles que lutavam por causas nobres agora estão presos por falcatruas e corrupção, hoje o meu projeto de vida é outro mais abrangente, tem a ver não apenas com um único país mas todo o planeta, por isto tem de vir de uma fonte superior a humana. Desejo que os amigos e amigas, futuros novos estudantes de faculdade, só venham a ter pela frente dias felizes, luminosos e que os dias ruins que eu vivi, fiquem lá no passado, violência e tortura NUNCA MAIS.             

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

SORRIA, VOCÊ ESTÁ NA BARRA





Há pouco tempo atrás estreou nos cinemas, o belo documentário de Izabel Jaguaribe com o título acima, em que ela mostra a Barra da Tijuca, bairro localizado na zona oeste do Rio, como um local privilegiado da Cidade Maravilhosa, seja pelas inúmeras praias, cercada de majestosas montanhas com muito verde, bela ilha, lindas lagoas, seja pelos grandes shoppings, várias casas de espetáculos, redes de cinema e mercados, condomínios com lindas mansões e que abriga pessoas de todos os tipos e tribos sem nenhuma discriminação. Mas isto nem sempre foi assim, até poucos anos atrás a Barra da Tijuca era um bairro de difícil acesso, serpenteado de altas montanhas, separado por muitas lagoas e um vasto areal. Assim, era uma verdadeira aventura chegar até lá e muitas famílias a escolhiam para passar o dia fazendo piqueniques de- baixo das várias amendoeiras que lá existiam. Hoje não, a Barra da Tijuca é um local exuberante e vibrante de fácil acesso que tem de tudo, bem parecida com a americana Miami. Os moradores da Barra, se quiserem não precisam sair dela para nada. O seu crescimento que começou na década de sessenta, atingiu um boom na década seguinte e hoje é o local de maior expansão imobiliária da cidade. Os governos municipal, estadual e até federal tem investido bastante na infra-estritura do bairro, visando a copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016, já que além da vila olímpica, muitos eventos irão ocorrer lá. Você passa pela Barra e é obras para todo o lado, sua paisagem está em constante mutação por conta disto. São a implementação de vias e instalações de inúmeras terminais dos ônibus da BRT, conhecidos como "Ligeirão", a grande obra de construção da Trans-Carioca que vai ligar a Barra da Tijuca a Ilha do Governador, onde se localiza o Aeroporto Internacional Tom Jobim, o complexo conhecido como a Cidade das Artes antiga Cidade da Musica. Também já em funcionamento, o túnel que liga a extensão natural da Barra que é o Recreio dos Bandeirantes à Barra de Guaratiba, caminho anteriormente longo feito pela serra e que agora leva poucos minutos em ser transposto. Infelizmente mesmo num lugar paradisíaco como é a Barra da Tijuca, há lagrimas de pesar e desespero. O título do link acima, não teve a mesma conotação de alegria e felicidade por se chegar a um aprazível lugar, para uma moradora da Barra, isto há uns cinco anos atrás. Tal fato aconteceu com a engenheira Patricia Amieiro, que vinha de madrugada no volante de seu carro, após assistir um show no Morro da Urca. Assim, depois de atravessar o Túnel do Joá, último obstáculo antes de chegar a Barra, ela se deparou com a placa mandando-a sorrir por já estar na Barra o que talvez, naquele momento ela tivesse pensado, daqui à pouco minutos vou estar segura em casa. Neste exato instante ela foi alvo de uma rajada de tiros, vindo por conta disto seu carro cair desgovernado na Lagoa de Marapendi, bem perto da guarita do Posto da PM, fazendo com que os PMs que estavam de plantão naquela madrugada, se tornassem os principais suspeitos pela sua possível morte. Seu carro foi encontrado alguns dias depois com marcas de balas, mas seu corpo até hoje não foi localizado e continua sumido, deixando seus parentes e amigos em dúvidas, sobre o que realmente aconteceu com a ainda bem nova e bela engenheira Patricia, que não pôde endossar o coro de todos que ali chegam: SORRIA, VOCÊ  ESTÁ NA BARRA.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

DESEJAS PRA TI UM PRÍNCIPE? ENTÃO, AJAS COMO UMA PRINCESA


Parece que todas as meninas sonham com um príncipe encantado que as livrará um dia, de uma vida medíocre, de um pai algoz e de outros problemas familiares. Depois ao crescer e se tornar mocinha, as suas exigências vão sendo menores e se adaptando a sua realidade. Não precisa necessariamente ser um príncipe encantado, basta ser alguém de sentimentos nobres tais como um príncipe, alguém que lhe assegure um futuro mais tranquilo. Alguns anos mais tarde, já totalmente descrente dos homens, ela aceita qualquer um, até mesmo aquele habitante de lagoas e brejos. Esta tem sido a dura realidade que muitas mulheres tem enfrentado na busca de um parceiro que as possa fazer feliz na companhia de filhos e de uma vida confortável. Mas em contrapartida como tem se portado aquelas que sonham com um príncipe? É o seu comportamento digno de uma princesa? Infelizmente não. A maioria tem se deixado levar por más companhias e amizades de padrões de moral muito baixo. Por conta disto, frequentam lugares vulgares, onde a maioria é tratada como lixo ou objeto sem valor e com certeza não é o lugar onde homens nobres quais "príncipes" transitariam. Algumas até gostam, quando nestes lugares são chamadas de "cachorras" de "bandidas" de "popozudas" de "preparadas" de "periguetes", "mulher melancia", "mulher pera" e outros termos depreciativos. O seu linguajar é cheio de palavrões, de um vocabulário chulo, inexpressivo e ainda assim acha que está abafando, fazendo a dança da garrafa, do quadradinho de oito, sendo exposta como pedaço de carne desvalorizado já putrefato cheio de moscas varejeiras esvoaçantes, que é a sua platéia de pessoas fúteis, vazias, a escória da sociedade. Isto acontece nas baladas dos fins de semana, nas festas rave, nos bailes funks e nos seus "bondes", nas choperias/buates, nas discotecas onde drogas e bebidas alcoólicas são consumidas em excessos, fazendo muitas delas perderem totalmente a noção dos seus atos, a ponto de se esquecerem o que de fato rolou. Este comportamento não é de alguém que espera um príncipe e sim de quem está louca por qualquer um, até mesmo por um horrível sapo. As princesas apesar de todas as dificuldades que as mulheres estão atravessando no mundo atual, não descem a um nível tão baixo. Permanecem em sua posição altiva, nobre. Podemos ilustrar a sua posição como os frutos de uma árvore, tem aqueles fáceis logo a mão que são até desprezados, existem outros em que é necessário um grande esforço para alcança-los, pois estão no topo da árvore. Os verdadeiros príncipes farão de tudo para alcançar tais frutos difíceis, pois sabe que eles são muito mais saborosos do que aqueles bem fáceis, que estão logo embaixo, sendo apalpados por qualquer um. Assim, enquanto você espera seu príncipe, não se desvalorize, continue no topo, prossiga agindo como uma princesa e certamente este seu esforço, um dia será ricamente recompensado. Um cidadão comum mas de gestos nobres, com certeza, irá reconhecer o seu valor e te transformar numa verdadeira princesa. Sim, vale apena continuar tendo a postura de uma "lady" do que ser vencida pela correnteza de desvalorização da mulher e ser considerada por alguns homens vulgares como "cachorra". Tudo depende de você, do seu amor próprio, se quer fazer jus ter um príncipe como consorte.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O TEMPO É BEM CRUEL PARA NÓS






Nada é mais devastador atualmente para nós humanos do que o tempo. Sim, nós humanos somos como que transformados numa caricatura grotesca do que já fomos, pela simples passagem dos anos. Esta é uma característica estética, basicamente nossa. Nós não vemos nos animais esta ação deletéria em suas fisionomias. Por exemplo, uma águia, um cavalo, um tigre, um leão, um gato e outros bichanos, mesmo já bem velhos, continuam animais imponentes, garbosos, sem nenhuma ruga ou traço bem visível que denotam a sua idade. Estes podem até estarem acabados por dentro, com os seus órgãos internos seriamente comprometidos, já não terem agilidade, destreza, faltarem-lhe alguns dentes, mas esteticamente pouca diferença existe, entre um animal novo e um velho. Já nós humanos não. Depois que passamos dos quarenta anos, começa um processo destruidor em nossa estética, por mais que façamos algo para minorar esta ação. Quando se chega aos sessenta, aí é um trem descarrilhado descendo vertiginosamente ladeira abaixo. O efeito da lei da gravidade sobre nossos corpos vai se fazendo sentir e é tudo puxado para baixo, de onde viemos, pro chão da terra. Para piorar, muitas pessoas que hoje são jovens e estão no apogeu de sua beleza, fazem coisas que aceleram este processo natural de envelhecimento, tais como, o uso imoderado de bebidas alcoólicas, fumarem tabaco, usarem drogas, cair na gandaia em noitadas com excessos de permissividade, como se vida fosse acabar no outro dia. Estes jovens se esquecem que a juventude e com ela a beleza que a acompanha, é uma coisa muito passageira, não dura em média mais do que dez anos. Assim, paga-se um muito preço alto por estes atos de desvarios e loucuras. Logicamente que algumas pessoas, seja pela própria genética, seja pela vida comedida que levam, conseguem permanecer um tempo maior sem que as marcas e sequelas do envelhecimento comecem a aparecer, mas ao final todos somos vencidos e levados de roldão para uma aparência extremamente feia, que não tem nada a ver com a aparência que tínhamos quando éramos novos. Só não fica feio, quem morre ainda jovem, tipo um James Dean que morreu aos vinte e quatro anos. No mais, somos todos iguais nesta triste jornada à caminho da extrema feiura, em que a linda flor do campo se transforma na tiririca do brejo, o guapo príncipe vira um horrendo sapo. Aí você se lembra daquela linda pessoa por quem você estaria disposto a dar a sua própria vida para lhe salvar, agora com o passar de algumas décadas, você ao olha-la e ver aquele corpo, carcomido e desgastado pelo tempo, chega lhe dar arrepio pensar na grande burrada que teria feito. É por isso que as clínicas de estética e os salões de beleza estão sempre repletos e nunca são em números suficientes para atenderem a sempre crescente demanda de clientes, porque é lá que procuramos minorar as nossas cicatrizes trazidas pelo tempo. Um retoque aqui, um acerto ali e vamos tentando encobrir os nossos traços vincados de rugas, as nossas celulites, as nossas peles opacas e sem brilho, dar uma certa firmeza na carne caída e frágil, cheia de deformações e protuberâncias que fazem de nós verdadeiras aberrações ambulantes. É muito triste quando chegamos a este estágio. Esperamos viver um tempo em que esta ação nefasta do tempo que hoje é o normal para todos nós humanos, não só pare de ocorrer, como haja uma reversão do quadro escabroso já instalado em muitos de nós. Quando isto ocorrerá? Num futuro próximo, quando o Verdadeiro Deus cumprir aquilo que foi prometido ao Patriarca Jó e a todos por extensão, conforme se lê no Capítulo 33, versículo 25 de seu livro, "torne-se a sua carne mais fresca do que na infância, volte ele aos dias do seu vigor juvenil", aí a juventude e a beleza serão eternas, o tempo deixará de ser nosso inimigo cruel.   

