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terça-feira, 19 de março de 2013

UMA BOLA DIVIDIDA

Contam os mais antigos que o jogo era um clássico Fla x Flu, depois da Copa do Mundo de mil novecentos e cinquenta. O tricolor possuía um grande centro-avante Carlyle e o rubro negro tinha no beque central Pavão, uma verdadeira muralha. Foi quando o ponta esquerda Quincas centrou a bola para a área e ela caiu dividida entre Carlyle e Pavão. Na disputa pela bola, chegou a sair faíscas entre os dois jogadores adversários, causando um frisson no lotado Maracanã. Sim, uma bola dividida que a princípio não é de ninguém sempre causou grandes emoções, ainda mais se os jogadores envolvidos no lance, são fortes, virulentos e vem com força total na ânsia de vencerem a disputa e saírem com a pelota para o campo adversário. Em muitas destas ocasiões, alguém sai bastante machucado, chegando a haver fraturas expostas. Na vida assim como no futebol, as vezes nos encontramos como num lance de bola dividida, em que aparentemente a situação não está definida, não sendo clara a postura de quem chegou primeiro para sair carregando a bola. Há um verdadeiro confronto, saindo chispas, assim como beque Pavão fazia ao enfrentar os atacantes adversários que queriam invadir sua área, para vence-lo e marcar um tento no seu goalkeeper paraguaio, Garcia. É o caso de uma pretensa namorada em que não se definiu, qual o pretendente chegou primeiro, ou quem tem mais chances de sair vitorioso nesta dividida. Ela mesmo para se valorizar, não dá nenhuma dica de quem seria o seu preferido, deixando que eles se envolvam numa disputa calorosa para ver quem será o vencedor para obterem tal troféu, ela própria,  assim como acontece no reino animal, onde as fêmeas são disputadas numa briga quase mortal entre os seus prospectivos parceiros. Nesta disputa ela prefere ficar como expectadora, as vezes alardeando para suas amigas, como os envolvidos estão se comportando e o que já fizeram para tentarem ganhar a sua atenção e por fim o seu amor. Isto, levanta e dá moral ao seu ego, muitas vezes em baixa por já ter sido repelida por outro amor, que não soube lhe dar o devido valor. Agora, ela é que é a dona da bola e não se faz rogada. Sorrindo pra tudo e pra todos, se depender dela, bota mais lenha na fogueira a fim de acirrar ainda mais o embate. Depois de tanta disputas que lhe causaram várias perdas e danos, os pretensos competidores adversários se veem fragilizados e impotentes ante as exigências cada vez maiores de sua dividida amada. Só então, já quase mortos, descobrem que um terceiro, que não estava no páreo disputando a atenção da donzela, aproveitando-se de suas fraquezas e da sua desgastada luta, arrebata de pronto o amor de tal princesa ingrata, que no fundo só queria mesmo ver aquela disputa e não estava nem aí para os competidores. Esta bola dividida, sem que os dois adversários mais próximos soubessem, foi roubada na surdina por um experto atacante que lhes tirou o desejado doce, avançou e marcou o gol,  levantando o disputado e valioso troféu. Assim é a  vida ou como ela é, como dizia o grande tricolor Nelson Rodrigues. 

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