Um minuto de comercial, alô, alô Terezinha, é um barato a Discoteca do Chacrinha. Assim iniciava o intervalo do programa de Abelardo Barbosa, o Velho Guerreiro, que comandava com irreverência as tardes de sábado na TV do Jardim Botânico. O maior comunicador do rádio e da tv brasileira nasceu no interior de Pernambuco, mas veio parar ainda jovem no Rio, por conta de um percalço, a Segunda Guerra Mundial, que o impediu de ir para a Alemanha, seu roteiro original. Aqui em solo carioca, no início da década de 40 começou, a princípio, como locutor da Rádio Tupi. Depois com estilo próprio foi abrindo espaço, primeiramente como lançador de músicas de carnaval na Rádio Fluminense até chegar a sua famosa Discoteca da Chacrinha e não do Chacrinha, mas que lhe rendeu o famoso apelido. Abelardo era a princípio o comunicador do "povão", que se identificava com a sua forma de ser, enquanto o público mais elitizado preferia Flavio Cavalcanti, com seu programa mais sério e de cara fechada, como a de um dos seus jurados, o Zé Fernandes. Depois, Chacrinha, com o apoio dos baianos que lançaram o tropicalismo, se tornou um ícone da classe intelectual, que sempre o prestigiava como jurados de seu programa de calouros. Assim, conseguia mesclar no mesmo auditório a classe mais pobre -de empregadas domésticas, serventes e porteiros- com a classe de socialites e os que dominavam a cultura do país. No seu programa de auditório havia de tudo, tanto o fon fon da buzina nos maus calouros como o lançamento de vários artistas, que só ganharam a projeção nacional depois que estiveram na sua famosa Discoteca. Coroou reis, jogou bacalhau, farinha, pepino e outros itens na platéia, recebeu artistas internacionais que se entusiasmaram com a sua forma louca de dirigir um programa e que era a cara do Rio, sempre alegre e de bom humor, apesar de tudo. Por trás de tudo isto tinha um fiel escudeiro, um homem sem dentes que atiçava como palhaço a platéia, era Antonio Pedro, o Russo, que desde 1965 o acompanhou em todos os momentos de sua fulgurante trajetória na telinha do "plim, plim" e na outra. A coreografia ficava por conta de mulheres bonitas e de nomes exóticos, conhecidas como "as chacretes", que o Velho Guerreiro tomava conta como se fosse o pai delas. Aos 70 anos, seu alegre coração parou de bater, deixando-nos mais tristes, órfãos de sua contagiante alegria e entre outras coisas, um legado em forma de frase: QUEM NÃO SE COMUNICA SE TRUMBICA. Fico eu aqui, remoendo um passado distante que foi muito bom e que infelizmente não volta atrás, mas que dá uma enorme saudade, isto dá.
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