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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A "FURIOSA" ATACA PELA MANHÃ

Morei por conta de estudar, um certo tempo numa cidade bem pequena em Carmo-RJ. A vida no interior era limitada e eu acho que ainda é, com poucas opções de diversão, por conta disto, você tinha e tem de arranjar algo para fazer, para preencher o tempo que não andava e não anda, ainda mais quando se é jovem, ai é que ele se arrasta. Por isto eu e mais uns amigos, fomos até a sociedade musical local, para apreendermos a tocar algum instrumento, que no meu caso o maestro optou por um clarinete de treze chaves. Depois das aulas teóricas de conhecimento e solfejo musical, passei para a aula prática. O instrumento que me foi cedido era novo e por conseguinte bem seco, não possuindo a sonoridade encontrada em outros instrumentos já amaciados. Aconselhado, muitas vezes, coloquei cachaça no clarinete para ele ficar mais macio, não sei se esta dica possuía algum valor real ou era simples boato de algum músico que gostava de beber. Depois de algum tempo de aprendizado, quando consegui ter uma razoável embocadura, recebi a incumbência de ser o quinto clarinetista da banda e passei a tocar não só na localidade, como em várias cidades fluminenses e da zona da mata mineira. Viajávamos de madrugada para as cidades e antes das 6:00 horas, lá estávamos perfilados, marchando de baixo de um foguetório danado, atacando num dobrado decorado, acordando todas pessoas pelas ruas onde passávamos, assim como acontece com todas as bandas que fazem alvorada. Em muitas cidades tocávamos na praça principal,onde havia um coreto. Só que em algumas tal coreto não possuía cobertura e ficávamos tocando debaixo de um sol causticante, que aumentava ainda mais o calor dentro daquela farda cinza chumbo, com um quepe do mesmo tecido, tipo comandante. Era o inferno de Dantes. Alegria mesmo era quando o maestro anunciava a pausa para almoçarmos. O almoço era sempre muito bom, numa mesa farta, normalmente num clube ou ginásio, com um período de folga depois, porque ninguém é de ferro. Quando na cidade havia um rio próximo, quase todos nós íamos para lá para se refrescar, deixando as nossas fardas penduradas nas árvores a beira do rio. O difícil nesses dias quentes era reagrupar o pessoal para enfrentarmos o sol da tarde. Era um tal de se esconder debaixo dos bambuzais, porque ninguém queria sair da água. Muitas das vezes a banda começava o programa da tarde faltando vários membros. A noite de cima do coreto começávamos a paquerar as garotas que estavam próximas, fazendo muitas vezes alguns destonar, sob o olhar e ouvido atento do maestro, que tudo percebia. O bom de tudo isto era que ao final, além do passeio, sobrava algum trocado, mesmo que fosse pouca coisa para mim o quinto clarinetista da sociedade musical. Um fato curioso aconteceu numa localidade me parece que Volta Grande em Minas Gerais. Debaixo de muitos foguetes, começamos a desfilar em passos rápidos pelo centro da cidade, fazendo a alvorada, acordando a todos, tocando um dobrado bem decorado. Nele havia uma parte em que o primeiro clarinetista fazia um solo em alguns pedaços. Me lembro então, que num determinado momento o maestro olhou para o primeiro clarinetista como a dizer, a banda toda está em suas mãos nesta hora. Ele então ao invés de tocar, gritou para o maestro, com aquela voz gozada, como se tivesse um ovo na boca, própria de alguém sem dentes: - Agora não posso..., minha dentadura caiu lá atrás... e alguém a chutou. Foi uma debandada e riso geral, com todos depois procurando a dentadura do primeiro clarinetista, que foi encontrada no meio de uma moita de capim. Ele apenas soprou os matos que estavam grudados nela e em seguida a colocou na boca. Depois de re-alinhar o grupo, o maestro levantou a sua vareta: - E É UM,... E É DOIS....E É JÁ, dá-lhe "furiosa" - pamparaam...paraampampampam, parampampam...pam...pam..pam...pam..pam...pam...pam!!!     

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