Depois da queda de um avião, a primeira preocupação das autoridades é procurar sobreviventes para fazerem o seu resgate, não havendo estes e mesmo que haja algum, a segunda coisa que buscam é encontrarem a caixa preta para descobrirem as causas da queda da aeronave e aí saberem se houve imperícia do piloto, do comandante ou se o problema foi algum defeito do avião a fim de se corrigi-los para que não haja desastres pelo mesmo problema apresentado. Sim, a caixa preta que fica na cauda do avião, consegue no caso de explosões e incêndios, suportar por cerca de uma hora, temperaturas que chegam a 1.100 graus centígrados, impactos altamente violentos e a pressão aquática de até 6.000 metros de profundidade, para o caso da queda ser no mar. Para aguentar tudo isto, ela é feita de aço inoxidável e titânio materiais muito resistente e tem um sistema seguro para guardar registro de vozes e de dados da aeronave, a fim de estabelecer quais os problemas apresentados com o intuito de dar mais segurança nas viagens aéreas. Por incrível que pareça a caixa preta, não é preta e sim laranja ou vermelha, mais fácil de ser encontrada no meio de destroços queimados ou chamuscados, que normalmente são de cores pretas. De vez em quando de forma simbólica, nos sentimos como uma aeronave que veio a cair, estamos basicamente destroçados e esmigalhados devido á várias pressões, com poucas chances de sobrevivência. Assim, vamos ter de procurar encontrar a nossa "caixa preta" a fim de detectar as causas do nosso desastre. É uma procura muito difícil já que o acesso a ela é muito mais complicado do que a do avião literal que tem um lugar próprio para se procurar, que é a sua cauda. Não tendo lugar específico de armazenamento de dados, nem uma "cor" que nos possa chamar atenção, temos de nos basear na nossa intuição. Detectar as causas que nos levaram a algum fracasso é uma coisa que exige uma introspecção profunda no nosso ser, pois ela normalmente fica escondida aos nossos olhos e também fora do alcance de um escrutínio superficial. Aos poucos vamos eliminando outros possíveis locais da nossa "caixa", até que por fim só resta um lugar a ser esquadrinhado, que é o coração, onde se localiza a sede de nossas motivações. Lá bem no fundo, já no nosso âmago, descobrimos a nossa "caixa preta", ela está dentro de outra caixa, a torácica. Sim, depois da localização de nossa "caixa preta", começa-se um processo doloroso, que é descobrir a causa ou as causas da nossa queda. Após uma minuciosa análise, vamos ouvindo o registro de emoções, dados equivocados, palavras ditas em horas impróprias e até pensamentos indevidos que nos relatam onde começaram os nossos problemas e os erros que vieram a causar a nossa ruína. No nosso caso, descobrimos que foi excesso de confiança, por acharmos que tínhamos um plano de vida perfeito, não dando a devida atenção num pequeno desvio da rota, a que a vida nos levou. O que fazer agora com as informações obtidas? É o mesmo que fazem as autoridades aeronáuticas, quando descobrem o que causou a queda de um avião. Corrigir imediatamente os erros para que não haja mais desastres similares. Assim, também nós vamos procurar tornar a nossa jornada daqui pra frente mais segura, não cometendo os mesmos erros, por saber de antemão aonde eles nos poderão levar. Sim, a nossa "caixa preta" é muito útil em prevenir desastres futuros, com isto em mente, que a tenhamos em lugar bem seguro, em bom estado e ativa, para sobreviver aos grandes impactos da vida, que em alguns casos, são muito mais catastróficos que a queda literal de uma aeronave, onde não há sobreviventes.
