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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

OS DESAFIOS DE UM RÁBULA


O famoso escritor Norman Mailer disse certa vez, que se tornara jornalista e escritor porque não era tão esperto para ser advogado. De fato, para ser um bom advogado é necessário ter uma grande sagacidade para, em momentos desfavoráveis em que não há nada para apoiar sua tese, encontrar meios para tanto. Sim, é preciso às vezes tirar um coelho da cartola para virar o jogo. O bom advogado é aquele que em causas perdidas, ganha. Então, como eu que nunca fui esperto nem mágico poderia sobreviver numa profissão de águias, onde qualquer descuido poderia trazer a derrota para o meu patrocinado? Pensando nestas dificuldades, ao me formar continuei trabalhando num cartório e no banco por algum tempo. Ainda mais que eu não havia praticado como solicitador (hoje estagiário), portanto era um rábula. De vez em quando, alguém me cobrava os esforços que eu fizera para me formar e nada, pois eu continuava exercendo uma função burocrática. Assim, com os brios feridos, resolvi de uma hora para outra me demitir dos dois empregos e encarar os desafios da profissão. Depois de pegar a minha carteira na OAB-RJ passei a advogar, ou mais precisamente a ficar na expectativa de advogar, pois não possuía escritório, clientes e nem prática do ofício. Se com estas coisas já é difícil sobreviver, imagine sem elas e com uma família já constituída para sustentar. Pra não morrer de fome teria de matar um leão todo dia, mesmo quando não houvesse leão pra ser morto. Não ter a segurança dos emprego formais me fez ficar ousado para encarar quaisquer desafios. Não havia caso que me apresentassem que eu não estivesse disposto a resolver, desde que não fossem anti-éticos ou que ferissem a boa moral. Hoje, com a Internet, é fácil fazer consultas e ver como agir neste ou naquele caso, mas há décadas atrás não havia tal ajuda, nem alguém disposto a dar luz a cego. Desta forma, parti para a batalha lutando como se fosse só no braço, sem qualquer habilidade ou instrumento adequado para sair vencedor. Por mais incrível que possa parecer, ou talvez pela extrema necessidade de conseguir dinheiro para comer, nos primeiros embates processuais que funcionei, graças a confiança de pessoas que desconheciam as minhas limitações, saí vencedor e isto se espalhou. Assim, ganhando aqui, perdendo ali, venho tentando construir um nome, não de fama ou sucesso, mas persigo como objetivo básico na minha profissão, ser uma pessoa confiável, já que a maioria das pessoas por desconhecerem as verdades dos fatos, tem na figura do "advogado" como sendo um ser mentiroso e venal, o que para muitos é uma injustiça. Apesar de todas as coisas negativas que existe em qualquer ofício, não me arrependo da profissão que abracei. Sou advogado e gosto de advogar, não por causa de vantagem financeira que nunca tive, se fosse isto não teria saído do Cartório onde poderia chegar a titular do mesmo e estar vivendo nababescamente, mas antes pela oportunidade de ajudar pessoas e fazer amigos, o que tenho granjeado e muito, ao longo destes anos. Quando encontro algum jovem advogado já desanimado com os vários obstáculos e as dificuldades de um judiciário emperrado, lhe digo que espero trabalhar até morrer ou este velho sistema ser substituído por um outro onde não serei mais necessário. A maioria dos que se formam hoje, pensam logo em um cargo público, como promotor ou  Juiz. Tudo bem se esta é a vocação da pessoa, mas a maioria vai por conta da estabilidade. Um certo colega tinha uma frase assim: - JUIZ É O ADVOGADO QUE NÃO DEU CERTO. Nesta profissão há sempre coisas diferentes para você se renovar, se reciclar e aprender. É um eterno aprendizado, pois cada caso é uma experiência única e ímpar. Sei que não sou tão burro, possuo até um pouquinho de inteligência, mas tenho de admitir que existem muitos profissionais mais inteligentes e espertos que eu, por isto não posso me descuidar. Qualquer descuido e toda experiência vai ralo abaixo, numa fragorosa derrota jurídica. Ao me intitular como rábula, não estava pensando em algum nobre como o brilhante Evaristo de Moraes, que antes de ser um advogado legalizado já era um notável prático. Com o termo rábula eu me reportava a alguém inexpressivo e tolo, o que não deixa de ser verdade no meu caso. Mas que isto fique entre nós, pois um dia espero ser do tipo de advogado imaginado por Mailer, um cara bem sagaz.




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