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quinta-feira, 13 de setembro de 2012

MEU ÚLTIMO BAILE NA ILHA SEM FISCAL

Era o dia 9 de novembro de 1889. Há duas semanas o navio chileno Almirante Cochrane estava ancorado na Baia da Guanabara à espera do cumprimento da promessa feita pelo Visconde de Ouro Preto de que haveria um grande baile da monarquia para homenagear os oficiais daquele navio, o que de fato aconteceu naquele dia. Assim, a partir das 22:00hrs começaram a chegar de barcas a vapor, os quase 5.000 convidados, entre eles D.Pedro II, a Imperatriz Teresa Cristina, a Princesa Izabel e o Conde D`Eu,  para a maior extravagância do Império brasileiro, tendo sido gasto em tal baile a vultosa quantia de 250 contos de réis, o equivalente a boa parte do orçamento previsto para a então Província do Rio de Janeiro. A festa foi um luxo nunca visto antes no Brasil Imperial, pois havia balões venezianos, lanternas chinesas, vasos franceses e flores brasileiras. Os convidados todos vestidos à caráter, eram recebidos por lindas moças como se fossem  fadas e sereias. Não vamos falar agora da enorme quantidade de comidas que havia mas apenas das bebidas, onde foram consumidos mais de 300 caixas de vinho e champanhe e 10.000 litros de cervejas. Todo este excesso e luxo, só terminou as 5:00 horas do dia 10 de novembro de 1889, apenas cinco dias antes da Proclamação da República, que pôs fim a monarquia brasileira, sendo este baile, o da Ilha Fiscal, o último evento de que participou a família real. Pensando naquela festa e a sua pompa, tenho também imaginado assistir um último baile numa ilha, mas sem fiscal. Não é que a minha imaginação está prestes a se concretizar. Outro dia um amigo meu me convidou para uma grande festa que vai dar na Praia Vermelha da Ilha Grande-RJ. Disse-me ele que há tempos estava juntando alguns trocados aqui e ali, coisas que não desequilibrassem seu orçamento para a festa de bodas de prata de casamento para os seus amigos da burguesia, pois já não existem nobres por culpa de Benjamin Constant e do Marechal Deodoro, que conspiravam na surdina enquanto a festa rolava na Ilha Fiscal. Assim, em continuação, disse-me que já havia encomendado uma caixa de vinho nacional, quatro engradados de cerveja da boa e muitos refrigerantes, só do nosso "inigualável" guaraná Dolly, três amarrados de plástico. A comida além de peixes na brasa, dos famosos canapés e churrasco que não podem faltar em quaisquer festas atuais, não terá a extravagância dos 800 quilos de camarões e os 1.200 frangos que foram servidos naquele baile da Ilha Fiscal mas não vai ficar em nada a dever em sabor e bom gosto, feito pelas mãos prendadas de sua esposa, que como a Princesa Izabel também comemorava naquela ocasião as suas bodas de prata com o Conde D`Eu. Ele me admoestou, só não pense em comer em excesso, pois faz mal a saúde e dá problemas de consciência no dia seguinte, ainda mais com o balanço do mar vai ser um enjoo só. Depois desta consideração, pensei que ele não devia convidar alguém tipo, D. João VI, pois só ele comia de três a seis frangos cada vez, além de chupar quatros mangas das grandes. Assim, como não faço parte da elite e da nobreza, mas tenho um grande amigo burguês, tenho um encontro marcado para breve em uma ilha, que não fica nada a dever a Fiscal, aliás é muito mais bonita, para assistir e dançar um bom baile, mas tudo sem excesso ou luxo. Que o Leão, o maior fiscal das poucas extravagâncias atuais não venha a saber disto, porque senão vai querer comer a maior fatia do bolo de bodas do meu amigo.  

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