sábado, 23 de fevereiro de 2013
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013
QUANDO VOAR ERA MAIS QUE UMA NECESSIDADE, ERA UM CHARME
Hoje em dia ir de um lugar a outro ficou muito fácil graças aos preços das passagens aéreas que ficaram bem acessíveis a todas as camadas sociais, na verdade estão as vezes mais baratas que algumas viagens no mesmo percurso, de ônibus. Assim, qualquer pessoa que tenha algum crédito pode ir à qualquer parte do nosso planeta á preços módicos. Em compensação, o conforto, o bom atendimento, a atenção e o serviço de bordo requintado foram para o espaço. Hoje em qualquer viagem que se faça, o serviço de bordo se restringe a meros biscoitinhos, amendoins e um copo de água. Mesmo em viagens internacionais a comida é de uma simplicidade e tão diminuta, que não dá para satisfazer aqueles que tem um pouco mais de apetite. O espaço entre um passageiro e outro ficou ínfimo, com poltronas bem juntas umas das outras, fazendo as pessoas se sentirem como sardinhas em lata. Tudo isto, para que a viagem seja a mais econômica possível. Tão diferente de algumas décadas atrás, quando viajar de avião era um verdadeiro deleite, um luxo só. O serviço de bordo, mesmo em voos domésticos era de um grande requinte pois algumas companhias serviam aos passageiros até comidas quentes. Quem teve o privilégio de viajar à bordo de um Constellation ou de um DC 7 da PANAIR do Brasil, sabe do prazer que era fazer uma viagem aérea. Nos tempos dourados da aviação brasileira, o serviço de bordo e todo o atendimento da PANAIR era impecável, tinha um padrão internacional. Para aqueles que gostavam, tinha caviar, camarões, salmões, lagostas e outras iguarias que só bons restaurantes possuem, além de trufas e doces fabulosos, whisky escocês, vodca russa, champagne e vinho francês servidos em pratos de porcelana, talheres de prata, copos e taças de cristal, toalhas e guardanapo de linho. Para complementar, tais comidas eram preparadas por renomados chefs de cozinha e servidas por lindas aeromoças. Sim, fazer uma viagem aérea já foi muito chic e tinha todo um glamour. Dava para ver as pessoas embarcando e desembarcando dos aviões, como ainda acontece em alguns pequenos aeroportos. Hoje na maioria dos aeroportos modernos, nós entramos dentro de um túnel e saímos dentro do terminal ou do avião, sem nenhum charme que era subir ou descer as escadas que eram acopladas a aeronave sob os olhares festivos dos que nos acompanhavam ou esperavam. Apesar de algum barulho dos aviões a hélice, nada lhes tirava o brilho e o prazer da viagem aérea. O conforto cedeu lugar a economia. Depois vieram os aviões à turbina que eram bem maiores, com capacidade para centenas de passageiros, como os grandes Boeing da Varig e os Caravelles da Cruzeiro do Sul. Estas companhias embora ainda tivessem um bom serviço de bordo mas já não era o mesmo, o padrão foi decaindo até chegar como é nos dias de hoje. Bons tempos em que nós viajávamos nas asas da PANAIR com muita mordomia e não era apenas para atender uma necessidade de traslado, era um verdadeiro charme.
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
SAUDADES DA MINHA PRETINHA
Há pouco tempo atrás, um amigo postou a foto de uma Pick-up Ford F100, 1959 preta Cadillac. Daí eu logo me lembrei de que possuíra uma Pick-up assim por muitos anos e ao ver tal imagem me bateu uma enorme saudade da minha pretinha. Eu a havia comprado no Rio, dando uma outra Pick-up bem mais nova de entrada, algum dinheiro que eu não me lembro quanto e mais um ar condicionado de 12.000btus, já que eu iria morar na serra e não precisaria mais de ar condicionado. Ela precisava de alguns reparos e algumas adaptações, como foi o caso para colocar o pneu estepe. Tirando assim alguns pequenos problemas, ela estava inteira, a carroçaria não tinha podres, a sua pintura preto Cadillac estava perfeita e o motor era o original, um V8 cromado que fazia um lindo barulho quando se acelerava, próprio de um motor super potente. As suas partes cromadas na frente acima do para-choque estavam impecáveis. Tirei as rodas originais e coloquei quatro aros 24 tala larga de magnésio, também adaptei dois bancos altos de couro. Assim, depois de quase dois meses na oficina para embeleza-la e dar-lhe mais luxo, inclusive com a instalação de ar condicionado para quando fosse a lugares quentes, a minha Pick-up ficou pronta. Era realmente uma belezura ver como as suas linhas arredondadas combinavam harmoniosamente com todo o conjunto e ouvir aquele ronco de um motor potente de muitos cavalos, era demais. Logicamente que ela era uma