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segunda-feira, 15 de abril de 2013

UM BONDE CHAMADO SAUDADE


Outro dia estava recordando alguns bons momentos de quando era adolescente e eu tinha de ir a zona sul do Rio fazer algum serviço e pegava um bonde para chegar ao local. Trabalhava num escritório de contabilidade na Treze de Maio no Edifício Darke e ali perto no Tabuleiro da Baiana, havia um terminal de estação de bondes que iam para a citada zona sul da cidade. Assim, em dias quentes onde não havia muita pressa no trabalho que teria de fazer, era muito melhor ir de bonde, pegando o frescor de um transporte arejado do que ir num ônibus quente e cheio ou ficar esperando um tempão um "lotação" que tivesse lugar. Normalmente sempre pegava o bonde da linha 13 que ia até Ipanema. Depois de sair do Largo da Carioca, ele pegava a Rua Senador Dantas e depois da Praça Paris ia sempre pela direita margeando os bairros da Glória, Catete, Largo do Machado, Flamengo, Botafogo e ai atravessava o Túnel Novo até chegar meu destino que era Copacabana, onde eu saltava antes do bonde parar, dando aquela corridinha para não cair. Era muito divertido e exigia alguma perícia para saltar como eu as vezes fazia, de costas. Muitas vezes viajava no estribo e quando o bonde parava em algum ponto eu descia também e ficava no chão sem olhar para o condutor (cobrador) até que o motorneiro desse nova partida e assim ia até o meu destino, normalmente nestas ocasiões eu, mal orientado, não pagava a passagem. Era muito intrigante e gozado ver o condutor se pendurando no balaustre de fora do bonde, fazendo a cobrança das passagens, sem fornecer nenhum comprovante do pagamento, tendo apenas a sua memória como garantia dos passageiros que já haviam pagos. Havia alguns bondes que tinham um outro vagão acoplado, era o reboque, em que o mesmo condutor  fazia a cobrança, indo de um vagão a outro, balançando e fazendo tilintar as moedas para receber a passagem, que eram depois registradas puxando  uma cordinha tantas vezes, de quantos passageiros havia recebido. Diziam as más línguas, que esse registro não era perfeito, pois se recebia de cinco, ele só registrava umas três. Só não valia tal viagem nos dias de chuva, pois com certeza chegaria molhado a não ser que fosse no meio do bonde, pois tanto de um lado em que se podia abaixar uma cortina de couro, como do outro que era impossível fazer isto, se a chuva fosse de vento atingia  quase todos os passageiros. Mesmo assim era muito bom, viajar nos trilhos me parece que da Light a empresa dona de tais linhas de bonde. De vez em quando, fico vendo algum filme em que a ação se desenrola em São Francisco no Estado da Califórnia e vejo aqueles lindos bondes coloridos descendo e subindo as incríveis ladeiras daquela cidade americana e aí é que a saudade aumenta. A modernidade e o empenho em ajudar a nossa recém criada indústria automobilística, fazendo-nos comprar carros, baniu da cidade os nossos saudosos bondes, só restando praticamente o de Santa Tereza, pois os mínis-bondes do Pão de Açúcar e do Corcovado não contam como tal, são apenas transporte para turistas e não para o povão, assim como eram os que tinham até um nome bastante adequado para o que de fato eles traziam a todos os seus usuários, como era o Bonde 56, o Alegria!!!.        

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