A Sibéria constitui boa parte do território russo, ou seja, mais da metade dele. Lá tem um dos climas mais frios do mundo, onde a temperatura chega fácil aos quarenta graus negativos. É uma imensidão de território gelado, com vasta área de estepe ou vegetação baixa, sem árvores. Agora imaginem, um enorme país gelado e sem árvores, é uma visão devastadora e sombria, para nós acostumados com muito sol e uma vegetação luxuriante dos trópicos. Muitos dos dissidentes políticos dos governos comunistas da antiga Rússia foram enviados para a Sibéria, como se tivessem sido mandados para um campo de concentração longínquo, sem direito ao retorno. Há algum tempo atrás, por perseguição religiosa, alguns cristãos também foram expulsos das metrópoles russas e enviados para a Sibéria como castigo. Embora tivessem perdido tudo o que possuíam em sua cidade natal, não perderam a alegria na obra cristã e aproveitaram a chance e começaram a fazer muitos discípulos em tal região, ou seja, o tiro do governo saiu pela culatra, pois várias congregações foram criadas em tais locais, onde não havia nada. Sim, a Sibéria já foi um local de castigo, hoje nem tanto, mas ainda é um país de grandes contrastes, de difícil acesso e muito distante do nosso, tendo uma diferença de fuso horário de 13 horas. Para compensar tanta frieza há o
calor humano dos seus habitantes, que se esmeram na hospitalidade e gentilezas com os que lá visitam. Mas, às vezes, a nossa "Sibéria" é aqui mesmo, na nossa cidade, na nossa rua ou até mesmo na nossa casa, onde por algum motivo, somos como que isolados ou esquecidos das pessoas. É um verdadeiro castigo estar em tal "Sibéria", é como se não existíssemos. Nada dói mais do que ser ignorado ou não levado em conta, é como se já estivéssemos mortos, apenas não temos plena consciência disto, por insistimos em viver ou simplesmente respirar. Sim, são muitas as formas de "Sibéria", algumas delas vamos por vontade própria, desejando nós mesmos isolar-nos ou dar um tempo a sós em nossas vidas. Outras vezes não, esta situação nos é imposta, como uma retaliação por algo que fizemos ou acham que fizemos. Neste caso, se foi indevida ou houve um erro de avaliação é muito triste. Me lembro de um cantor que durante alguns anos dominou o cenário musical brasileiro, levando ao delírio milhares de fãs num show que fez no Maracanãzinho, quando nem era o astro principal do evento. Era um verdadeiro maestro das massas, que dominava como ninguém, fazendo todos cantarem o seu refrão. Quando estava assim no auge de sua carreira, aconteceu um fato policial envolvendo seu nome e de uma hora para outra aquele manipulador das massas se viu só, rejeitado e esquecido por todos, como se tivesse sido mandado para a "Sibéria" do ostracismo. Passou quase vinte anos de sua vida no mais completo anonimato, sem nenhum trabalho como cantor, apesar de todo esforço que fez para provar a sua inocência. Houve um verdadeiro boicote à sua pessoa. Por conta disto, entrou em depressão, passou a beber, se tornou alcoólatra e morreu de cirrose hepática, ele não aguentou a sua "Sibéria". Às vezes também me sinto isolado na minha "Sibéria". Quando isto acontece, tento ver o mundo além do muro de isolamento que me é imposto, não me permito ficar restrito ao meu local de cativeiro. Sempre que posso alço voo na minha imaginação, para locais onde eu tenha a companhia de pessoas que me querem bem e não me desprezam
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