beberrona, assim, mesmo na estrada ela não fazia mais que 6 kms com um litro de gasolina mas quem vai pensar em gasolina com uma máquina desta. Trouxe-a então para a serra e se não fosse algumas carretas que não davam para ultrapassar, teria subido a serra inteira na quarta marcha que era a sua última marcha, pois não possuía a quinta dos carros mais modernos. Aqui na serra, além de bons passeios em várias cidades com toda a família, muitas vezes eu enchia a sua carroceria de pessoas, meus irmãos, quando íamos na zona rural fazer o trabalho de campo em território isolado, era muito edificante tais passeios e na Pick-up levava-se tudo e ainda sobrava espaço. Me lembro das várias vezes em que fomos fazer o trabalho em Macuco-RJ, um território praticamente virgem, com a pretinha carregada de gente. Em outras ocasiões levei algumas noivas amigas que resolveram se casar em sítio e queriam ter aquela Pick-up para dar um ar mais bucólico e original em seu casamento. Infelizmente depois de alguns anos, a minha ex mulher criou uma implicância com a Pick-up, por conta de que as crianças iam lá atrás na carroceria ao relento, as vezes pegando frio e chuva. Foram tantas as suas reclamações ao ponto de eu ficar tão desanimado com isto, que num momento de desabafo eu resolvi, não vendê-la mas dá-la ao meu irmão mais novo, que a levou de novo para o Rio. Lá ela chegou a virar capa de caderno escolar mas meu irmão não cuidou dela como deveria e ela depois de algum tempo foi deixada por ele num terreno baldio perto do Retiro dos Artistas em Jacarepaguá no Rio. É aquele velho ditado, quando a pessoa não faz nenhum esforço para ter alguma coisa, não lhe dá o devido valor. Assim, depois de alguns anos encostada, ela foi vendida por ele quase a preço de banana, para uma pessoa da região sul do país, sumindo de vez de nossos tristes olhares a sua linda e curvilínea imagem.
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013
UMA BATIDA DIFERENTE
Uma das coisas que nós brasileiros gostamos bastante, é de vez em quando tomar umas batidas, ou drink's. Seja de limão, de coco, de amendoim, de morango e de tantas outras frutas. Já ouvi falar de batidas de bombons misturados com leite condensado e guaraná, de cidra de maçã e pêssegos em caldas e tantas coisas que na verdade tudo pode virar uma batida, ou um drink's, o Paulo do "larica total" que o diga. Sim, sempre pode haver uma batida diferente. Me lembro que lá na Avenida Brás de Pina, na Vila da Penha no Rio, havia um bar que era conhecido como "Rei do Limão" frequentado por vários artistas famosos, que se despencavam da Zona Sul para um subúrbio carioca da Zona da Leopoldina, a fim de tomar uma excelente batida de limão, que o barman caprichava na boa da casa. Logicamente que hoje com a Lei Seca, só poderemos tomar alguma se não formos dirigir, para não causarmos algum mal e até mesmo sermos presos. Deixando de lado este tipo de batidas, ou drink's, vamos falar de um outro tipo de batida, a musical. Mas o que é uma batida musical? Pra entendermos um pouco, no compasso musical há o som, a batida propriamente dita e o espaço vazio, entre um som e outro. Quando isto é feito de forma natural, no mesmo compasso, a música é métrica, agora, quando este espaço vazio, ou descompasso é entrecortado por uma batida, que é uma síncope, como acontece no jazz, há uma batida diferente. Até os anos cinquenta a música nacional brasileira de raiz, ou seja o samba, tinha um tipo de batida, aquela simétrica em que a batida forte era no lugar correto e não na parte fraca. De repente nos surge um rapaz vindo do sertão da Bahia, com um violão debaixo do braço e uma voz pequena, tocando e cantando de uma maneira sui-generis, sem esticar as palavras e dando ênfase a frases que eram ditas de uma só vez e não as palavras em si mesmo. Seu nome: João Gilberto. Daí pra frente a batida do samba, que é a música popular mais representativa do país, nunca mais seria a mesma. Estava lançado os alicerces para o que ficou conhecido como "bossa nova", que influenciou toda uma geração de músicos nos anos sessenta, como até mesmo o próprio jazz, a mais criativa e sincopada música americana, que andava meio sem perspectiva devido a invasão do rock, precisando de um caminho novo a seguir. Muitos achavam que cantar da forma como o João cantava era fácil, já que não se precisava de um vozeirão como possuíam os cantores famosos da época, mas isto não era bem assim, porque cantar da forma como ele cantava e ainda canta, exige uma sonoridade e uma compreensão rítmica fora do comum para não desacertar o compasso, além é claro de uma afinação