Páginas

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A ERA DO RÁDIO NO INTERIOR







Quando garoto o que me fazia parar de brincar era ao cair da tarde, as novelas transmitidas pelo rádio, do Anjo e depois a do Jerônimo, o Herói do Sertão. Era bala para todo o lado. Cuidado Jerôoonimo! Gritava o Moleque Saci. Também gostava muito de ouvir os programas de auditório, Manoel Barcelos, Paulo Gracindo e, aos sábados, o patrocinado pelas pastilhas Valda. Depois do Rádio ligado, não saía do César de Alencar. Domingo sempre foi um dia ruim em termos musicais, nada havia para se ouvir a não ser o programa de calouros a Hora do Pato, em que Amilton Valim, mesmo sem enxergar, acompanhava ao piano e dava o sinal para a gravação do Moleque Saci (Cauê Filho) brecar os candidatos ruins com o seu quá...quá...quá... O que faltava em música sobrava em vibração à tarde na narração dos jogos de futebol. Os jogos eram uma eterna empolgação na voz do Cozzi e do Curi. Todos queriam ver a roseira do Longras balançar. Era pimba pra todo o lado. A televisão fez a gente ver que a bola não corria tanto como no rádio, uma monotonia às vezes. Bons tempos em que a noite ficávamos ouvindo grandes novelas, como Direito de Nascer, a Hora Sertaneja e programas como Espetáculos Orniex, Tancredo e Trancado e a inesquecível PRK 30. Havia as deliciosas brigas musicais entre Ataulfo Alves e Mirabeau de Oliveira, cada um querendo justificar porque a morena foi embora. Pois é, em vez de duplas tínhamos trios musicais, Iraquitam, Nagô e outros. Todos queriam saber onde o vento escondeu o seu amor. Do Caribe vinha o som contagiante dos mambos e das rumbas, fazendo a gente querer aprender a tocar bongô ou maracas para fazer o acompanhamento. Lembro-me bem de um circo que ficou por um bom período de tempo na cidade e um garoto da trupe, irmão de uma rumbeira, passou a estudar na minha turma no Francisco Varella. Fiz amizade com ele só para poder assistir os ensaios de sua irmã. A vida ia sem pressa, como aquela Maria Fumaça que cortava a estação lá em Bacelar, bem distante da cidade. Tudo isto foi atropelado em 1957 por uma notícia vinda de Baikonur, na voz do locutor do Repórter Esso, de que a Rússia tinha lançado no espaço o seu Sputinik que dava uma volta em torno da terra a cada 80 minutos. Foi o início do fim de um período do rádio ingênuo. Dali para frente a nossa imaginação seria posta de lado pelas coisas vistas. O tempo passou a voar nas asas da boa programação das Rádios, ainda AM, como a JB e as paradas das cores e dos bairros da Rádio Tamoio. Isto porque, pra quem é jovem e tem pressa Hoje é Dia de Rock. Nada mais seria como antes, através das ondas curtas, médias e longas de uma rádio cheia de interferências que fizeram as nossas cabeças e encheram os nossos corações de felicidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário