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sábado, 12 de maio de 2012

CHOQUE DE CULTURAS, UM ABISMO ENTRE POVOS

É bem conhecida a suposta carta que o chefe Seattle enviou para o Presidente dos Estados Unidos em 1855, que havia proposto a compra de suas terras e o remanejamento de suas duas tribos para uma reserva a ser doada pelo governo americano. Embora haja algumas coisas inverossímeis e que devem ter sido colocadas depois por algumas pessoas que desejavam a proteção ambiental, de qualquer forma, algumas coisas que Ele realmente falou, nunca estiveram tão em dia, com a situação caótica a que o "homem branco" ou "civilizado" tem causado de mal a Terra. Sim, como ele dizia em sua missiva: "Nossas maneiras são diferentes. Mas talvez seja porque sou um selvagem e não entendo". Havia um choque de culturas entre um povo que alegadamente era selvagem, mas muito sábio na preservação da vida e do local onde morava e o outro dito civilizado mas estupidamente destruidor do seu próprio lar. Dee Brown, escritor americano, que entre suas obras mais conhecidas está o esplendido livro "Enterrem meu coração na curva do rio" fala do massacre dos índios americanos, os supostos bandidos que lutavam pela preservação de suas terras, pelos invasores brancos, retratados como mocinhos da estória, alguns até bem famosos pela selvageria como agiam, tais como Buffalo Bill e o General Custer. Sim, a luta de pessoas de culturas e costumes diferentes para subjugar a outra tido como inferior, tem sido uma constante no mundo. Desde a época dos romanos, que saiam em suas cruzadas militares para "cristianizar" os chamados "povos bárbaros", o mundo tem assistido as atrocidades e matanças cometidas muitas vezes em nome de Deus. Que o digam os Maias, os Incas e os Aztecas, barbaramente dizimados pelos colonizadores espanhóis. Nós não ficamos atrás neste respeito. Em nome da catequese espiritual dos povos selvagens, os primeiros a irem á frente dos exércitos portugueses, abrindo brechas para estes, eram os missionários. Sempre foi assim em todas as conquistas de terras. Depois disto, o resto era fácil, não havia mais resistência ao movimento expansionista de nosso território. Falando neste abismo entre povos, por conta da cultura e a conquista do subjugado tido como bárbaro ou selvagem pelos civilizados homens brancos, me vem a memória a história da Índia Diacuí, que pertencia a tribo dos Kalapalos no Alto Xingu. O sertanista Ayres da Câmara Cunha, funcionário da Fundação Brasil Central, órgão criado para proteger os índios, resolve casar-se com Diacuí, com quem já vivia. Como havia um impedimento legal, ou seja o casamento de um "civilizado" com uma "selvagem", ele vem até ao Rio de Janeiro acompanhado de sua índia, que passa a residir num apartamento em Copacabana, uma verdadeira "selva de pedra" e sob os auspícios e poder de Assis Chateaubriand, diretor dos Diários Associados que usa de toda a sua influência para o sucesso da empreitada. Assim, conseguem "civilizar" e "cristianizar" Diacuí, que é batizada como católica em poucos dias e depois é realizada a cerimônia civil e religiosa de seu casamento na suntuosa Igreja da Candelária, onde estão presente dentro e ao seu redor, cerca de 10 mil pessoas, tudo bem documentado pela imprensa de Chateaubriand e em particular a revista "O Cruzeiro". Foi uma cerimônia de bodas, muita mais concorrida que a do Imperador Dom Pedro. Infelizmente esta ponte no abismo do choque de culturas tão diferentes não teve um final feliz.  Diacuí, que quer dizer "Flor do Campo" volta para o Xingu, onde fica grávida e ao nascer a sua filha, morre de hemorragia pós parto, longe da companhia e proteção de Ayres da Cunha, que um dia antes viajara para um local distante. Sim,o choque de culturas continua forte em nossos dias, como o que aconteceu com o índio Pataxo Galdino, que foi impiedosamente queimado vivo em Brasilia pelos civilizados "filhinhos de papai"; da luta de "cristãos" de fachadas, contra o islamismo e os muçulmanos, numa guerra que parece não vai ter fim, abrindo mais uma enorme fenda neste grande abismo de barbaridades, pela tentativa de demonstrar a superioridade de uma raça ou cultura sobre outra, o que é e sempre foi um grande e monstruoso absurdo.      

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