Quando voltei do interior para a antiga Capital, andei trabalhando em alguns escritórios até que, depois de concluir o curso de técnico em contabilidade, fui trabalhar em um que ficava na Avenida Treze de Maio, no 19º andar, de frente para o Teatro Municipal no Rio. No 25º andar deste mesmo prédio, havia a Rádio Guanabara e a fila do elevador para o escritório onde trabalhava e a da rádio era a mesma. Assim, de vez quando algum artista que ia se apresentar na aludida rádio, utilizava o mesmo elevador que eu. Alguns programas ao vivo eram bastante concorridos e a fila do elevador se tornava extensa. Era o caso do programa do Carlos Imperial, aquele que criou o bordão de ao ler as notas das escolas de samba, falava bem alto: "dez..., nota dez...". Carlos Imperial, um cara muito inteligente e polêmico, tinha como frase favorita a que "preferia ser vaiado em seu Mercoury Cougar do que ser aplaudido dentro de um ônibus", foi o precursor do rock no Brasil. Assim, Carlos Imperial possuía um programa na Rádio Guanabara, totalmente voltado para o público jovem, que era do iniciante rock nacional, não bem nacional, mas mais precisamente de versões de músicas americanas, como as de Rossini Pinto e Fred Jorge. Outro programa também bastante animado era o do José Messias, mas este admitia outro tipo de música, tipo as cantadas por Núbia Lafayete ou Anísio Silva. Por diversas vezes, quando estava na fila do elevador, aparecia tanto o Roberto como o Erasmo Carlos para irem a Rádio e, por alguns minutos, compartilhávamos o mesmo pequeno espaço. Roberto Carlos, naquela época, já tinha o assédio de algumas garotas, não muitas. Em nada fazia antever que ele alcançaria o sucesso que hoje possui e se transformaria no Rei, título designado com direito a coroação e tudo por Abelardo Barbosa, o Chacrinha, no seu programa a "Discoteca do Chacrinha". Me lembro dele e do Erasmo, encostando na Avenida Treze de Maio o seu Chevrolet Bel Air, conversível creme e marrom, antes de irem pro Edifício Darke. Os tempos ainda não eram de vacas gordas para eles, por conseguinte, o aludido Chevrolet não era novo, já possuía alguns anos de uso, embora bem conservado. No escritório onde trabalhava havia uma secretária de nome Marilza, moradora do Catete, que dizia ter sido namorada do Rei. Não sei se existe alguma verdade nisto ou se era apenas uma propaganda enganosa a fim de se auto promover. Neste período, frequentava o escritório de contabilidade onde eu trabalhava, um fiscal do antigo INPS de nome Amauri. Sabendo que eu tocava saxofone, me fez a proposta de me apresentar a algumas pessoas que poderiam dar um empurrão na minha carreira de músico. Um dia subimos até a Rádio Guanabara e ele me apresentou ao locutor José Messias. Este, depois das apresentações, me disse que tinha um programa na TV Continental, que ficava nas Laranjeiras. Era também um programa de gente jovem e músico segundo ele, sempre era bem vindo para acompanhar os artistas. Me forneceu um bilhete e recomendação para me apresentar ao diretor musical para ver se poderia me encaixar no quadro. Nunca compareci a tal programa porque meu pai, depois de ter-lhe contado o ocorrido, me disse categoricamente que música só por hobby e não por profissão. Não sei se hoje estaria advogando ou tocando músicas, como os meus referenciais da época, o indefectível Bob Fleming, nome artístico do grande saxofonista Moacyr Silva e o americano que acompanhava João Gilberto, Stan Getz. Só sei que a princípio foi muito doloroso ter de deixar uma coisa que me agradava muito. Por conta disto, nunca mais quis saber de tocar sax. De vez em quando, vou até o Rio e ao Edifício Darke, ao subir no elevador me vejo naquele apertado espaço, tendo ao lado o Rei, ainda bem novo, cantarolando alguma coisa e poucos súditos ao redor para apreciar e ao sair diz para o ascensorista: "É UMA BRASA MORA". Valeu bicho, você já era o cara!!!.
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