É famosa a história dos Irmãos Grimm, que conta a lenda de Branca de Neve, uma princesa, que foi encantada por sua ciumenta madrasta após morder uma maçã, passando a maior parte de seu tempo dormindo, como se estivesse morta. O encanto só foi quebrado quando um príncipe a beijou, despertando-a daquele sono profundo. Deixando a parte folclórica e lendária de lado, nós muitas vezes ficamos neste estado de êxtase, como que hipnotizado por alguém ou alguma coisa. Na verdade é como se tivéssemos mordido uma maçã simbólica e padecemos de um encantamento. Tal estado produz a perda do raciocínio, de agir com razoabilidade, de tomar as precauções que se deve ter ao se relacionar ou interagir com alguém. O encantamento é muito comum no início de qualquer namoro, onde as pessoas vivem um momento mágico, ficando num estado de hipnose, quase levitando, como se tivesse os pés nas nuvens, onde a frase mais comum é "só vou se você for". Mas como todo estado extraordinário, um dia chega a sua saturação, por que ninguém consegue viver em êxtase o tempo todo. Passada a novidade, aí vem a fase das exigências, das cobranças, do policiamento, das desconfianças, de não se acreditar naquilo que o outro diz. Muitos conseguem contornar e estancar as dificuldades nesta fase, estabilizam o relacionamento e agora mais maduros, sem as ilusões da fase da paixão cega, prosseguem rumo a uma união feliz. A maioria não. Ao começarem a fase das desconfianças e das cobranças, o amor que ainda é superficial, baseado mais na aparência, do que na compatibilidade de gênios e de terem algo em comum, não tem suporte para enfrentar a crise e há o rompimento, pondo fim há algo que parecia indestrutível. O fim do encantamento quando é depois da união é muito triste e frustrante para a parte que investiu tudo naquela relação, achando que havia encontrado a sua cara metade e que o amor duraria para toda vida. Para tal pessoa, foram castelos construídos na areia, que não resistiu a uma onda um pouco mais forte, ruindo fragorosamente, pondo abaixo, sonhos, projetos a dois e uma vida em comum. Por isto, antes de investir em qualquer relacionamento é bom fazer perguntas escrutinadoras, para ver se você não está comprando a mercadoria, apenas pelo belo embrulho que a envolve, sem ter a mínima noção sobre o conteúdo, normalmente oculto aos nossos olhos encantados, mas não ao de outros, que nos querem muito bem e possuem a capacidade de ver o que o nosso coração não enxerga ou não quer ver e que poderiam nos ajudar a não sermos assim tão enganados pelo nosso traiçoeiro e desesperado coração.
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