Esta semana fui convidado para fazer um lanche à noite na casa da sogra de meu filho mais novo. Depois de saborear uma boa comida de sal, a avó da minha nora, veio com uma sobremesa que ela disse ter feito especialmente para mim, era um manjar com calda de ameixas, aliás muito bem feito, dando-lhe eu os parabéns por esta deliciosa sobremesa feita com muito carinho e amor. Tal manjar me remeteu a um tempo em que tinha minha mãe junto a mim. Toda vez que minha mãe, dona Liana, era convidada para ir a alguma festa, ou apenas visitar uma pessoa amiga, ela ao invés de só levar presentes ou flores, levava como seu carro chefe e verdadeiro conquistador de amizades por seus dotes culinários, um delicioso manjar. Não era um manjar comum, desses que são feitos usando pacotes de coco já ralado ou leite de coco comprado em garrafas nos supermercados. O seu manjar era totalmente artesanal. Primeiramente ela ia a um armazém, desses que vendem atacado e varejo, para adquirir cocos maduros que vinham em sacos de sessenta quilos, os cocos eram escolhidos a dedo, depois de ela os balançar e ouvir o barulho de seu líquido dentro, para ver se prestavam ou não. Depois já em casa, ela passava a fura-los com um grosso prego para verter a água em vários copos. Após isto, eles eram quebrados, não de forma normal, mas jogando-os várias vezes com toda a força numa calçada de pedra. Depois de partidos, passava a tirar as suas cascas escuras com uma faca afiada, ficando só a polpa dura e branca. Só então eram ralados os seus vários pedaços, não num processador ou liquidificador, como se faz hoje mas à mão num simples ralador de latão aluminizado. Os pedaços enquanto grandes eram fáceis de ralar mas aos poucos iam ficando pequenos e quase que se ralava as unhas junto com os cocos, assim o finalzinho do coco era picado com uma faca. Minha mãe usava dois cocos maduros ralados para cada manjar que fazia. Parte de um deles era para fazer o leite de coco, que era espremido num pano até sair todo o seu sumo. Assim, quando o manjar ficava pronto, possuía uma boa consistência tipo uma polenta e não como um molengo pudim, desta forma podia-se então comer o manjar mastigando os vários pedaços de cocos em seu meio. O manjar ficava tão bom, que a calda de ameixa era dispensável por minha mãe. Não havia ninguém que não apreciava o seu manjar e quase sempre lhe pediam a receita de como fazer um igual. Não sei se ela tinha algum segredo que não revelava a ninguém, ou se era o jeito tosco como ela o fazia, o certo é que seu manjar era inigualável. Lá em casa o que faltava em termos financeiros, sobrava em dotes culinários. Meu pai havia sido ajudante de cozinha no Hotel Glória e também no Copacabana Palace, portanto havia apreendido a cozinhar muito bem e quando ele tinha que cozinhar pra nós por conta de alguma doença ou viagem de minha mãe, ele se esmerava nas refeições, fazendo-nos suspirar por seus quitutes ou quando havia condições em fins de semana, nos deliciava com o seu famoso pato no tucupi. Apesar disto, no quesito sobremesa, o manjar de minha mãe não tinha competidor, era famoso em toda vizinhança, até meu pai, um quase maître de grandes hotéis, reconhecia isto. Por isto, toda vez que alguém me dá como sobremesa um pedaço de manjar, as lembranças felizes de minha querida mãe me vem a memória. Aguardo ansiosamente o dia em que ela puder retornar à vida, através da ressurreição e de novo poder fazer aquele manjar que só ela, dona Liana sabia como fazer e eu poder lhe dizer com muitas lágrimas nos olhos: - Puxa mãe, que saudade enorme deste seu manjar! .
segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
O DELICIOSO MANJAR DE DONA LIANA, MINHA MÃE
Esta semana fui convidado para fazer um lanche à noite na casa da sogra de meu filho mais novo. Depois de saborear uma boa comida de sal, a avó da minha nora, veio com uma sobremesa que ela disse ter feito especialmente para mim, era um manjar com calda de ameixas, aliás muito bem feito, dando-lhe eu os parabéns por esta deliciosa sobremesa feita com muito carinho e amor. Tal manjar me remeteu a um tempo em que tinha minha mãe junto a mim. Toda vez que minha mãe, dona Liana, era convidada para ir a alguma festa, ou apenas visitar uma pessoa amiga, ela ao invés de só levar presentes ou flores, levava como seu carro chefe e verdadeiro conquistador de amizades por seus dotes culinários, um delicioso manjar. Não era um manjar comum, desses que são feitos usando pacotes de coco já ralado ou leite de coco comprado em garrafas nos supermercados. O seu manjar era totalmente artesanal. Primeiramente ela ia a um armazém, desses que vendem atacado e varejo, para adquirir cocos maduros que vinham em sacos de sessenta quilos, os cocos eram escolhidos a dedo, depois de ela os balançar e ouvir o barulho de seu líquido dentro, para ver se prestavam ou não. Depois já em casa, ela passava a fura-los com um grosso prego para verter a água em vários copos. Após isto, eles eram quebrados, não de forma normal, mas jogando-os várias vezes com toda a força numa calçada de pedra. Depois de partidos, passava a tirar as suas cascas escuras com uma faca afiada, ficando só a polpa dura e branca. Só então eram ralados os seus vários pedaços, não num processador ou liquidificador, como se faz hoje mas à mão num simples ralador de latão aluminizado. Os pedaços enquanto grandes eram fáceis de ralar mas aos poucos iam ficando pequenos e quase que se ralava as unhas junto com os cocos, assim o finalzinho do coco era picado com uma faca. Minha mãe usava dois cocos maduros ralados para cada manjar que fazia. Parte de um deles era para fazer o leite de coco, que era espremido num pano até sair todo o seu sumo. Assim, quando o manjar ficava pronto, possuía uma boa consistência tipo uma polenta e não como um molengo pudim, desta forma podia-se então comer o manjar mastigando os vários pedaços de cocos em seu meio. O manjar ficava tão bom, que a calda de ameixa era dispensável por minha mãe. Não havia ninguém que não apreciava o seu manjar e quase sempre lhe pediam a receita de como fazer um igual. Não sei se ela tinha algum segredo que não revelava a ninguém, ou se era o jeito tosco como ela o fazia, o certo é que seu manjar era inigualável. Lá em casa o que faltava em termos financeiros, sobrava em dotes culinários. Meu pai havia sido ajudante de cozinha no Hotel Glória e também no Copacabana Palace, portanto havia apreendido a cozinhar muito bem e quando ele tinha que cozinhar pra nós por conta de alguma doença ou viagem de minha mãe, ele se esmerava nas refeições, fazendo-nos suspirar por seus quitutes ou quando havia condições em fins de semana, nos deliciava com o seu famoso pato no tucupi. Apesar disto, no quesito sobremesa, o manjar de minha mãe não tinha competidor, era famoso em toda vizinhança, até meu pai, um quase maître de grandes hotéis, reconhecia isto. Por isto, toda vez que alguém me dá como sobremesa um pedaço de manjar, as lembranças felizes de minha querida mãe me vem a memória. Aguardo ansiosamente o dia em que ela puder retornar à vida, através da ressurreição e de novo poder fazer aquele manjar que só ela, dona Liana sabia como fazer e eu poder lhe dizer com muitas lágrimas nos olhos: - Puxa mãe, que saudade enorme deste seu manjar! .
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Me fez lembrar da minha velha mãe ralando o côco pra fazer seus docinhos
ResponderExcluirEra assim mesmo Cesar, que as nossas mães faziam seus doces, na base do ralador manual, uma trabalheira danada, mas que ficava gostoso, isso ficava. Abços!!!
ResponderExcluir