perfeita. Assim, os seus covers que surgiram em grande quantidade Brasil afora, foram aos poucos desaparecendo, só restando mesmo o inigualável João Gilberto, que até hoje lota imensos teatros e grandes casas de shows, não só no Brasil como em qualquer parte do mundo onde se apresenta, porque apesar de já terem se passados mais de cinquenta anos, desde a sua primeira batida, com chega de saudade, a do bim-bom e ôba-la-la, ela continua perfeita é uma batida diferente, única, tal como uma inigualável caipirinha da boa, como era lá do Rei do Limão, que eu não sei se ainda existe. Agora, se você que estava lendo este link, gostaria mesmo é de uma receita de uma batida ou drink's totalmente diferente, daquelas drásticas, vai lá: é a batida de cerveja, pra isto usa-se o líquido de duas latas de cervejas, três medidas de cachaça, uma lata de leite condensado, tudo batido no liquidificador, depois coloque gelo à vontade. Nunca experimentei, por isto não sei no que vai dar, além é certo de uma tremenda dor de cabeça se você exagerar e beber demais, porque em tudo deve-se haver moderação.
sábado, 9 de fevereiro de 2013
CONSCIÊNCIA DO TEMPO JÁ VIVIDO
Havia uma lenda muito difundida de que os elefantes, tanto os africanos como os asiáticos, perto do seus dias finais se distanciavam da manada, indo para um local, conhecido como cemitério dos elefantes e lá morriam praticamente solitários. Mais tarde, descobriu-se que isto acontecia não porque eles tinham consciência da proximidade da morte mas sim, devido a não poderem acompanhar os passos dos mais novos, bem como da dificuldade em comer alimentos devido a perda de dentes. Assim, eles vão ficando para atrás, juntando-se a outros também elefantes velhos, vindo a morrer de fome talvez em locais bem próximos uns dos outros, por isto chamado de cemitério de elefantes. Diferente desta ideia, de que os elefantes teriam consciência dos seus dias finais, é o que se descobriu de verdade, sobre uma tribo indígena que habita uma região do Estado de Rondônia, os amondawa que não tinham nenhuma percepção de espaço e tempo, para eles este lapso não existe, não sabem contar as semanas nem os anos. Nós que não somos os enormes paquidermes dos territórios africanos e asiáticos, nem fazemos parte da clã indígena de Rondônia, temos consciência do tempo já vivido até agora, o que não sabemos e isto é para nós um grande bem, é o tempo que nos resta.de vida neste sistema atual. Isto porque, alguns conseguem chegar a uma idade centenária, como o recém falecido e famoso arquiteto Oscar Niemeyer, que morreu ás vésperas de completar 105 anos. Infelizmente, outros são privados da vida, muito jovens no auge de suas potencialidades e com um futuro promissor á sua frente, como os da tragédia de Santa Maria no Rio Grande do Sul. Assim, vamos fazendo uma média e imaginando o tempo que nos resta, caso não haja nenhum acidente de percurso. É certo que o tempo de vida útil nestes dias atuais, tem sido aumentado, graças ao avanço da medicina que conseguiu erradicar muitas doenças que até algumas décadas atrás eram letais, como a tuberculose mas em contrapartida, o estilo de vida que levamos em especial nas grandes cidades vai nos sobrecarregando de stress e com isto aumenta a incidência de alguns tipos de câncer e não há coração que resista. Por conta disto, de vez em quando ouvimos notícias de que alguém famoso morreu ainda jovem, depois de uma luta árdua contra um câncer ou de um enfarte fulminante. Assim, seria prudente pormos á nossa barba de molho e procurar levar uma vida mais saudável, não aviltando nosso corpo com coisas prejudiciais, como acontece nestes dias momescos em que as pessoas parecem endoidecidas e fazem coisas que põem suas vidas em riscos. Não queremos ficar pelo caminho, bem lá atrás como os solitários e velhos elefantes, que embora tenham uma comprovada excelente memória, não conseguem por conta do descompasso do seu andar, acompanhar a manada rumo a uma boa e relvosa pastagem, banhadas de grandes e refrescantes charcos que sempre existem, tanto em solo africano como no asiático, mesmo nas piores secas e que se fossem alcançadas, lhes daria muitos anos a mais de vida. Com estas coisas em mente, olhamos para o futuro confiante por estar prestes ocorrer uma radical mudança e com ela esperamos viver num período aqui na Terra, em que os anos de vida do grande Niemeyer serão irrisórios, perto da infinidade de anos que poderemos viver e que serão de milhares de milhares, por bebermos não as águas lodaçais de um charco africano mas as simbólicas límpidas e vitalizadoras águas do rio da vida.
