Uma jovem americana, Raphaella S. escreveu um e-mail para o mais importante jornal de finanças do mundo, The Financial Times, alegando ser uma mulher maravilhosamente linda, de 25 anos e queria saber se o jornal poderia lhe dar uma dica de como arranjar um marido rico, alguém que ganhasse acima de meio milhão de dólares por ano, a fim de se casarem para poder de lhe dar uma boa vida, morando inclusive no Central Park West, pois alegava ela, apesar de sua extraordinária beleza e classe, só tinha conseguido namorados que ganhavam "míseros" duzentos e cinquenta mil dólares por ano, o que para os seus exigentes padrões eram insuficientes. Um editor associado do aludido jornal, Philip Stephens, resolveu lhe responder, inclusive salientando que ele estava dentro dos padrões exigidos por Raphaella, já que ganhava mais de 500.000 dólares anuais, cerca de um milhão de reais e passou a tecer as suas considerações financeiras sobre o caso, pois era um especialista nisto. Embora ela não tivesse enviado uma foto, acreditava Philip, que Raphaella deveria ser uma mulher muito bonita e no auge de sua beleza aos 25 anos. Assim, comentou ele, tal como diria o nosso Odorico do "Bem Amado", deixando os entre-tantos de lado e indo logo para os finalmente, vê-se que você está propondo um negócio em que entraria neste arranjo com sua beleza e eu entro com o meu dinheiro. Só que, continuando ele, enquanto o meu dinheiro irá render dividendos, ou seja, é um ativo em ascensão irá sempre crescer, a sua beleza é um ativo em depreciação progressiva, ou seja, a cada dia valeria menos, até não valer nada. Embora ele, reconhecesse que ela poderia continuar bonita por mais uns cinco ou dez anos, mas sempre a cada ano menos do que o ano anterior, até chegar a um ponto que ela se tornaria um verdadeiro caco, sem valor algum, enquanto o seu dinheiro só aumentaria. Assim, ele não via nenhuma vantagem no negócio proposto por ela, de ter um marido rico por conta de sua beleza, propondo ele outras coisas alternativas para uma ligação temporária entre ambos, que não vamos entrar em detalhes. O ponto que gostaríamos de destacar é, que muitos casamentos ou união estáveis, assim como pretende a nossa Raphaella são consumados na base de interesses ou vantagens financeiras em que um, quase sempre a mulher entra com a sua beleza e o homem com o dinheiro e o conforto que isto pode trazer, já o amor, o companheirismo e o respeito mútuo que deveriam permear a união de um casal e serem levados em conta na hora da escolha de um prospectivo cônjuge, são deixados de lado. Isto porque a beleza por maior que seja, pode durar um certo tempo, mas ela inexoravelmente se desvanece em qualquer pessoa por mais que se cuide dela e a prolongue. Ela até certo ponto pode servir, como é o caso em que estamos falando de se arranjar um bom partido marital, mas não é a garantia de que tal união irá prosperar ou permanecer. Sabemos que a beleza abre algumas portas em certas carreiras, como de modelo, de manequim, de atriz e outras em que é necessário se ser bonita, mas a partir daí, a pessoa tem de ter outros atributos, não pode ficar restrito simplesmente a ela. Porque é difícil suportar uma pessoa por mais bonita que ela seja, se for burra. Isto não significa dizer que toda pessoa bonita não possua atributos e qualidades boas, muitas as tem até mais do que algumas pessoas consideradas feias. É muito bom, quando alguém é uma pessoa bonita por fora e linda por dentro, eu mesmo conheço várias pessoas assim, elas são como tesouros valiosíssimos. Agora falando do dinheiro, este se for bem administrado pode as vezes durar um pouco mais de tempo, mas também pode de uma hora para outra se extinguir, com a perda de um bom e remunerado emprego e outras crises do mercado. Isto porque, vivemos num sistema financeiro perverso, onde fortunas em que se levaram décadas para serem construídas podem se evaporar num piscar de olhos, como aconteceu na grande depressão americana da década de trinta e no recente boom imobiliário também americano. Assim, muito melhor do que basearmos as nossas expectativas em uma beleza fugas e em dinheiro que acabam, coisas muito transitórias, baseemos em coisas mais sólidas, como a beleza interior, o nosso bom nome, que não se desvanecem como uma frágil flor que hoje adorna um ambiente e amanhã é jogada no lixo. Cultivemos coisas que tem a ver com o nosso caráter, o que somos no íntimo pois estas tem um valor inestimável, muito mais do que qualquer fortuna milionária e não podem sofrer qualquer abalo econômico ou ser roubada por alguém. Isto sim, é que durará para sempre, mesmo após a perda da beleza e do dinheiro. Assim, tanto Raphaella como Philip, nossos personagens, cultivam e dão valor a tesouros perecíveis e temporários, que são coisas vãs e pouca vantagem tem um sobre o outro, não podendo eu ao final responder a pergunta título, qual dura mais, pois vai depender muito dos envolvidos e das circunstâncias.
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