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terça-feira, 30 de novembro de 2010

UMA DÚVIDA ATROZ


Quando garoto não tive uma infância privilegiada, no sentido de ganhar muitos presentes. Poucas foram as vezes em que ganhei brinquedos bons, daqueles de encher e brilhar os olhos de qualquer criança. Na maioria das vezes eram mais coisas necessárias, tais como roupas, sapatos, no máximo uma bola ou algum caminhão de madeira, feito pelas mãos habilidosas de meu pai. Eu compreendia as suas dificuldades e jamais reclamei de não ter aquilo que sonhava. Certo dia, minha mãe recebeu um comunicado de que sua irmã e seu cunhado, donos de um grande armarinho numa cidade fronteiriça com Minas Gerais iriam vir ao Rio para  fazer compras nas ruas da atual Saara e que precisavam de um garoto para ajudá-los no vai e vem dos embrulhos até o seu carro. Fui designado, então, para esta tarefa. Assim, de manhã, eles  passaram por nossa casa e fomos direto para aquelas já movimentadas ruas, estacionando ele o carro, uma brilhante Plymouth preta, na Rua Gonçalves Ledo. Começou-se, então, um eterno vai e vem entre as lojas e o local onde estava o veículo. Eram sacolas enormes, entulhadas de tecidos, roupas e muitas quinquilharias, que quase me faziam sumir debaixo delas. Na hora do almoço, paramos para comer não em restaurantes, mas em pé nos famosos pés sujos, algumas esfihas e quibes porque o meu tio emprestado era natural do Líbano e como tal apreciava essas coisas, ainda mais que eram baratas e também tinham como brinde os refrescos grátis. Já era bem tarde, o carro estava abarrotado de compras e eu bem cansado por tantas idas e vindas, quando ele anunciou o fim das compras e parando numa loja  infantil me fez a proposta de um presente. Fiquei na expectativa de realizar, pelo menos uma vez na vida, o sonho de ter algum bom brinquedo. Então ele disse de supetão: - O que você quer? - UMA MEIA OU UM LENÇO? Fiquei numa dúvida atroz e pensei, ... - qual é o pior? Não cheguei a conclusão, o jeito foi dizer-lhe que não precisava se preocupar, podia deixar para lá. Parece que por causa da minha incerteza quanto ao que ganhar de presente, ele próprio fez a escolha e me deu. Não me lembro hoje com que eu fui premiado, por aquele dia de tantas sacolas pesadas, que eu levava quase que arrastando pela Rua da Alfândega, dado por aquele tio mui amigo e mão aberta.     .

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