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

DESTRUINDO UM PATRIMÔNIO CARIOCA




Antigamente para se ir do centro do Rio para os subúrbios e  vice-versa, era o bicho. Ou você ia pela Avenida Presidente Vargas, enfrentando um enorme engarrafamento que começava na Central do Brasil e aumentava mais quando se chegava no cruzamento que dava acesso para a Praça da Bandeira ou a outra opção era ir pelo Cais do Porto, pegando depois da Praça Mauá a Avenida Rodrigues Alves, uma via na época de paralelepípedos, apinhada de grandes carretas que descarregavam suas cargas nos cerca de vinte grandes armazéns nela existentes. Este percurso, alem de ter de enfrentar os solavancos de tal pista irregular, você as vezes tinha de esperar o trafego de trens com inúmeros vagões que entravam e saiam do cais. Todo este sofrimento acabou, quando na década de setenta, ficou pronto o Elevado da Perimetral, obra antiga, que levou muitos anos para ser concluída, que começava na altura do Bairro do Caju, se estendia por cerca de cinco quilômetros pela zona portuária do Rio, atravessando por cima o Gasômetro, a Praça Mauá e Praça Quinze, até desembocar na altura do Aeroporto Santos Dumont. Ela serviu de elo para o acesso fácil a Ponte Rio Niterói, a Avenida Brasil, Linha Amarela e Linha Vermelha. Muitos operários se acidentaram, alguns perderam membros de seu corpo e outros até à sua vida na obra de construção de tal elevado, ou seja foi vertido muito suor e sangue, além de um custo altíssimo que todos nós pagamos em forma de impostos. Nos seus mais de cinquenta pilares básicos que sustentam tal viaduto, o "Profeta Gentileza" escreveu as suas frases famosas que passaram a fazer parte do folclore carioca. Logicamente que existiu algumas críticas a mesma, como de ter encoberto os já decadentes e velhos armazéns do cais mas o benefício que ela trouxe àqueles que a utilizaram como via de escape e trânsito, superam em muito tais males estéticos. Agora, parece que é certo mesmo, à partir deste sábado, dia 2 de novembro ela será fechada em definitivo para os preparativos de sua implosão que ocorrerá  no dia 17 de novembro. Eles apontam os benefícios que haverá com a sua derrubada, que é a revitalização da zona do Porto do Rio, que passará a ser chamado quando pronta de Porto Maravilha, tudo isto com vista as Olimpíadas de 2016. Para minimizar os efeitos de tal estrago, será inaugurada a Via Binária que promete novas alças de ligação entre o Gasômetro e a Praça Mauá. Eu, presenciei e sofri com os engarrafamentos ocasionados, na época da construção da Avenida Perimetral, cujas caríssimas vigas de aço reforçado foram projetadas para durarem centenas anos, agora, com poucas décadas de sua utilização, ver tal imponente obra ser demolida para um projeto de embelezamento me causa perplexidade. Tenho minhas dúvidas de que outras obras que serão implementadas em seu lugar, tais como tuneis, conseguirão ter o mesmo desempenho de fluir o transito carioca no centro, assim com fez tão bem a já saudosa avenida Perimetral. Fico me perguntando, se valeu a pena, tanto sacrifício que passamos para vê-la erguida e os benefício que ela trouxe aos que nela transitaram nestes trinta e poucos anos de existência, para de uma hora para outra, vê-la ir pelos ares, como se não tivesse existido e cumprido a sua tarefa, sendo como foi, parte de nossas vidas. Pobre do "Gentileza" primeiro teve as suas frases em letras, verde, amarela e branca cobertas de tinta cinza, agora elas serão implodidas de vez e não mais as veremos em algum lugar, tudo isto para um alardeado progresso estético de embelezamento, mas sem dúvida, como ele diria se vivo fosse, é uma tremenda ingratidão com tal via e mais ainda, uma falta de "amorrrrrrr".