terça-feira, 5 de fevereiro de 2013
NO FIO DA NAVALHA
Dizem que quando alguém está sem opções, na verdade só tem uma, ele está "no fio da navalha". É um momento em que sua decisão não pode falhar, ou vai ou racha, ou vive ou morre. Sim, muitas vezes nos encontramos numa encruzilhada em nossas vidas em que temos de decidir algo que é primordial para a nossa sobrevivência e é uma escolha difícil, pois ou é uma coisa que pode resultar em nossa salvação ou pode a coisa escolhida ser catastrófica, que resultará em grandes danos, até mesmo na nossa morte. Este momento, o da decisão é como se estivéssemos no fio da navalha. Falando em navalha, do ponto de vista literal e não simbólico, me lembro que quando começou a nascer os primeiros pelos ou penugem no meu rosto e estes começaram a ganhar uma cor escura, meu pai me presenteou com uma excelente navalha Solingen preta, além é claro de uma pequena vasilha de alumínio para colocar o creme de barbear e um pincel de duas cores. Também me ensinou não só como eu deveria manusear a navalha para me barbear e não me cortar, como me ensinou a amolar a mesma numa tira de couro esticada e colada sobre uma pequena ripa de madeira. Disse-me ele: - Para amolar bem a navalha você tem que passa-la várias vezes em tal tira de couro, de um lado e do outro na parte do seu corte mas com uma pequena inclinação, não mais que uns quinze graus. Assim, depois de tirar alguns pedaços da minha ainda sensível pele e após muitos sangramentos por cortes feitos, fui aprendendo a usar a minha Solingen, ao ponto de alguns garotos meus vizinhos sabendo dos meus dotes com tal ferramenta, irem até minha casa para eu passar a navalha em suas cabeças, para ficarem bem raspadas, igual uma bola de bilhar. Relembrando tais fatos, hoje eu posso dizer que eles eram bem corajosos, por sujeitarem suas cabeças e seus pescoços a mim, ainda um aprendiz no manuseio de um objeto tão perigoso. Bons tempos aqueles, em que não havia quaisquer contaminação pelo uso de tal navalha em várias pessoas, bastava limpar o resíduo da barba numa folha de papel tipo higiênico, o "arapongas" e tudo bem. Após o barbear, passávamos uma água mentolada e ficávamos com a cara bem lisinha, tal qual um bumbum de bebê. Depois com o advento da Aids, as navalhas foram substituídas nos barbeiros, pela navalhete, que é uma navalha sem lâmina própria e adaptada para receber metade de uma lâmina de gilete a qual depois do uso era descartada. Só que esta lâmina, quando se tentava escanhoar bem a pele, por fazer o corte no sentido contrário ao crescimento dos pelos, as vezes fazia encravar alguns cabelos da barba e para desencrava-los dava um trabalho danado, pois tínhamos que primeiramente levantá-los de dentro da pele com um alfinete, para depois retira-los com uma pinça. Me lembro ainda que quando ia ao barbeiro e este sem querer fazia um corte no nosso rosto ao nos barbear, no final da barba, ele pegava uma pedra ume, ou hume e passava no local para cicatrizar a ferida, após o que metia aquela loção alcalina e passava nos abanar com uma toalha para refrescar o nosso rosto que estava como que pegando fogo. Pena, que hoje esta profissão de barbeiros está em decadência, pois com o advento das descartáveis laminas de aparelhos de plásticos, que facilitou muito em se barbear em casa, poucas pessoas vão ao barbeiro, ou fazem a sua barba com uma navalha, como aprendi com meu pai. As navalhas já foram não só ferramentas para o bom barbear mas eram a arma principal da maioria dos malandros que frequentavam o centro boêmio do Rio de Janeiro, como a Lapa e a Cinelândia. De vez em quando havia brigas, entre dois malandros cariocas portadores de navalha e que normalmente também eram praticantes de capoeira, assim eles davam os seus rabos de arraia e outros golpes malabaristas da ginga da capoeira com as suas cintilantes navalhas empunhadas, passando elas para lá e pra cá no corpo do rival, que normalmente usavam camisas de seda para tirar o corte das navalhas, tudo aquilo parecia cenas cinematográficas, dignas de uma emocionante luta do Bruce Lee, que causavam um arrepio e comoção na platéia. Nestas ocasiões, a vida ficava literalmente no fio da navalha.
