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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O CASAMENTO IMPOSSÍVEL E A PROTEÇÃO DIVINA

Algumas vezes na minha profissão, fui procurado para resolver casos inusitados que eu nem sei se tem algum similar. Um desses foi quando uma senhora me procurou para resolver o problema de pensão do antigo INPS deixada por seu filho, que falecera alguns meses antes. Ele possuía três filhas da sua primeira união, só que se separou e passou a conviver com uma outra mulher perto da data de seu falecimento. A mulher com quem ele fora morar no final de sua vida, conseguira casar-se com ele. É conhecida a possibilidade jurídica de que alguém no seu leito de morte, não querendo que sua companheira fique desamparada, demonstre a sua vontade de casar-se com ela, porém o fazendo na presença de testemunhas, que irão depois, em um processo, dar validade ao aludido casamento chamado de "in extremis". Só que o casamento feito não obedecera as exigências legais e, por incrível que pareça, o filho de minha cliente falecera em fevereiro e a esperta casou-se com ele em julho do mesmo ano. Ou seja, o indigitado casou-se, ou mais precisamente foi levado ao casamento, cinco meses depois de sua morte. Não sei se por conta disto houve a famosa "lua de mel".  Tal fato ou aberração jurídica se deu no Município de Caxias/RJ, onde muitas pessoas diziam naquela ocasião que "em Caxias tudo pode". Hoje eu sei que tal Município, um dos maiores e mais progressistas da baixada fluminense é governado por leis de um Judiciário atento, que jamais permitiria tal proceder de alguém assim em sua Comarca. Só sei que tal casamento foi anulado e a pensão foi revertida para as suas filhas, até que elas completassem a maioridade. Já havia passado algum tempo desde que solucionara o caso para minha cliente, quando antes das sete horas da manhã, ouço palmas em meu portão, numa casa no subúrbio do Rio. Minha ex-esposa, que estava grávida da minha segunda filha, fala aborrecida: - Quem será que vem tão cedo perturbar a gente? Será que não tem simancol?  Vou até a porta da frente e abro uma janelinha no meio desta para ver quem está batendo palmas no portão. Depois de ver, digo para minha ex-mulher: - É a dona Josina, aquela que eu resolvi o caso de pensão para as netas dela.  A minha ex fala: - Mas dona Josina tinha de vir tão cedo?  Não dei muita atenção a isto. Me vesti e fui até o portão para abri-lo e atender a dona Josina Alexandre. Ela se desculpou por ter vindo a minha casa tão cedo, dizendo: - Dr. Paulo, fiquei preocupada que o senhor saísse, por isto vim neste horário, me desculpe. Eu lhe disse em resposta: - Não tem nada não, dona Josina, o dia está tão quente e não dá para ficar na cama muito tempo. Mas o que a senhora manda?  Ela me disse: - Sabe aquele caso de pensão deixada por meu filho para as minhas netas? Os atrasados saíram agora. Eu lhe disse em resposta: - Fico contente com isto. Aí ela acrescentou: - Eu vim aqui para lhe pagar os seus honorários. Em adição eu disse que ela não estava me devendo nada, já que no início do processo ela havia me dado um dinheiro para as custas e sobrara o suficiente, que eu entendia ser o valor dos meus honorários. Ela disse: - Não, aquilo foi só para as suas despesas de ida a Caxias e custas, os honorários são outra coisa.  Eu não sabia o que cobrar a dona Josina, porque do meu ponto de vista ela não me devia nada. Mas ela insistia: - Quanto? Me diz quanto é os seus honorários, Dr. Paulo? Naquela manhã eu estava praticamente duro, só com o dinheiro para comprar as coisas do café. Teria também de pagar naquele dia o aluguel da casa, senão me sujeitaria ao acréscimo da multa, o que seria bem difícil para mim, já que a casa fora alugada na época de vacas gordas, quando ainda trabalhava no cartório e era um aluguel bem alto. Mas nada disto justificava eu cobrar algo se, do meu ponto de vista, ela nada me devia. Quando minha ex-esposa me viu relutando em receber os honorários e sabendo que eu estava duro e nenhuma perspectiva de alguma importância para pagar o aluguel, se esqueceu do mau humor de acordar cedo,  levantou rapidamente e foi falar com dona Josina, que ela já conhecia: - Oi dona Josina, tudo bem?  Ela lhe disse: - Tudo bem e o neném para quando é? Em resposta minha ex disse: - Para o mês que vem, é uma menina. Eu vou fazer um café para a senhora. E saiu para a cozinha. Eu não sabia mais como explicar para dona Josina que ela não me devia nada e ela insistindo: - Quanto é seus honorários?  Devido a sua insistência,  falei um valor aleatório, só para acabar com aquele impasse. Quando eu disse o valor, dona Josina me disse de pronto: - O quê? Isto é muito pouco. Em ato contínuo, puxou de sua bolsa um bom dinheiro e me deu o dobro do valor que eu havia falado e chamou minha ex-esposa, que estava na cozinha preparando um cafezinho. Quando ela chegou com uma xícara, dona Josina lhe disse com um dinheiro na mão: - Isto é para a menina que vai nascer. O total dado por dona Josina Alexandre foi a quantia exata para eu pagar o aluguel da casa. Só posso atribuir isto a uma  proteção divina, o fato de alguém vir a minha casa  tão cedo  pagar algo que eu não esperava e nem me devia e no valor exato que eu precisava. Sou muito grato ao meu Deus Jeová, por ter sempre cuidado de mim nas minhas tribulações, muito mais do que mereço.

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