Muitas vezes nos metemos em confusão por nada, sem nenhum motivo, apenas por causa das circunstâncias. Me lembro de uma situação assim. Após sagrarmos tri-campeões no México e sermos muito bem tratados lá, o Brasil resolveu retribuir tal hospitalidade com um jogo da amizade contra os mexicanos. O jogo foi marcado para a noite no meio da semana no Maracanã. Sem termos programado nada antes, eu e um colega de banco que trabalhava comigo à noite, depois do expediente, resolvemos assistir tal partida, para ver de perto o melhor time de futebol que já tivemos. Estacionamos o carro e fomos comprar ingressos para a arquibancada. Chegamos aos guichês e não havia mais nenhum ingresso, a não ser para a geral que naquela época ainda existia. Não vimos qualquer cambista vendendo bilhetes. Desistimos então de assistir o jogo e fomos ao local onde havíamos estacionado pegar o carro para irmos para casa assistir pela TV. Chegando lá, vimos que o carro estava cercado de veículos por todo o lado, o que tornava impossível sairmos de lá antes do jogo acabar. Decidimos então que o melhor a fazer era assistirmos o jogo mesmo na geral. Compramos os ingressos e procuramos ficar numa posição que se pudesse ver aquele dream team de Pelé, Tostão e Cia. Na minha frente, a princípio, estava tudo bem, sem nenhum obstáculo, mas depois ficou um sujeito com aquele cabelo black power imitando talvez outro craque da seleção, o Jairzinho, o que me obrigava a ficar de vez em quando pulando para ver direito o jogo. O pessoal da arquibancada não parava de jogar coisas em quem estava na geral. Reclamar era pior. Pois aí sim é que vinha uma chuva de bagaços de laranja, sacos d'água e outros líquidos menos nobres. De vez em quando eu reclamava do black, de que ele estava me atrapalhando ver o jogo, não só pela sua altura como por seu enorme cabelo e ele aí se mexia um pouco e abria espaço para eu continuar assistindo a partida. A chuva de troços continuava a cair solto e nos acertar. Sem que eu soubesse quem foi o autor, alguém da parte de cima jogou um cigarro aceso no meio do cabelo seco do black; dali a pouco começou a sair uma fumaça e senti um cheiro forte de cabelo queimado. Depois de tirar a guimba acesa de seu cabelo, ele virou-se para trás, olhando fixamente em mim com muita raiva e disse: - Tudo eu aguento, mas FOGO NO CABELO NÃO. Não adiantou dizer que eu não fumava, que deveria ter sido o pessoal da arquibancada, mas ele já partiu pra cima de mim e antes que ele me acertasse um tapa, o jeito foi corrermos para outro local aos trancos e barrancos, no meio daquela enorme massa de gente, perdendo com isto boa parte daquele grande espetáculo, em que mais uma vez saímos vencedores.
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