Nasci com cinquenta e dois centímetros. Dizem que, por algum tempo, fui até maior que outros bebês. Mas até onde vai minha memória, eu sempre fui um pouco menor do que as outras crianças. O meu código genético, não sei se no meu caso chega a ser código, devia ter alguma falha nas instruções para as células que tem a ver com a altura e crescimento e, por isso, ficou reduzido a meros rabiscos. A partir de então, foi uma onda de apelidos que eu fingia não dar a mínima para não pegar. Nem vou relatá-los agora nesta altura do campeonato, porque sei lá se algum cola. Aprendi logo cedo a ter aquelas respostas prontas contra os grandões que queriam infernizar a minha vida, como por exemplo: - Você é grande, mas não é dois; quanto maior a árvore maior o tombo; os grandes perfumes estão em pequenos frascos; tamanho não é documento e outras baboseiras que foram feitas para compensar as nossas desvantagens. Havia algumas compensações. Os galalaus, quando vinham brigar comigo, não usavam pedaços de pau, canivete ou outros acessórios brabos, achando que era até covardia. Vinham sempre na mão. Eu como todo pequeno era abusado e partia de porrete ou outra coisa que podia ser usada para cima deles, que quando viam a minha disposição se mandavam. Agora no que eu ganhava mesmo era no grito. Acho que nesta parte meu DNA se excedeu na informação. Como eu berrava alto e grosso. A minha caixa toraxica até hoje tem sido minha melhor arma de defesa. Uns tempos atrás, eu tinha um escritório com uma sócia no Rio, composto de duas salas. Ela ficava na primeira sala e eu na outra, sem visão do público. Certo dia, então, entrou no escritório um bebum corpulento e começou a gritar e xingar, causando o maior tumulto. Ouvindo aquela balbúrdia, eu dei um berro desses de quebrar vidraças: - O QUE É QUE ESTÁ ACONTECENDO AÍ? Quando o ébrio ouviu aquela espécie de trovão, imediatamente se calou e se mandou. A minha sócia foi até a minha sala e disse: - Ainda bem que você não apareceu. O cara além de bêbado era enorme, mas deve ter achado que você era igual ou maior que o Hulk. Se ele visse o seu tamanho te enchia de bolacha... Numa outra vez, eu e um descendente de alemão, com um corpo parecendo um armário de seis portas e com dois metros e dez centímetros, estávamos na tribuna de um salão considerando uma importante revista, a de maior circulação mundial. O quase alemão com aquela vozinha e eu tendo que falar longe do microfone para não dar microfonia. Terminada a nossa parte, descemos e um visitante chegou e me disse categoricamente: - Vocês estão com a instalação trocada. Você está com a voz dele e ele com a sua. Vão tratando de trocar... Como é bem sabido, a comunicação é a alma do negócio. Por isto, os marqueteiros se especializam em vender um produto, por potencializar certas coisas e omitir outras. Nem todos se utilizam da propaganda enganosa ou que induza alguém ao erro, mas outros o fazem. Nós mesmos, às vezes, fazemos isto, por exemplo, quando temos de fornecer a nossa data de nascimento e queremos omitir a nossa idade, relatamos apenas o dia e o mês, o ano que é a peça fundamental, silenciamos. Eu me lembro que, alguns anos atrás, certo jornal vendia horrores só por causa da manchete. Por exemplo, uma das manchetes marcantes escrita em letras garrafais era: "Cachorro faz mal a moça". Muita gente comprou aquela edição só para ver a notícia do cachorro tarado que havia atacado a jovem. Lá dentro do jornal, em letras bem reduzidas, havia a informação completa de que uma moça passara mal ao comer um cachorro quente. Sim, a propaganda enganosa vende e muito. No meu caso, uma das inúmeras propagandas enganosas que vendo é a minha voz que, por telefone, dá uma falsa informação de quem eu sou de verdade.
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