sábado, 2 de fevereiro de 2013
AS PREVISÕES DA MARMOTA
No hemisfério norte, há um roedor tipo esquilo, conhecido como Marmota, que reza a tradição, consegue prever se o inverno está terminando, ou se terá mais seis semanas de frio. Isto porque ao sair de sua toca de hibernação, fato que acontece sempre no dia 2 de fevereiro e ver a sua sombra é um sinal de que os dias frios vão continuar e a primavera de fato só vai acontecer daqui ha seis semanas, razão porque ele, tal roedor, volta á hibernar. Por conta disto existe nos Estados Unidos, em especial na Pensilvânia, o Clube da Marmota e até existe o dia da Marmota, que é o dia 2 de fevereiro. Vivemos num mundo cercado de crendices populares e tradições que atravessam séculos, indo de gerações a gerações de famílias, na crença de algo, sem nenhum embasamento científico, como sendo um fato verdadeiro ou certo. Outras nem tanto, não são crendices e sim fatos até certo ponto embasado em observações de comportamento dos animais, por um longo período, como por exemplo, algumas pessoas admitem que a agitação de certos pássaros e a forma de como se dá o latido de alguns cães, é um sinal de que está prestes a ocorrer um terremoto e tomam as precauções necessárias. Dizem que algum tipo de cachorro, de olfato bem apurado, pode até detectar o cheiro de tecido canceroso em um ser humano, ainda no seu estágio inicial. Eles podem ainda localizar pessoas vivas, quando existe um desmoronamento de prédios, por ocasião terremotos ou outras catástrofes, sendo muito úteis aos bombeiros nos resgates de vítimas, como o são para a Policia os cães farejadores de drogas. Sim, são muitas as coisas que demonstram como os animais tem um sentido ou outro tipo percepção mais apurado que o ser humano e por conta disto, não que possuam o dom de prever coisas mas são capazes de detectar algo por acontecer, que nem mesmo os nossos aparelhos mais modernos podem detectar. Por exemplo, nas minas de minério de carvão onde a profundidade delas é muito grande, chegando algumas a terem quilômetros, é natural os mineiros levarem alguns pássaros. Assim nestas tais minas subterrâneas de carvão, ou de outros minérios, os que vão á frente levam quase sempre um canário e ao verem que este está bem agitado, os mineradores logo saem do local, porque há um grande perigo do ar está contaminado por gases tóxicos, que podem até explodir as minas, os quais não são detectado por aparelhos, mas pelo simples canarinho, o primeiro a dar sinais de que algo está errado com o ar. Assim vemos, que tirando as crendices populares os animais possuem mesmo alguns sentidos bem mais apurado que o nosso e são de grande ajuda na nossa sobrevivência. Infelizmente, apesar de toda ajuda que nos fazem, pagamos com outro tipo de moeda, pois muitos desses animais são sacrificados e dolorosamente mortos como cobaias, em prol da ciência, para se tentar com a sua dor e morte, aprendermos a cura para os nossos males de cada dia, coisa que nenhum animal com o melhor dos seus sentidos, poderia prever, pois é feito por aqueles que justamente deveriam e tem a obrigação de protegê-los.
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