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sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

FOGO NO CABELO NÃO

Muitas vezes nos metemos em confusão por nada, sem nenhum motivo, apenas por causa das circunstâncias. Me lembro de uma situação assim. Após sagrarmos tri-campeões no México e sermos muito bem tratados lá, o Brasil resolveu retribuir tal hospitalidade com um jogo da amizade contra os mexicanos. O jogo foi marcado para a noite no meio da semana no Maracanã. Sem termos programado nada antes, eu e um colega de banco que trabalhava comigo à noite, depois do expediente, resolvemos assistir tal partida, para ver de perto o melhor time de futebol que já tivemos. Estacionamos o carro e fomos comprar ingressos para a arquibancada. Chegamos aos guichês e não havia mais nenhum ingresso, a não ser para a geral que naquela época ainda existia.  Não vimos qualquer cambista vendendo bilhetes. Desistimos então de assistir o jogo e fomos ao local onde havíamos estacionado pegar o carro para irmos para casa assistir pela TV. Chegando lá, vimos que o carro estava cercado de veículos por todo o lado, o que tornava impossível sairmos de lá antes do jogo acabar. Decidimos então que o melhor a fazer era assistirmos o jogo mesmo na geral. Compramos os ingressos e procuramos ficar numa posição que se pudesse ver aquele dream team de Pelé, Tostão e Cia. Na minha frente, a princípio, estava tudo bem, sem nenhum obstáculo, mas depois ficou um sujeito com aquele cabelo black power imitando talvez outro craque da seleção, o Jairzinho, o que me obrigava a ficar de vez em quando pulando para ver direito o jogo. O pessoal da arquibancada não parava de jogar coisas em quem estava na geral. Reclamar era pior. Pois aí sim é que vinha uma chuva de bagaços de laranja, sacos d'água e outros líquidos menos nobres. De vez em quando eu reclamava do black, de que ele estava me atrapalhando ver o jogo, não só pela sua altura como por seu enorme cabelo e ele aí se mexia um pouco e abria espaço para eu continuar assistindo a partida. A chuva de troços continuava a cair solto e nos acertar. Sem que eu soubesse quem  foi o autor, alguém da parte de cima jogou um cigarro aceso no meio do cabelo seco do black; dali a pouco começou a sair uma fumaça e senti um cheiro forte de cabelo queimado. Depois de tirar a guimba acesa de seu cabelo, ele virou-se para trás, olhando fixamente em mim com muita raiva e disse: - Tudo eu aguento, mas FOGO NO CABELO NÃO. Não adiantou dizer que eu não fumava, que deveria ter sido o pessoal da arquibancada, mas ele já partiu pra cima de mim e antes que ele me acertasse um tapa, o jeito foi corrermos para outro local aos trancos e barrancos, no meio daquela enorme massa de gente, perdendo com isto boa parte daquele grande espetáculo, em que mais uma vez saímos vencedores.

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