Uma das características marcantes destes tempos em que vivemos é a ingratidão. As pessoas em geral, desconsideram aquilo que outros fizeram de bom grado para elas, muitas vezes à custa de grandes sacrifícios, achando mesmo que tal proceder não passou de uma obrigação e que portanto não tem nada a agradecer. Felizmente, outras pessoas ao contrário, coisas mínimas que lhe fazemos dão um grande valor a isto e se mostram eternamente gratas. Na minha vida eu tenho convivido com estes dois tipos de pessoas, não vou falar das que agiram com ingratidão, um número bem maior e sim das que foram gratas num aspecto específico da minha vida, que foi na relação de trabalho. Durante esta minha trajetória de trabalho, convivi com muitas secretárias, estagiárias e sócias no escritório e posso destacar três, como exemplos de pessoas que sempre demonstraram gratidão por aquilo que eu nem sei se fiz realmente a seu favor, mas elas não se cansavam ou não se cansam de expressar tais sentimentos. Uma, ha mais de dez anos deixou de trabalhar comigo, mas ainda demonstra por gestos e atenção que é uma pessoa grata, é a Catiana, a quem eu tenho em alta estima, tanto a ela como a seu esposo, sua filha e seus irmãos. Tem também a Luciana que sempre demonstrou gratidão e não posso de maneira alguma esquecê-la, como uma pessoa que sempre me ajudou em momentos difíceis. A outra vou lhes contar a história. Depois de trabalhar num banco e num cartório, resolvi exercer a minha profissão, deixando para trás tais empregos com salário fixo e até certo ponto bem remunerado. Assim depois de um certo tempo, onde passei algumas dificuldades quebrando não simples pedras mas verdadeiras pedreiras, ao fazer uma sustentação oral num Tribunal do Juri no Rio de Janeiro, fui procurado no final da audiência, por duas estagiárias que o assistiram e me pediram um cartão do meu endereço. Dei-lhes o cartão e logo no dia seguinte, lá estavam elas na sala de espera me aguardando. Depois das apresentações e informes sobre os seus estudos, elas indagaram se poderiam trabalhar comigo. De pronto lhes disse das minhas dificuldades financeiras e que não tinha condições de lhes pagar algum salário, mas uma delas se adiantou e disse que queria trabalhar comigo assim mesmo, sem qualquer remuneração. Esta estagiária se chamava Vera Lúcia e aquela sua disposição me quebrou, não tendo eu argumento para refutar tal oferta. Assim, no dia seguinte já estava ela trabalhando comigo, organizando o meu bagunçado escritório, pondo em ordem uma pilha de petições e processos amontoados em minha mesa. Com tanta dedicação e trabalho, logo, logo, começaram a aparecer os frutos de seu empenho, pelo aumento de clientes e dinheiro que até então era muito escasso, pois neste aspecto sempre fui um desastre. Vera aos pouco foi me conquistando pela sua gratidão e lealdade ao ponto de que assim que ela se formou, a tornei minha sócia não minoritária mas em igualdade de condições. Passado algum tempo ela se casou e nossa amizade se estreitou ainda mais, pois nossas famílias estavam sempre juntas, usufruindo de uma grande amizade dentro e fora do serviço. As vezes ela, seu esposo e seu filho recém nascido, nos grandes feriados, como carnaval e outros, iam todos para minha casa que mais parecia um clube e lá permaneciam á semana inteira. Com Vera gerindo financeiramente á minha vida, acabaram-se as épocas de vacas magras, ao ponto de eu achar que com que eu já havia adquirido daria para viver tranquilamente em uma cidade mais pacata sem grandes preocupações, o que de fato fiz. Vera ficou muito triste e não concordava com esta minha decisão mas eu lhe disse que não pretendia ficar rico, pois a felicidade não vem de bens materiais e sim de outros fatores. Assim, lhe vendi a minha parte no escritório e outros bens imóveis que havíamos adquiridos juntos e vim para uma cidade menor no interior fluminense, onde permaneço até hoje. Sempre que podia Vera me ligava para saber se eu estava bem ou precisando algo e quando é que eu voltaria para trabalharmos juntos novamente. Eu sempre lhe dava alguma desculpa e lhe dizia que tudo estava ok, continuando aqui com a minha vidinha simples. Financeiramente Vera ficou muito bem, podendo se dizer mesmo que era uma pessoa que havia alcançado seus objetivos. Infelizmente com sua saúde, as coisas não ficaram bem, pois ela foi acometida de uma grave doença que lhe roubou a vida prematuramente, quando ainda jovem. Fico eu rememorando aqueles dias felizes da nossa parceria e constato que se hoje ainda possuo algo, foi graças ao trabalho e a gerência de Vera a quem vou ser eternamente grato, por ter cuidado de mim neste aspecto, numa época muito difícil. Espero um dia, se o Criador me achar merecedor deste privilégio, estar presente quando Ele a acordar do sono da morte e depois de lhe dar um longo e saudoso abraço, lhe dizer isto pessoalmente: - Muito obrigado Vera por tudo o que você fez por mim.
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