É difícil alguém reconhecer um fracasso ou a incapacidade de conseguir algo. Assim, preferimos depreciar a coisa ou a pessoa, dizendo que ela é inadequada para nós e começamos a despejar uma enxurrada de defeitos para justificar a nossa inaptidão. A fábula de Esopo ou de La Fontaine é muito conhecida. Uma raposa faminta, chega a uma parreira de uvas carregada de frutas maduras, só que por mais que tente alcança-las não consegue e para justificar o seu fracasso, diz que elas estão verdes e azedas, só servem para os cães. Muitas vezes nós desejosos de alguma coisa, tentamos de tudo para obtê-la. Mas por mais que façamos, parece que a coisa fica mais distante ou inalcançável. Ao invés de reconhecer este fato, ou seja, a nossa incapacidade de obtê-la, preferimos como a raposa, depreciar aquilo que era objeto de nosso desejo, pondo-lhe defeitos ou dizer que não nos serviria para nada. Isto é uma tremenda desfaçatez, próprio de alguém mau caráter, que não admite a sua derrota ou incompetência. Infelizmente a maioria de nós age assim, como expressou Fernando Pessoa, sob o pseudônimo de Alvaro de Campos, "nunca conheci alguém que levou "po..ada", a maioria dos meus amigos são campeões em tudo. Será que só eu sou humano, que perde, que pratica atos vis"? Todos nós achamos que somos os "mocinhos" da estória, os outros são os bandidos, os vilões. Isto acontece não só no plano pessoal, mas também na coletividade, como no caso de países. Nenhuma nação, tem em seus livros de história, a narrativa de suas derrotas frente a outras potências, de seus fracassos, de barbaridades cometidas contra outros povos mais fracos, só são relatadas as vitórias, os seus sucessos, os atos de heroísmos, já as derrotas as coisas ruins são escondidas debaixo de um tapete bem grosso. Sim, é preciso admitirmos que somos humanos e portanto sujeitos a erros, a atos desprezíveis e vis, que nos envergonhariam, mas o que fazer, se não somos semi-deuses, muito pelo contrário, cometemos falhas uma atrás das outras, por mais que tentemos não errar. Nunca deveríamos partir para uma alegação falsa, depreciativa de alguém, simplesmente pelo fato de não conseguirmos alcança-la, como uma pessoa amada que não nos dá a mínima bola. Infelizmente, muitos acham que é mais fácil derrubar alguém para vê-la numa posição inferior, do que tentar alcança-la num estágio mais alto. Embora é bom ter a sagacidade das raposas, tida como animais expertos, matreiros, mas nunca imitá-la neste contexto da fábula, de alegar que a coisa desejada é imprestável só pela dificuldade de possuí-la, o que caracteriza um despeito, pois como diz um outro ditado: "QUEM DESDENHA QUER COMPRAR".
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